Sonhar com os pés no chão

«No Sporting, sempre me ensinaram que nunca se desiste»

A frase é de Ricardo Sá Pinto e parece ter alastrado a todo o plantel. Mais, parece ter subido as escadas, antes amarelas, invadido os bolsos dos adeptos e contagiado grande parte dos restantes Leões. Tanto, que há já quem arrisque cenários tão belos que terminam num Portugal vestido de verde e branco.
Eu sempre me considerei uma pessoa positiva. Sonhadora, mesmo. E estarei a ser hipócrita se vos disser que já não me passou pela cabeça um final de época mais histórico do que a própria história. Mas, a frio, sou obrigado a colocar os pés bem assentes na terra.

Ok, partamos para um mundo perfeito. Neste fim-de-semana, Benfica e Porto empatam. Braga perde na Choupana e o Marítimo perde em Guimarães. Nós ganhamos em Setúbal, claro. Assim, de repente, deixamos os insulares para trás, ficamos a cinco pontos do terceiro e a nove dos primeiros. Será impossível não deixar a mente vaguear mas, ainda assim, estou em crer que o que fará mais sentido é cerrarmos os dentes e apostarmos tudo no terceiro lugar, o tal que dá acesso à pré da Champions. Isso, sim, parece-me possível alcançar, mesmo sabendo que não dependemos de nós, que o Braga está a jogar bem, que os nossos novos princípios de jogo estão longe de estar assimilados e que as malditas lesões parecem não ter fim (agora foi Capel).

No fundo, faria minhas as palavras de Onyewu. «Primeiro faz o que é necessário. Depois o possível. Quando te deres conta, estás a fazer o impossível!».
E a verdade é que, há duas  ou três semanas, chegar ao lugar menos brilhante do pódio já nos parecia tarefa demasiada.

hoje escreves tu: «Um pouco mais de verde»

Todas as quartas, a voz dos cacifeiros salta da caixa de comenários para a primeira página, naquela que considero uma forma de enriquecer o blogue, de reforçar o Sportinguismo e de agradecer a todos os que, diariamente, ajudam a fazer do Cacifo aquilo que ele é ( quem quiser saber as regras, clique aqui).
E o de hoje tem a particularidade de ser escrito por uma Leoa, que assim se torna na primeira mulher a assinar um post no Cacifo. Um grande post, diria eu, subindo a fasquia em relação ao que já de bom tinha sido escrito na primeira semana e aumentando a responsabilidade do escriba que se segue: Oscar Neves.


Um pouco mais de verde
by Lioness

Eram as Barbies. Os laços e as fitinhas. Os Nenucos, nababos numa corte de bonecas. Os tachinhos, os pratinhos, as chaveninhas e os bulezinhos, todos com a pega do diminutivo que (só) cabe numa cozinha em ponto pequeno. E antes que a janela se feche com a pergunta irritada – mas porque “raio” (ou uma caralhada que o valha*) é que eu estou a ler sobre brinquedos de criança (de miúda, ainda por cima!) num blogue sobre o Sporting??!! Por nada. Ou talvez por tudo.

Ao ver o Sá Pinto a cirandar junto ao banco, na passada quinta-feira, enquanto os arruaceiros do Legia nos tentavam escavar o estádio – bem que podiam ter emprestado um centésimo da agressividade ao Juskowiak, podia ser que ainda tivesse marcado mais uns golitos quando por cá passou – dei por mim a pensar não no instante em que me tornei sportinguista, porque não me lembro, mas no exato momento em que tomei consciência disso. E porquê puxar o fio ao novelo das memórias, em vez de gritar, como quem tenta coser o fio de jogo esgarçado da nossa ainda frágil equipa, a ver se remenda em campo os buracos que outros rasgam nos bastidores? Porque o Sá Pinto estava lá, nesse exato momento de que vos falo. Porque nesta passada quinta-feira – 18 anos depois – nos voltámos a encontrar. Mas essencialmente porque continuo a crer (passo a imodéstia) que é por pedaços de história comum como esta que ainda sentamos os dedos nas teclas para escrever sobre o Sporting, como se corrêssemos esbaforidos pelo campo, rumo à baliza. E continuamos a olhar, mesmo quando as vitórias fazem gazeta, para o nosso lugar no estádio como o recanto mais confortável da nossa casa, apesar da cadeira ser dura, de estar um frio do camandro, do gajo da frente não se baixar nem por um segundo e do Izmailov ter falhado aquele golo de baliza aberta, como é que possível, car…aças?! [E sim, bem sei que ele agora se redimiu].

Voltemos às Barbies. Aos lacinhos, às fitinhas e por aí adiante. No tsunami cor-de-rosa que despencava sobre o meu quarto de miúda era difícil manter a cabeça à tona. Foi então que o meu pai – sportinguista dos quatro costados, mas pouco dado a evangelizações à força – resolveu resgatar-me, com uma pincelada verde. Subtil, mas a tinta permanente. Único filho homem no meio de duas irmãs, sem sobrinhos por perto, com um sogro que ligava pouco à bola e sem filho varão para dar continuidade à linhagem sportinguista, apostou que sairia da boca da filha mais nova o rugido de leão (de leoa, neste caso) que tanto ansiou ouvir. E acertou na mouche.

Talvez porque me tenha ensinado a ler nas páginas d’A Bola – já sei que vão dizer que é o jornal dos “lampiões”, mas para mim ler A Bola é como quando mascávamos pastilhas Gorila quando éramos miúdos: sabíamos que aquilo nos ia deixar um buraco nos dentes e outro no estômago do tamanho do Grand Canyon, mas atafulhávamos a boca com aquela porcaria na mesma – ou porque me via devorar livros como o Maniche devora javalis (ou seria o Obélix? Não, esse era um bocadinho mais magrinho), o meu pai ofereceu-me aquilo que, no Sporting havia de mais parecido com um livro (pois, há o Almanaque, mas, lá em casa, almanaques só o Borda d’Água, para saber para que lado sopra o cabelo do Paulo Bento): a caderneta de cromos do Sporting, época 1994/95. A minha primeira caderneta. Tinha eu 6 anos, e uma vida pintada a verde pela frente

Nas janelas numeradas colaram-se primeiro o verso dos autocolantes e depois os meus sonhos. Mal sabia eu que as meninas não jogam à bola – na verdade jogam, eu é que não, que tenho o talento futebolístico de uma love child do King com o Michael Thomas – e já me imaginava dentro das quatro linhas a fazer o gosto ao pé. Ao meu lado, o Sá Pinto, (ainda) com os caninos afiados, como um leão faminto, o Naybet e os seus canudinhos – «Pai, não gozam com ele por ter cabelo de menina? Achas? Levavam logo um papo-seco nas trombas, que ele não é de se ficar!», o Marco Aurélio que me acompanhou até à véspera do primeiro campeonato, o Nuno Valente quando começou a fazer a dieta do Maniche, o Figo com uma farta cabeleira e sem tanta peneira, o Peixe já fora de água, o Costinha aos domingos à tarde, na baliza, com o seu chapéu, o Cintra que nos dá o mote e o Paulinho que nos empresta o Cacifo, o Balakov que o meu pai me ensinou a tratar pelos dois nomes, «como se tratam os génios», e tantos outros de boa e má memória. (Entretanto descobri noutro blogue esta foto, que rematava a caderneta).

E eu que olhava para todos eles, cheia de vontade que o meu pai me levasse mais uma vez (só mais uma!) ao velhinho Alvalade. Como agora, não éramos campeões de nada, a não ser do Queijo Castelões, mas havia garra, carisma, o célebre (e desculpem-me o tom carroceiro) «até os comemos, caralho» (digo eu agora, que na altura desconhecia o vernáculo).
Havia o esforço, a dedicação e a devoção que voltei a ver no rosto do Sá Pinto, 18 anos depois (e é claro que já tinha visto antes, mas ainda não ao leme deste barco desgovernado que tem sido o nosso Sporting, nos últimos tempos). Às vezes, como julgo que aconteça com ele, também me apetece saltar para o campo, abanar os jogadores e dizer-lhes, ao jeito do Jorge Perestrelo, mas adaptado a quem lhe falta a barriguinha: «até eu, com as minhas pernas de alicate, fazia melhor, porra!».

Tal como o Sá Pinto, que porventura não chegou ao lugar que (não tenho dúvidas) sempre quis seu na hora mais certa, talvez também eu não seja a pessoa mais indicada para estar a falar sobre o meu clube, nas quatro linhas de um Cacifo onde provavelmente a maioria dos que aqui se acotovelam me ganham em anos de sportinguismo, em conhecimento futebolístico e em jeito para a bola. Mas é isto que, para mim, é ser do Sporting. É não virar a cara a luta, é ser maior que o tamanho dos nossos sonhos, para pôr os pesadelos atrás das costas. E é arriscarmo-nos a fazer figura de urso (ou ursa leoa) pelo Sporting – que é o nosso grande amor – de sorriso até à testa.

Finalmente, é por isso que depois do esforço, da dedicação e da devoção, acredito poder estar a despontar (mesmo que ainda muito longe) o prenúncio da glória. Que o Sá Pinto esteja no lugar dele, e eu a espreitá-lo do meu, no topo Sul, com a minha velha caderneta debaixo do braço da memória, é o que desejo. E que estejamos todos a celebrar um pouco mais de verde.

*pois é, eu também li o comentário ao anterior “hoje escreves tu”, sobre como o Cacifo se está a tornar numa espécie de cruzamento entre as entrevistas do Daniel Oliveira e o programa As Tardes da Júlia. E aos que partilham dessa opinião, deixo o meu mais sincero: aprendam a ler, foda-se!

Estrela da semana: Izmailov

É, provavelmente, o jogador mais consensual do plantel do Sporting (sim, mais do que Rinaudo). Não conheço um único adepto que não aplauda as suas qualidade técnicas, o seu profissionalismo, o seu espírito de não desistir perante as adversidades. E, assim sem pensar muito, diria que quase todos os Sportinguistas que conheço o consideram o melhor jogador do plantel, opinião partilhada por inúmeros adeptos de clubes adversários.
Não fossem as lesões, Izmailov, Marat para treinadores e colegas, estaria, anualmente e sem grande esforço, entre os três melhores jogadores da nossa Liga. Com uma inteligência táctica bem acima da média, capaz de perceber, enquanto recebe uma bola de costas para o meio-campo adversário, se a melhor opção é virar-se para a linha ou seguir para terrenos mais interiores, é, ainda, dono de um toque de bola elegante que lhe permite jogar ao primeiro toque (escola russa) e de um repertório técnico que lhe dá todas as condições para apostar no lance individual. A isso alia a capacidade de remate, a inteligência para gerir ritmos de jogo e a personalidade que lhe permite não se esconder quando é necessário alguém que assuma o jogo. E, a própósito de personalidade, creio que a forma como colegas, treinadores e adeptos falam dele (e como têm vivido os infortúnios de uma carreira que tinha tudo para ser brilhante), dispensa grandes comentários.

Agora, depois de um calvário de lesões e de tentativas frustradas de regressar à competição, Izma parece estar de regresso. Como quase sempre aconteceu, bastaram alguns minutos nas pernas para começar a fazer a diferença. O golo frente ao Rio Ave, encerra em si todo o Izmailov de quem falei acima. Até a forma como «camarada Marat» caminha para a baliza, respirando como um pugilista, faz dele um jogador único. Para mim, é um privilégio poder vê-lo de Leão ao peito.

Pagar na mesma moeda?

Para nós, adeptos, fez confusão a forma como, de semana para semana, Domingos ia atribuindo as culpas dos maus resultados aos jogadores. E, pese a forma como nunca chegou a espirrar nada cá para fora, é de acreditar que nem todos estivessem ao lado do treinador.
Não deixa de ser curioso que, agora, com Sá Pinto ao comando, comecemos a ouvir frases como a de João Pereira, dizendo que no tempo de Paciência a bola parecia que tinha picos (sim, depois veio dizer que não tinha nada a ver com o treinador), a de Carriço («Sá Pinto é da casa e, como eu, sente o clube. No fundo trouxe muita motivação, ambição, o grupo está unido e demos as mãos pelo mesmo objetivo») ou a de Marcelo («Com o Sá Pinto todos têm de correr, todos têm de marcar»).
Eu cá não sou de intrigas, mas parece-me que há aqui uma tentiva de deixar bem claro que, afinal, a culpa não era só de quem entrava em campo.

 

Da Rússia com amor

Se motivos faltassem para alegrar-nos, bastaria o golo de Izmailov e o facto de ter jogado 80 minutos para deixar-nos sorridentes. Porquê? Primeiro, porque é de golos destes que os adeptos gostam; segundo porque o nosso futebol ganha uma dimensão superior se pudermos contar com o czar (aquela mudança de flanco, pouco antes de sair, percebendo que o espaço vazio na direita tinha tudo para ser de Elias é fantástica em alguém que já estava esgotado). E para lá do que se ganha em jogo interior quando Izma resolve vir para dentro, não posso deixar de sublinhar os minutos em que esteve na esquerda, formando com Insua e Schaars um trio que me deixou francamente de água na boca.

Mas existiram mais notas positivas. Desde logo, a melhoria exibicional da equipa. Entrámos bem, criámos situações de golo. Fomos mais rápidos a transportar a posse de bola para perto da área adversária (se aprimorarmos esta capacidade de ter a bola, podemos estar a assistir ao início de muitas alegrias). Depois, Elias. Muito bom jogo, com uma intensidade bem acima da média e a funcionar como elástico. Carriço também em destaque, limpando toda aquela zona. E uma dupla de centrais a entender-se à frente de um Boeck que confirmou podermos estar descansados quanto às opções para a baliza.

É uma pena haver jogos de selecção durante a semana, pois seria uma excelente ocasião para Sá Pinto poder ter tempo para trabalhar aquilo que pretende para a equipa, mas fica uma certeza: o Leão dá mostrar de querer voltar a rugir. E, se o conseguir, vai ser curioso assistir ao que vai acontecer nos próximos dois meses.

 

O Bloco de Notas do Gabriel Alves – jornada 20

« Queremos ser mais ofensivos, criar mais oportunidades, mas nesta altura temos de ser pragmáticos e vencer jogos. Os resultados é que nos vão devolver essa confiança e essa estabilidade emocional para eles voltarem a praticar o futebol que já praticaram este ano» […] «Em relação ao Matias, é de saudar o enorme esforço que fez. Encara o espirito do que é ser jogador do Sporting, com grande coragem e solidariedade para com os colegas. Percebeu que o Marat estava pior do que ele e decidiu que ia ficar até final».

Julgo que estas palavras de Sá Pinto, após vitória sobre o Légia, traduzem na perfeição aqueles que foram identificados como sendo os primeiros passos a dar no caminho da recuperação e da perseguição dos objectivos mínimos: devolver a alma aos jogadores e somar três pontos. E, até ao momento, isso tem sido conseguido, com a introdução de outro pormenor: a tentativa de ter ao máximo a posse de bola. O mais complicado tem sido transformar essa posse de bola, nalguns casos esmagadora, em várias oportunidades de golo e num futebol capaz de fazer abanar o sistema defensivo adversário.

Mas a verdade é que o mais importante tem sido conseguido e, por mais que identifique o Sporting com bom futebol, hoje voltaria a trocar esse prazer por um outro fundamental: a vitória (até porque o Marítimo ganhou, acho que o Braga vai perder pontos e podemos encurtar a distância para o primeiro lugar. Não, não estou a pensar no título, antes no objectivo que tinha sido traçado de não ficar a 30 pontos de mesmo). Essa vitória será tão mais complicada quanto mais tempo demorarmos a marcar um golo, até porque o Rio Ave é superior ao Paços de Ferreira e tem um treinador que sabe o que anda a fazer na maioria das vezes. Mas, porra, e por mais problemas psicológicos que ainda perdurem, o Sporting tem que assumir o favoritismo frente a uma equipa destas.

Quanto à equipa, é uma merda Carrillo não poder jogar. Eu colocaria Pereirinha de início, com Capel à esquerda, guardando Izma para termos uma opção decente no banco. Aliás, confesso que estranho o não convocar de Arias, tendo em conta as limitações nas alas, mas tudo bem. No meio-campo, e com o regresso de Elias, entregaria a posição seis ao brasileiro, com Schaars e Matías à sua frente e os Andrés no banco, para qualquer eventualidade. Lá atrás, Xandão vai ser titular (e vai marcar) e Boeck dá toda a confiança no lugar de um Patrício com alguns problemas físicos (como se viu na quinta-feira).

Resta dizer que o pontapé de saída vai ser dado quando ainda for dia. E que vai estar sol. Haverá melhor programa para fechar o fim-de-semana?

 

Serviço público

«Quando Dias da Cunha foi eleito presidente do Sporting, depressa se apercebeu da falcatrua que era o nosso futebol. Não sabia para que lado se havia de virar. Fui então contactado pelo seu assessor, Carlos Severino, para ver que disponibilidade tinha para trabalhar directamente com o presidente com a função de o alertar dos perigos que o clube corria. Inicialmente não me mostrei muito interessado, mas por outro lado pensei que poderia lutar por dentro e combater a corrupção, até porque a Polícia Judiciária já me tinha como consultor e não me pagava nada. Aceitei, mediante um bom vencimento e com a condição, por mim proposta, de que se não gostassem do meu trabalho despedia-me sem qualquer tipo de indemnização. Fiquei por lá seis anos, mas no meu segundo ano fomos campeões nacionais, principalmente porque o Sporting sabia com 15 dias de antecedência as armadilhas que lhes estavam a preparar. Um exemplo: 15 dias antes avisei o presidente que no jogo X que antecipava um jogo com o Porto, o árbitro da partida seria fulano e que Beto e Rui Jorge iriam ser espicaçados por esse árbitro durante o encontro para este encontrar motivos para os expulsar. No dia do jogo confirmou-se a minha informação. Num outro caso, num jogo decisivo para a conquista do campeonato, frente ao Boavista, soube que o árbitro da partida tinha ido almoçar com Valentim Loureiro, que era presidente da Liga. Avisei o presidente e todos ficaram em pânico. Não sabiam o que fazer porque não havia provas. Disse-lhes que a única coisa a fazer era Manolo Vidal, antes do jogo, quando fosse entregar as fichas aos árbitros, deveria dizer: “Então o almoço de terça-feira foi bom?” Mais nada. Quando o árbitro ouviu aquela pergunta associou de imediato a intenção do delegado ao jogo e ficou em pânico, contou-me depois Manolo Vidal. Durante esse jogo o árbitro até beneficiou o Sporting e fomos campeões. O árbitro não sabia que provas tínhamos e como era internacional, não colocou a sua carreira em risco. Mas a conquista do campeonato desencadeou uma série de invejas dentro do próprio clube e quando dei por ela estava a lutar contra gente que estava a ser paga pelo clube, mas que queria que este perdesse para conquistarem o poder e poderem fazer os seus negócios. Cheguei mesmo ao ponto de saber que os meus relatórios semanais eram entregues, por gente do Sporting, aos nosso principais inimigos, Porto e Boavista. Não sou nem nunca fui sportinguista e nunca escondi isso. Era apenas o meu trabalho»
[…]
«A primeira coisa que fiz, foi convencer Dias da Cunha de que devia fazer uma aliança com o Benfica se queriam conquistar o poder. Sempre disse que o inimigo do Sporting não era o Benfica, mas o Porto e o Boavista da altura. Consegui. Dias da Cunha fez uma aliança com Luís Filipe Vieira e foi à televisão dizer que as cabeças do sistema eram Pinto da Costa e Valentim Loureiro. Forneci documentos que provavam isso mesmo. O Porto e o Boavista começaram a sentir-se ameaçados e começaram a minar o Sporting por dentro utilizando alguns elementos que hoje continuam no clube. Dias da Cunha não aguentou a pressão e demitiu-se. Pedi a demissão com ele
[…]
«O Porto está zangado com o Sporting e Benfica e a época deles tem sido um desastre, imaginem o que seria se Sporting e Benfica fossem aliados. Tem sido assim ao longos dos 20 anos e os clubes de Lisboa não aprendem. Pinto da Costa é um mestre na acção de dividir para reinar»

Excertos de uma entrevista a Marinho neves, que me parece deveras importante e que merece o meu aplauso ao Cabelo do Aimar.

A estrelinha do Leão sem pernas

Sofrimento. Lesões. Incapacidade de criar situações de golo. Pouco ou nenhum fio de jogo. Uma preparação física inaceitável.
Capacidade de sofrimento. Alguma alma. Vontade de fazer qualquer coisa. A estrelinha a brilhar. Um novamente grande Rui Patrício. E uma entrada cheia de vontade, de Capel.

Resumidamente, é este o estado do nosso Sporting, uma espécie de acamado que teve alta e que deambula, perigosamente, agarrado ao cabide de soro, por uma rua onde os carros ameaçam atingi-lo. Cheio de medo, apelando à alma e repetindo vezes sem conta «eu sou capaz, eu sou capaz», vai fazendo o mais importante: desvia-se dos carros, sem brilho, dando vertiginosos passos na tentativa de chegar a casa. Cada vez que consegue dar um passo mais firme, sorri. E acena aos que o seguem, de coração nas mãos, e que procuram incentivar alguém por quem se apaixonaram loucamente. Eles retribuem o aceno e respiram de alívio. Mas quando a razão consegue sobrepor-se à paixão, estes angustiados seguidores olham para o seu Leão doente e têm plena certeza de que é necessário largar o cabide do soro. Porque os carros que se aproximam exigem mais do que movimentos desconjuntados.

O Bloco de Notas do Gabriel Alves – Liga Europa, 16avos, segunda mão

É um estádio bonito, novo… arejado
Sporting – Légia   
23 Fevereiro 2012
20h05, Estádio José Alvalade

Uma humidade relativa, muito superior a 100%
Noite perfeita para se jogar à bola, residindo a maior dúvida na capacidade do relvado aguentar-se a este ciclo de jogos. Nas bancadas pede-se um casaco e um cachecol para aquecer bem as gargantas, pois os polacos vão querer fazer-se ouvir (e vão querer fazer merda da grossa, quase aposto).

A selecção do Mali tem um futebol com perfume selvagem e com um odor realmente fresco…
Não acredito que o Legia chegue a Alvalade a jogar naquela pressão absurda de há uma semana. Acredito que manterá o 4-2-3-1 e que tentará jogar a primeira parte à espera do nosso erro, podendo mudar de estratégia no segundo tempo. Ah, e preparem-se para mais uma chuva de faltas (esteja o árbitro à altura).

Este homem é um Mister
Skorza podia ser nome de carro ou de detergente para remover a gordura, mas o destino quis que fosse treinador. Ao que parece, dos mais reputados da Polónia, com uma estranha demissão do Wisla quando liderava o campeonato (depois de ter sido bicampeão).

Ele é excelente nestes lances porque a bola está morta e passa a estar viva
Rybus pareceu-me o jogador mais perigoso do Legia, conseguindo conjugar rapidez e técnica em ambos os flancos.

A vantagem de ter duas pernas!
Se tivesse sido contratado para jogar no Sporting, o redes Kuciak estaria à altura do inesquecível Bela Katzirz. E a dupla de centrais, Zewlakow e Komorowski, seriam uma espécie de Miguel e Pedro Barny com sotaque.

E agora entram as danças sevilhanas da Catalunha
Sá, é a primeira vez que te dedico um bloco de notas completo, e começo por dizer-te que tenho apreciado o teu discurso motivacional, sem medo de falar de jogadores de forma individualizada. Tal como tu, também acredito que vamos ganhar, até porque somos melhores tactica e tecnicamente, mas para o conseguirmos dava jeito que procurássemos marcar em vez de jogar com o empate da primeira mão. Marcando primeiro, vamos obrigá-los a destapar aquela defesa que, muito sinceramente, tem tudo para abanar. A propósito de defesa, parece-me lógico que Xandão ocupe o lugar de Onyewu (e espero que Rodriguez não volte a lesionar-se e que essa passe a ser a nossa dupla). Para o lugar do Rinaudo, Carriço. Se quiseres apostar no André Santos, ele que jogue mais adiantado. Ah e, se possível, não coloques o Carrillo à esquerda. Até porque, se o Izma precisar de sair, já tens o Capel no banco.
Spooooooooooooooorting!

Vamos jogar no Totobola
Sporting – Légia    1

hoje escreves tu: «O meu filho vai ser do Sporting»

O Cacifo dá, hoje, o pontapé de saída numa nova rubrica, o «hoje escreves tu», anunciada na passada sexta-feira. Todas as quartas, a voz dos cacifeiros salta da caixa de comenários para a primeira página, naquela que considero uma forma de enriquecer o blogue, de reforçar o Sportinguismo e de agradecer a todos os que, diariamente, ajudam a fazer do Cacifo aquilo que ele é. O sorteio ditou que fosse o Animal o primeiro a escrever, sendo que para a semana a prosa será assinada pela Lioness. 

 

O meu filho vai ser do Sporting
by Animal

Há um ano e uma semana passei pelo momento que muitos leitores do Cacifo concordarão ser um dos pontos altos de uma vida: o nascimento de um filho. Não me vou alongar com os sentimentalismos próprios destas ocasiões, ou a descrever como o miúdo herdou a beleza do pai. O que interessa aqui, é que ele vai ser do Sporting. Sei-o. Soube-o quando ele nasceu. Soube-o antes disso, quando soube que um bebé vinha a caminho. Honestamente, já quando pensava em gerar descendência imaginava como lhe iria incutir o meu Sportinguismo.

Os (poucos) amigos sportinguistas que leram o que eu escrevo sobre o nosso clube dizem que falo do Sporting de forma apaixonada. O mesmo faço em relação ao meu Sportinguismo. Uma vez que o considero uma faceta importante da minha personalidade, não poderia ser de outra forma.
O Sportinguismo está comigo desde que me conheço. As primeiras memórias que tenho do contacto com o Sporting são de longínquas colecções de cromos, ou de folhear um velho almanaque de futebol (que empobrecia as cores do nosso clube para um preto e branco sensaborão) até memorizar factos como “a maior goleada de sempre do campeonato nacional foi uma vitória do Sporting sobre o Leça por 21-0”, entre muitos outros. E poucas memórias conseguem marcar o Sporting tão profundamente na alma como aquele passeio domingueiro pelas ruas da Guarda, com um pequeno rádio a pilhas colado ao ouvido do meu pai, que me contava os detalhes daqueles 7 golos ao grande rival e me deixava com um sorriso de orelha a orelha.

O meu pai foi obviamente quem me influenciou a ser do Sporting. Bom, nem foi bem influenciar, foi mais dizer “aqui em casa somos do Sporting”. Parece extremista, mas ainda bem que assim foi. Tenho familiares e amigos que dizem que vão deixar os filhos escolher a preferência clubística, e depois espumam de raiva porque os miúdos lhes aparecem em casa a gritar o nome de um clube rival. Os miúdos serão sempre influenciados por alguém. É preferível que o sejam pelo pai do que por algum colega ranhoso ou outro ser mal intencionado.

Não é uma tarefa fácil educar alguém para ser Sportinguista. E esta afirmação decorre de outra, factual e unânime: não é fácil ser do Sporting. Experienciei isso ao longo de mais de 30 anos de existência, e sei bem que colocarei o meu filho em algumas situações ingratas em que estive ao longo da minha vida. Estar muitas vezes sozinho nas disputas; ser parte de uma minoria tantas vezes rebaixada e enxovalhada; enfrentar a arrogância de quem julga ter razão só por estar em maior número; ter que lidar com quem julga que as vitórias justificam qualquer patifaria. Não é à toa que se diz que para se ser sportinguista tem que se saber sofrer. Mas tem também que se saber ser superior a tudo isso.

E qual é então a maior dificuldade que um pai sportinguista encontra ao querer passar essa qualidade ao seu filho? Principalmente, fazer com que ele perceba que no Sporting existe uma cultura e um sentimento diferentes. Que ele perceba que, quando as coisas correm mal e as vitórias fogem, devemos gritar o nosso amor ao Sporting de forma ainda mais forte. Que, nos momentos de vitória, ele saiba ser melhor do que os que em situação inversa o tentaram humilhar.
Nada disto é fácil de dar a entender. Principalmente porque o Sportinguismo é um sentimento em tudo semelhante a uma religião, mais ligado ao domínio da fé do que ao da razão. Por exemplo, é fácil racionalizar o benfiquismo: são muitos, e a pressão dos pares faz metade do trabalho. No caso do Sportinguismo, há claramente algo mais, tão difícil de explicar por palavras como de incutir a alguém. É esse o desafio de qualquer pai sportinguista, um objectivo actualmente acrescido de maior dificuldade devido à recuperação que tarda em acontecer. Mas não só.

Uma coisa é mostrar a uma criança as glórias imensas deste clube que amamos, os momentos épicos vividos ao segundo, os personagens que se tornaram símbolos eternos do Sporting, e até levá-la pela mão até às bancadas de Alvalade, para que possa sentir o peito a querer explodir, incapaz de conter a avalanche de sensações que proporciona a primeira visão do interior daquele estádio. Outra coisa é tentar explicar porque é que teimamos em falhar objectivos propostos, época após época. Ou porque corremos com o treinador após os primeiros desaires, inviabilizando qualquer projecto de médio prazo. Ou porque insistimos em colocar na liderança do clube gente que defende todos os interesses menos os do Sporting e dos seus adeptos. Ou porque é que, num clube que se quer grande como os maiores da Europa, de repente se deixou de exigir mais do que segundos e terceiros lugares, com umas taças de permeio. Ou porque se perdeu a capacidade de fazer mostrar aos jogadores (mesmo aos das camadas jovens) que estão no grande SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, e que devem tentar estar à altura do clube que servem.

Porque isso ainda eu próprio não consegui perceber.