Pelas bancadas de Alvalade, cada vez mais verdes, há um cântico que começa a fazer-se ouvir. “Isto é Sporting”, incita o topo sul, convidando o resto do estádio a entoar algo que vai para lá do mero ritmo de claque. Isto é um sentimento que, de jogo para jogo, se vai apoderando de todos nós, leões que encontram na sua equipa o espelhar da máxima que tem passado de geração em geração. O esforço, a devoção, a dedicação estão lá, combinadas de tal forma que somos obrigados a acreditar que cada um destes passos tem tudo para conduzir-nos à glória.
E, hoje, frente ao nosso adversário direto no grupo, a coragem foi o primeiro sentimento a ser transmitido. Domingos lançava Matias a titular (bom jogo, trabalhando para a equipa como nunca o vi fazer), mandando às malvas aquela forma de estar tão portuguesa que faz com que, em jogos contra equipas mais complicadas, se altere a identidade em função de um demasiado respeito e de um exasperante sentimento de inferioridade. Pese a mensagem, até nem entrámos bem. Receosos, diria mesmo, oferecendo os dez primeiros minutos a uma Lazio que parecia mais bem encaixada em nós do que vice versa.
O safanão veio do pé esquerdo de um argentino, Insua, cada vez mais aquele lateral que nos enche as medidas. A bomba foi parada pelo redes, mas ficou o aviso. Pouco depois, do pé direito de Capel (que saudades de ver alguém saber centrar) sairia o centro para o desvio artístico (agora é que te foderam, oh Postiga) do lobo com nome de caçador de vampiros. Alvalade agitava-se (que saudades de ver tanta cara feliz), enquanto a réplica italiana dos manos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum praguejava. Tanto ou tão pouco, que um fantasma antigo acabaria por fazer-se convidado. Livre, tudo a dormir, golo daquele cabrão alemão.
Durou pouco, a visita, logo espantada pelo movimento de uma cobra peruana (há ali tanto de Nani, não há?) que lançou veneno para os pés do lobo. A bola saiu a razar o poste direito da baliza italiana, o mesmo que, volvidos dois minutos, viu nova bomba de Insua só parar presa nas redes. Equipa e adeptos unidos num festejo sincero, que nos levou para o intervalo com a certeza de que a noite seria nossa.
A fé foi posta à prova logo a abrir a segunda metade, quando o tal argentino canhoto foi expulso (vá lá saber-se porque é que o Cissé e o André Dias não viram segundo amarelo), mas por essa altura já Rinaudo estava em todo o lado (há quem lhe chame Deus, não é verdade?), já o Capitão Ogushi usava o escudo para rechaçar toda e qualquer bola, já Schaars vestia a pele de homem-invisível, já Polga encarnava qualquer outro super herói (Kick Ass?) e, imagine-se, até a estrelinha, que não a do escudo do capitão américa, vestia de verde e branco, desviando para a barra e para fora dois lances de golo feito. Nas bancas, mais de trinta mil gargantas faziam o resto, mostrando que aquela célebre frase “o Sporting somos nós”, faz todo o sentido se completada com um sentido e sincero “todos!”.