Mas Quem Será o Pai da Criança?

Como dizia a letra da canção que tocou em tudo o que foi baile de verão,”Mas quem será o pai da Criança”?

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Na realidade, e ao que tudo indica, a resposta é fácil. Digamos que o pai da criança é o José Eduardo Bettencourt. A mãe não interessa. Uma rameira qualquer, provavelmente. Padrinhos é o que não falta à criança. Costinha, Couceiro, Roquette, Dias da Cunha, Soares Franco, Rogério Alves, Orgãos Sociais do Sporting, Conselho Leonino, BES, BCP, Paulo Bento, Carlos Carvalhal, Paulo Sérgio, Dias Ferreira, Rui Oliveira e Costa e Eduardo Barroso.

A família é numerosa e corro o risco de deixar alguém de fora. Perdoem-me, por isso. Mas todos estes, directa ou indirectamente, são responsáveios por terem deixado o menino nas nossas mãos.

E quem é esta criança?

É o Sporting. Um clube catatónico. Com uma Direcção demissionária mas que se acha na legitimidade de gerir com um critério mais do que duvidoso. Autora moral dos maiores atentados futebolísticos dos últimos anos:

Sem Liedson, valor e símbolo do clube. Incapaz de o vender no melhor momento. Incapaz, em alternativa, de o segurar e fazê-lo terminar a carreira no clube. Incapaz de entender que o mesmo estava na curva descendente da carreira há anos sem nunca ter demonstrado vontade e perícia para garantir a sua natural sucessão. Incapaz de entender que mesmo na curva descendente da carreira este Liedson é mehor com uma perna de pau do que todos os outros que ficaram e a quem se convencionou chamar de atacantes.

Sem Moutinho, capitão e símbolo do clube. Incapaz de o vender quando o valor de mercado apontava noutra direcção. Incapaz de o fazer crescer enquanto futebolista. Incapaz de o contrariar e apresentar-lhe um projecto vencedor. Aceitar com naturalidade a sua ida para um rival directo.

Sem Izmailov, valor e símbolo da arte de bem jogar. O único verdadeiro desequilibrador do plantel. Incapaz de garantir uma estrutura que o fizesse sentir cómodo. Abrindo frentes de batalha numa questão onde a guerra estava perdida à partida.

Sem um plantel competitivo e sem futuro à vista.

Sem símbolos e jogadores do passado entregues à causa.

Com menos adeptos e menos sócios.

Mais longe do primeiro lugar e da Champions League.

Refém da Banca, da Olivedesportos, do Jorge Mendes e do Pinto da Costa.

Com um estádio novo cheio de bicho e caruncho.

Submerso num profundo coma em que a cultura da impunidade se instalou e viciou toda a gente desde o Presidente ao gajo do torniquete.

Na realidade, pouca importa saber quem o pai da criança. Porque na verdade, o menino está nas nossas mãos. E é a nós, sócios e adeptos do Sporting, quem cabe a difícil missão de o educar e fazer crescer nas melhores condições possíveis.

Adeus

E obrigado. Tudo o resto fica para depois.

Para já, ficam apenas as memórias boas. Especialmente aquelas que a fotografia ilustra.

Tudo o resto fica para depois.

(Actualização: em jeito de homenagem deixo este texto, de Abril de 2008, como testemunho da história que o Liedson ajudou a construir no meu imaginário leonino dos últimos anos… e onde se funda o meu agradecimento).

Respirar fundo

A mesma gente que deixou o capitão do Sportig sair para o Porto prepara-se para vender ao desbarato, quando está fragilizada institucionalmente, sem legitimidade executiva, contra a vontade do treinador e de todos os adeptos, o jogador mais importante (para o bem e o mal) do Sporting nos últimos oito anos…

Vamos acreditar que o bom senso prevalecerá. E que o Liedson ganha mais esta batalha de poder e dinheiro dentro do Sporting. Porque senão…

… respirar fundo.

Temos homem (resta saber até quando)


Da última vez que me referi a Rui Patrício num post, escrevi o seguinte: «não quero, igualmente, deixar de elogiar o Rui Patrício. Cresce de época para época e, continuo a dizer, se tivesse à sua frente uma defesa ao estilo das que protegeram o mediano Baía, por certo não teria tantos a apontarem-lhe o dedo como sendo responsável por grande parte dos males que nos apoquentam».

Ora o jogo da passada segunda-feira, nos Barreiros, no mesmo estádio onde se estreou na equipa principal defendendo um penalti, só vem confirmar esta ideia de crescimento efectivo do nosso guarda-redes. Continua a ter falhas de concentração e a levar golos estúpidos? Sim, continua (basta pensar naquele remate de meio-campo, contra o Paços), mas é bom não esquecermos que estamos a falar de um jogador prestes a completar 23 anos, numa posição em que atingirá a maturidade e a plenitude das suas capacidades lá para os 28.

A pergunta que fica, para além da ideia de que esta evolução podia ser ainda maior se fosse treinado e treinasse com mestres na arte de defender (e não duvido que seja importante a presença do alemão nos treinos, mesmo não sendo um mestre), é: seremos nós capazes de ser pacientes e de transformar o futuro redes da selecção, num símbolo do Sporting?

“Como digo aos meus amigos, se fosse fácil eu não estaria aqui”

Caro Paulo,

Acho, desde o início, que não és treinador para o Sporting. Para o que o Sporting precisa nesta fase da sua vida. Acho que precisas mais do Sporting, como os outros antes de ti. O Sporting precisa de um treinador que só precise de estar de pé para merecer o respeito imediato dos jogadores, dirigentes e adeptos. Um gajo com estatuto, carisma e títulos.

Mas tu não tens culpa disso. Chamaram-te para isto e tu vieste. Tramaram-te a época ainda antes de cá chegares, mas provavelmente a tua única grande responsabilidade foi aceitar tudo, sem reclamar ou bater com a porta. Como os outros. Depois, ficaste todo nu no meio do supermercado e logo na zona das frutas. Ficou a nu a tua inconsistência táctica, falta de génio, falta de categoria, a tua teimosia, insegurança…

… mas basta dos teus problemas. Tal como os outros dois gajos antes de ti, és um tipo porreiro, trabalhador, pareces honesto e és humilde. Conseguiste que os jogadores corressem aquele metro extra. É pena que o façam na direcção ou timing errados. Hoje correu-te tudo bem. Fizeste coisas que não gostei, mas saiu-te bem. O Patrício, o teu guarda-redes, salvou o Sporting, o Vukcevic na direita foi o melhor da primeira parte, o trio de meio campo fechou bem e protegeu a defesa, o Zapater funcionou bem como primeiro “trailer” na área, o terceiro central “trancou” o jogo no momento mais delicado, o Valdés solto atrás do Liedson voltou a desequilibrar.

Ainda assim, foi a tua conversa no flash-interview que me levou a escrever-te isto: obrigado. Não deve ser fácil. Trabalhar com a consciência que o Sporting acabou para ti, num balneário que deve estar pesado, com gente a pensar na sua vida fora do Sporting, com “muita gente a posicionar-se” dentro do Sporting, como disseste. Mas desde o terramoto, a equipa continuou a trabalhar em campo e da mesma forma: frágil com os mais fortes, forte com os mais fracos. A primeira parte desta equação já não muda, a segunda só depende do teu trabalho.

O presente do Sporting não vai ficar na história do clube, a não ser pelas piores razões, pelas novas humilhações, derrotas, frustrações, desesperos. Tu és o único que pode impedir isso e por nenhuma outra razão que não seja o teu profissionalismo e carácter. Já não há glória para ti. Só pode haver vergonha. Ir todos os dias com essa missão para Alcochete – evitar a vergonha – não é para todos.

“Se fosse fácil eu não estaria aqui”, disseste. Pois, essa é a tua ironia. Tu não foste capaz de tornar as coisas mais fáceis, até para ti. Mas outros que o fazem sistematicamente noutros clubes, se calhar não conseguiriam fazer o que estás a fazer no Sporting agora. Eu gostava de ter os outros, porque era sinal que não precisaríamos de homens como tu para sobreviver na tempestade. Mas como os outros ainda ninguém foi buscar e tu ainda cá estás:

Bem haja.