Ainda não ouvi uma palavra do nosso presidente. Nada. Viu-o a dirigir-se para a claque, com um tipo de bandeirola de canto erguida, atrás dele. Dizem-me que deu um pólo verde a uma senhora e que saltou ao ritmo de “quem não salta é lampião”, repetindo uma receita de sucesso. Não o vi nem o ouvi mais acerca de um dos maiores insultos feitos ao Sporting por representantes do clube rival.
O Bettencourt não tem culpa do que se passou, cumpriu as regras, foi um bom anfitrião e, acredito, tentou resolver as coisas a quente, directamente com os homólogos lampiões.
O que se passou foi demasiado grave. Com todo o respeito, acredito que só quem lá esteve percebeu mesmo o que se passou. Sol, famílias, campo, um derby, a pérola do novo Sporting, a formação como maior orgulho leonino, novas promessas, a rivalidade, um título. O futebol puro na sua essência maior. O futuro descomplexado à nossa frente, para sarar um passado recente traumatizante. Tudo isto acabou em poucos minutos. Porque o Sporting foi agredido por adeptos do Benfica e insultado pelo maior símbolo do Benfica. E, cereja no topo, ficou um cheirinho a concertação entre arruaceiros e dirigentes rivais, agarrados à perspectiva de uma vitória que salve umas eleições ilegais e fraudulentas.
Aí estava o primeiro verdadeiro teste ao Bettencourt, para provar que é diferente, que a conversa que o elegeu não é da treta. Que ele próprio não é uma treta.
Ora, todas – e sublinho, todas – as reacções leoninas são patéticas. Um representante que nunca ninguém tinha visto (por muito respeito que o seu trabalho na Academia mereça) falar de questões metafísicas e/logísticas, dois comunicados institucionalmente vazios e – inacreditável – fontes anónimas à Lusa!! Do outro lado, tivemos o símbolo do rival a juntar-se aos deliquentes no ataque. Do lado de cá tivemos fontes anónimas a defender, em vez do presidente do clube a contra-atacar.
O presidente que eu queria para o Sporting era o primeiro a dar a cara, minutos depois de ter ouvido o Rui Costa (provavelmente até terá ouvido de viva voz), e a pôr os lampiões numa posição impossível: ou se demarcavam daqueles adeptos e puniam-nos ou deixavam de ter qualquer relação institucional com o Sporting, ficavam sem bilhetes para os derbys em Alvalade e seriam declarados cúmplices de um crime pelo qual teriam de responder em tribunal.
Em vez disso, Bettencourt saltou com a claque, insultou o adversário e desapareceu entre os sobreiros da Academia. E deixou os estados de alma (“os dirigentes do Sporting dizem-se chocados”) para as fontes anónimas. Ainda espero que apareça, defenda a imagem do clube e acabe com a sensação de impunidade que continua a existir de forma generalizada no futebol português. De um presidente do clube eu espero que faça os benfiquistas terem vergonha dos lampiões. E os sportinguistas orgulhosos de serem lagartos.
Fico à espera.