(carta de Carlos Carvalhal, se Carlos Carvalhal fosse eu… ou se eu fosse o Carlos Carvalhal)
Exmos. srs. da direcção da SAD do Sporting,
Com todo o respeito, vão mamar! Mas que merda é esta? Venho para este clube depois de catalogado como segunda escolha, a seguir a um puto que no currículo tem dois títulos como treinador principal no Championship Manager 2005. Não sou apresentado oficialmente, com medo que fizesse má figura. Começo a treinar uma equipa despedaçada, sem vontade de jogar à bola, com o balneário todo partido. E com a sombra do Paulo Bento, de quem os adeptos “ainda vão ter saudades”. Aceito que estou aqui para queimar, mas tenho fé em mim.
Desenvolvo uma relação de confiança com o Sá Pinto, que começou a pôr esta gente na ordem. Começamos a ganhar jogos, com dificuldade, mas a ganhar. Entretanto, vieram três jogadores, mas só um é que se aproveita. Em vésperas do primeiro período de jogos a sério, o director do futebol e o melhor jogador de equipa andam à bofetada e acabam com o pouco ânimo que tinha conseguido construir dentro de campo. Histórias antigas, mal resolvidas, dizem-me.
Somos humilhados contra os rivais e não está cá o presidente para me ajudar. Ando sozinho durante semanas, a levar com os adeptos, com os jornalistas e com os jogadores birrentos. Entretanto, começam a surgir as primeiras notícias que já não fico, que vem o tal puto do CM. Finalmente, consigo que a equipa acredite no meu trabalho e nela própria. Viramos a eliminatória contra o Everton e dizem logo que foi o Costinha. A confiança dos jogadores explode, os meus métodos e escolhas resultam, a equipa joga futebol como não se via há anos, os adeptos estão eufóricos e… de repente… sem ninguém me consultar, expulsa-se o segundo melhor jogador da equipa da Academia e o director do futebol decide partir a loiça toda… sem falar comigo, sem me dizer nada. Somos eliminados por falta de sorte, por falta de jogadores (defesa B) e porque o balneário voltou a estar todo partido.
Tento aguentar o barco, bato o pé pelo Izmailov, sou desautorizado pelo director do futebol (que está cá há umas semanas e já pensa que manda nisto tudo), o presidente não me apoia, voltam a chover notícias da minha saída em dia de jogo. Voltou tudo à estaca zero. E eu desperdicei meses da minha vida, em que passo 24 horas por dia totalmente concentrado no Sporting. Eu vivo na Academia, caralho!
Hoje, acabou. Depois disto, outra vez, já não aguento mais. Vou-me embora. Clube de doidos! Sabe-se tudo nos jornais, há autênticas quadrilhas dentro do clube, a puxar cada uma por si, o departamento médico é uma merda, o balneário está todo podre, há jogadores lamentáveis e outros com traumas sérios e até há adeptos que mereciam era levar umas valentes chapadas para não assobiarem uma equipa com níveis de ansiedade a roçar a patologia. Os próprios adeptos são bipolares!
Enfim, fiquem lá com o novo mourinho que eu vou trabalhar para outro lado. Clube de doidos!
(é pena que o Carvalhal não tenha tomates para fazer isto… era um favor que fazia a ele próprio e, com jeitinho, um serviço bem prestado ao clube).