


Como prometido e depois de milhares de emails, sms e telefonemas anónimos a pedirem para o Cacifo começar a fazer o balanço desta época, inicia-se o tríptico Pés (jogadores), Cabeça (treinador) e Mãos (direcção). Mas, numa decisão completamente aleatória – só comparável às de Ronny quando marca livres -, começa-se pela Cabeça. Tem tudo a ver com o facto de o nosso treinador ter dado uma entrevista na TV, onde explicou (quase) tudo.
Ponto prévio importante. O Paulo Bento é o tipo de gajo que gostava de ter ao lado numa batalha, daquelas em que se dava um tiro e depois tinha de se correr para espetar a baioneta. Gostava de ter o Paulo Bento a correr ao meu lado nesse particular momento de vulnerabilidade. Isto diz tudo o que penso do homem.
Como treinador do Sporting, gosto de ter um gajo que diz “eu sempre estive contra separar as bandeiras da formação e das contratações. Porque as bandeiras têm panos e paus. E quando vão os panos, ficam os paus para bater no treinador”. (tema a desenvolver no capítulo sobre as Mãos).
E gosto de um treinador que é levantado em braços por (quase) todos os jogadores depois de uma época em que muitas das suas decisões foram erradas, prejudicaram equipa e jogadores e acentuaram a sua falta de experiência acumulada. É um sinal de que as decisões foram erradas mas tomadas por alguém que se dá ao respeito).
E gosto de um treinador que responde a tudo. Que diz que não quer o guarda-redes sérvio, o Gladstone (sem o dizer, mas deixando implícito), o Purovic. E que quer o Tiuí (perigoso o recurso à alegoria Lisandro no Porto, por via indirecta), o Izmailov, o Grimi e o Vuk (clara a explicação… continuo a achar que um treinador é tão mais competente, quanto consegue recuperar casos graves de egoísmo, em vez de os mandar fora… O desfecho está em aberto…).
E gosto de um treinador que assume o erro e admite lançar o 4X4X2 clássico, conforme os jogadores que entrem e saiam (aqui, já está a preparar o pessoal para a saída do Miguel Veloso, em sintonia com o Soares Franco. Espero que se consiga evitar a catástrofe leonina mais grave desde a semana fatídica de Peseiro: a saída do capitão).
Dito isto, continuo a achar o mesmo que há dois meses. O Sporting está a sofrer há três anos com a falta de experiência do Paulo Bento, traduzida numa teimosia/incapacidade para emendar a mão a tempo de evitar crises prolongadas e que põem tudo em causa. A aposta tardia em Miguel Veloso e a falta de rasgo na Luz, custaram-nos um título de campeão, no ano passado. A falta de capacidade para transformar a equipa tacticamente perante a ausência de Caneira, Nani e Tello, arrastando alguns jogadores na enxurrada do losango, acabou com a nossa corrida ao título no Inverno.
A má época do Sporting na Liga deve-se – também, mas não só – ao facto de Paulo Bento não estar a melhorar o Sporting, mas sim a melhorar no Sporting. O próximo ano é o mais importante da vida do treinador Paulo Bento. O Sporting está a ganhar coisas, os adeptos celebraram o clube no final de duas épocas seguidas. O desempenho supera claramente o dos anos entre o título do JVP e Jardel e o da saída do Peseiro. Isto é indiscutível. E Paulo Bento tem tido piores recursos que Boloni, Fernando Santos e Peseiro. E alguns deles foram sacados por ele do nada. Mas não chega. O fluxo tem de mudar: o Paulo Bento tem de começar a melhorar o Sporting com os ensinamentos que o Sporting já lhe deu.
Já são seis anos sem o escudo de campeão nas camisolas. Mais um, ainda por cima a jogar tão mal como esta época, e a história do Paulo Bento no Sporting vai ter um fim triste. Se o escudo regressar, dar-me-á um gozo particular celebrá-lo ao lado do gajo da baioneta.