Já não há heróis (nem entrevistas com surpresas)

Miguel Garcia, um alentejano que chegou ao Sporting com idade de iniciado, tem o seu nome gravado numa das mais marcantes jornadas futebolísticas de que tenho (temos) memória. Aquele golo, nos instantes finais da meias da Taça UEFA, contra o AZ Alkmaar, tem a capacidade de ainda hoje deixar-me arrepiado sempre que vejo as imagens e provocou em mim uma reacção única: se com a vitória em Vidal Pinheiro chorei descontroladamente, se com os 5-3 aos lampiões ia deitando o coração pela boca, em Alkmaar fiquei em estado de choque.

Aqueles cinco segundos entre a marcação do canto e a cabeçada para a baliza foram de uma enorme brutalidade para a minha relação “razão vs coração”. Se a cabeça se mentalizava para mais uma enorme desilusão, o coração apostava naquele último lance e resultado foi ficar petrificado. Não tive reacção e a verdade é que devo esse momento ao tal Miguel Garcia, entretanto apelidado de Herói de Alkmaar e actualmente no desemprego devido a uma lesão no joelho que colocou um ponto final no seu sonho italiano.

Não vou dizer que considero o Miguel Garcia um grande jogador. É um defesa mediano, esforçado, que tenta cumprir o que lhe pedem e não levanta ondas no balneário quando é suplente. No fundo, não faria pior que o Pedro Silva, portanto também não vou dizer que o veja com condições para fazer parte do plantel do Sporting.
Quero apenas deixar o meu agradecimento ao Miguel, por aquela cabeçada, e desejar que este mau momento que atravessa não dure muito mais tempo.

(a entrevista ao Paulo Bento, ontem, na Sic Notícias, aborreceu-me. Aquele tom de conversinha de café não ajudou, mas o pior foi mesmo conseguir antecipar quase todas as perguntas que lhe iam sendo colocadas. No fundo, só serviu para comprovar, uma vez mais, que temos um treinador com ideias e personalidade fortes, ansioso por, com esforço e dedicação, atingir a glória à frente do Sporting)