Nós somos Sporting Clube de Portugal!

Quatro modalidades, quatro títulos europeus. Algo que só Barcelona e CSKA também se podem gabar“. A frase pode ser lida no jornal i, como ponto final de um artigo que sublinha algo que, confesso, nem me dei ao trabalho de ver se os jornais desportivos tinham destacado. Enquanto espero que alguém consiga responder à curiosa pergunta que o Pedro Pita aqui deixou (“Então e o título europeu por equipas de Bilhar de 1999 não entra nessas contas porque carga de água?”), fica o registo de quatro momentos históricos, retirado do artigo já citado:

Futebol. O primeiro dos quatro cantos d’Os Lusíadas sportinguistas
O período mais glorioso do futebol do Sporting já tinha passado e no início da década de 60 tinha sido o Benfica a conquistar a Europa com duas Taças dos Campeões Europeus consecutivas. Em 1963/64, o futebol do Sporting deu o primeiro passo rumo aos títulos europeus em diversas modalidades. A campanha para a Taça das Taças foi triunfal e, com Gentil Cardoso, estabeleceu um recorde que ainda hoje está por bater nas competições europeias: a maior goleada nos 16–1 ao Apoel. O MTK Budapeste foi o adversário da final (3-3), mas o título só foi decidido já com o espanhol Anselmo Fernández no comando técnico, na finalíssima. Aí, foi o canto de Morais a entrar para a história. Destaque também para Mascarenhas, melhor marcador da campanha leonina com onze golos. 

Hóquei em patins. Europa rendida ao talento dos Cinco Magníficos
Portugal dominava nos Europeus e nos Mundiais de hóquei em patins, mas as equipas portuguesas continuavam sem vencer a Liga dos Campeões europeus. De 1966 a 1976, a Espanha dominou com dois títulos do Voltregá, três do Barcelona e seis do Réus. Contudo, em 1977 o Sporting apresentaria à Europa uma das melhores equipas de sempre da história do hóquei em patins. António Ramalhete, João Rendeiro, João Sobrinho, Chana e António Livramento formavam os Cinco Magníficos. No caminho para a final, o Sporting derrotou o Voltregá, bicampeão em título, até disputar a competição com o Villanueva. Depois de perder 0-6 no primeiro jogo (12-3 no conjunto), o guarda-redes Carlos Trullols (da equipa espanhola) desabafou: “Sofri seis golos e devo ter feito uma das melhores exibições da minha vida.”

Atletismo. Projecto com cinco anos atingiu o auge em ano de ouro
Para os adeptos sportinguistas, falar em 2000 é pensar no regresso aos títulos nos campeonatos nacionais de futebol, depois de 17 temporadas sem ganhar. Contudo, no mesmo mês em que Iordanov subiu ao Marquês do Pombal para o equipar com o cachecol do Sporting, a equipa masculina de atletismo de pista conseguiu um feito único para equipas portuguesas: ganhar o título europeu. A rota para alcançar a proeza começou seis anos antes, depois de o Benfica ter dominado por completo o campeonato nacional. Moniz Pereira chegou à direcção no ano seguinte e começou a preparar terreno, com a contratação de atletas como Hélder Ornelas, que vieram a ser decisivos, como Rui Silva, Carlos Calado e Francis Obikwelu, o nigeriano que veio ajudar o Sporting nas provas de velocidade.

Andebol. Paulo Faria na história. Do Sporting e de Portugal
Nunca uma equipa portuguesa de andebol tinha conquistado uma prova europeia. Até este fim-de-semana. O Sporting, orientado por Paulo Faria, eliminou os gregos do Dimou Thermaikou (73-44), os romenos do Stiinta Bacau (53-52) e os eslovenos do RD Slovan (58-56), antes de chegar à final contra os polacos do MMTS Kwidzyn, que nos quartos tinham eliminado o Xico Andebol. Com Bjelanovic, Petric, João Pinto e Pedro Solha (melhor marcador), entre outros, o Sporting conseguiu conquistar a Taça Challenge, algo que o ABC e o Sporting da Horta tinham falhado em 2004/05 e 2005/06, respectivamente. O andebol leonino formou assim o quarto canto d’Os Lusíadas sportinguistas.

Forever

“Por todo o apoio e pelo carinho que tenho recebido dos adeptos, acho difícil sair. Só se surgisse uma proposta irrecusável para mim e para o clube. Se sinto mágoa por ainda não ter sido campeão? Mágoa não, talvez decepção, pois o grupo merecia. Mas tenho convicção de que vamos chegar ao título. O que significa o Sporting para mim? Tudo”, Liedson.

p.s. – eu também adorava festejar um título contigo em campo, rapaz.

Misturas

Há 20 anos, mais coisa menos coisa, Marinho Peres era apresentado como novo treinador do Sporting. Sousa Cintra, o mítico Sousa Cintra, era, então, o nosso presidente e brindou o técnico brasileiro com dois reforços: Bozinovski e Careca, um suposto craque brasileiro que o bom do Cintra apresentou como sendo “uma ‘mestura’ de Pelé e de Eusébio”.

Vem isto a propósito da entrevista que, hoje, o jornal O Jogo publica, com Carlitos, jogador do Vitória de Guimarães que já foi treinado por Mourinho, por Jesus e por Paulo Sérgio. Ora, a propósito da vinda deste último para Alvalade, Carlitos diz um “pote” de coisas capazes de descansar o espírito de qualquer leão mas, melhor que tudo, dá a entender que Paulo Sérgio mistura em si várias das características que valem elogios e títulos aos outros dois treinadores.

No fundo, se Sousa Cintra ainda fosse presidente, teria apresentado Paulo Sérgio com toda a pompa e, do alto do seu metro e cinquenta e quatro, com aquele sorriso típico, teria dito, para quem quisesse ouvir, “este é o treinador que vai levar-nos ao título! É uma ‘mestura’ de Mourinho e de Guardiola! Os sportinguistas podem estar ‘descansades’!”.

Eu, enquanto espero que se confirme a vinda de algum careca ou de alguém com nome terminado em ovsky, vou fechar os olhos e imaginar tudo isto. Quando voltar a abri-los, vou ser capaz de afirmar sem receios que, tal como há 20 anos, vamos ganhar 3-0 na primeira jornada, vamos começar o campeonato com 11 vitórias seguidas e, agora que o Mourinho rumou a Madrid, não haverá Inter que nos pare nas meias da Liga Europa!

Mais do mesmo?

“José Eduardo Bettencourt e Costinha estão… de mãos atadas. Os responsáveis da SAD, que querem dar início a um novo ciclo, triunfante, no Sporting e pretendem dotar o plantel comandado por Paulo Sérgio de argumentos efectivos para a luta pelo título que foge de Alvalade desde 2002, não têm liquidez para atacar o mercado de transferências. Resta-lhes esperar… pelas saídas”, in O Jogo

Adeus, foi um gosto

Dizes que não acreditas no que te está a acontecer no Sporting. Eu também não. Tinhas tudo para ser feliz, um ídolo da torcida, mas foste lentamente consumido pela autoflagelação do clube. E, para sermos justos, também ajudaste à festa, com alguma falta de professionalismo e nenhum sentido colectivo.

Eu gosto de acreditar que um líder a sério consegue arrebanhar todas as ovelhas e conduzi-las, juntas, no mesmo sentido. E que os melhores treinadores são-no precisamente porque não queimam jogadores, melhoram-nos. O teu problema é que tu nunca foste uma ovelha, quando muito, nos teus melhores dias, foste uma ovelha negra. Nos teus piores dias, foste um bode. Expiatório. Para o Paulo Bento foste um exemplo, para mandar lições para dentro do grupo. Só jogaste porque eras popular na bancada e porque não havia mais ninguém. Para o Carvalhal, foste o dote que ele precisava dar ao grupo, alguém sacrificado para apaziguar a contestação interna dos senadores ao seu trabalho. É claro que te puseste a jeito, egoísta, individualista. Uma qualidade quando se desequilibra, integrado num colectivo, mas um terrível defeito quando se perdem bolas, sozinho, abandonado pelos outros.

Enfim, pouco importa de quem foi a culpa. Vais-te embora. Curiosamente, no mesmo barco em que vai o teu exacto oposto, o jogador trabalhador, cumpridor, pouco individualista, mas igualmente bom (Izmailov). Não deixa de ser irónico que os dois melhores criativos que passaram por Alvalade nos últimos anos saiam em desgraça do clube, apesar de serem personagens totalmente diferentes. Talvez só assim se perceba que a responsabilidade dos jogadores é inversamente proporcional à competência de quem os lidera.

Um bem haja Vuk, gostei muito de te ver de verde-e-branco. Acompanharei sempre o teu percurso, és daqueles que nunca se esquece, para o bem ou para o mal. Desejo-te sorte e espero que vás para bem longe deste rectângulo.