Haveria, e há, muito a dizer sobre a participação de Portugal neste Mundial 2010. E, no centro de grande parte das discussões estará Carlos Queiróz, o seleccionador mais bronzeado de todos os que estiveram na África do Sul. Podíamos falar do regresso da porcaria, perdão, dos casos (Nani, Simão vs Ronaldo, Deco, Hugo Almeida) à selecção. Podíamos falar das disparatadas opções tácticas (Pepe nunca passará de um trolha armado em médio centro, Ricardo Costa nunca na vida poderá ser lateral, Ronaldo não é ponta de lança, Danny não é médio/ala). Podíamos falar da imbecilidade que é colocar a braçadeira de capitão no braço de Cristiano Ronaldo, craque, é verdade, mas sem perfil para desempenhar tal função (Messi não é capitão da Argentina, Villa não é capitão da Espanha, Sneijder não é capitão da Holanda, Müller não é capitão da Alemanha, Kaká não é capitão do Brasil… Maradona, houve apenas um).
Eu sinceramente, prefiro falar do regresso do Portugal pequenino aquele que, pensava eu, tinha começado a ser defintivamente enterrado no Euro 2000.
Explicar a derrota de ontem com a qualidade da selecção espanhola, é redutor. Simplista, até. Sim, são campeões da Europa, mas será desonesto afirmar que está é a mesma Espanha que conquistou o Euro, há dois anos. Mais, afirmar que perdemos apenas 1-0 é não ter um pingo de vergonha na cara e esquecer que, se não fosse um tal de Eduardo com olhar desesperado para o que se passava à sua frente, tínhamos sido enxovalhados pela tal Espanha que é boa, sim senhora, mas não é assim tão boa.
E o que fizemos nós para ganhar o jogo? Nada, digo eu. O possível, diz o tal treinador campeão do bronze, com a distinta lata de sublinhar que trocou trinco por trinco e avançado por avançado, deixando Deco no banco, porque… era preciso atacar. Ora, a não ser que eu seja um analfabeto futebolístico, atacar foi, precisamente, aquilo que eu não vi a selecção fazer durante este Mundial, exceptuando o vendaval sobre a pobre Coreia do Norte naquele que, e vejam lá as merdas em que eu reparo, foi o único jogo onde tivemos dois laterais capazes de atacar (Coentrão e Miguel).
Contra a Costa do Marfim, o seleccionador ficou orgulhoso do empenho dos jogadores. Contra a Coreia, achou que estava a dar uma lambada a todos os críticos e até arranjou um sotaque novo. Contra o Brasil, jogo em que se contam pelos dedos o número de vezes em que vi a cor do equipamento do redes brasileiro, em que jogámos em 4-5-1 e onde, desde o apito inicial, assumimos que pouco ou nada interessava lutar pelo primeiro lugar no grupo, voltou a ficar orgulhoso. Ontem, depois de 90 minutos onde a nossa melhor oportunidade foi um quase auto-golo, afirmou que os jogadores tinham sido magníficos e que a selecção nacional despedia-se do Mundial de cabeça erguida.
Agora, surpreendam-se. Eu concordo com Queiróz. Portugal não podia ter abandonado a África do Sul com a cabeça mais erguida. Aliás, há uma década que não nos via com a cabeça tão erguida. Não de orgulho, antes por, consecutivamente, termos entrado em campo a olhar para cima, assumindo ser um Portugal pequenino e assustado, refugiado no seu meio-campo, à espera que uma qualquer pedrada saída de uma fisga inesperada fosse capaz de derrubar os supostos gigantes, que não tivemos coragem de enfrentar olhos nos olhos.