Uma questão de interpretação

«Carrillo assume luta pelo título», «berra» o Record e afirma, mais baixinho, A Bola.
Primeira reacção. Minha e vossa, muito provavelmente: «foda-se, este gajo passou-se?».
Segunda reacção. Ok, deixa lá ver se percebo o que se passa.
Leitura: «Na época passada jogávamos bem mas não ganhávamos. Estivemos muito mal. Esta temporada está a ser diferente. A equipa e os adeptos estão contentes porque estamos a bater-nos no topo da classificação, a lutar pelo título».

Portanto, para não variar, as declarações são descontextualizadas. A equipa e os adeptos estão contentes? Estão! Estamos a bater-nos no topo da tabela? Estamos! estamos a lutar pelo título? Estamos! Isso que dizer que assumimos que somos candidatos ao título? Não!

Ilusão?

Já me tinha questionado várias vezes sobre se as nossas opções para as alas seriam suficientes. Pensava em Carrillo, pensava em Capel e ficava com a ideia que esses eram os nossos dois únicos extremos de raiz. Depois, Wilson, que tem dado muito boa conta do recado, mas que não vejo como extremo. Há Magrão, que pode jogar junto à linha, mas que está longe de ter o ritmo ideal. E, num momento de revolução, Jefferson pode ser médio-ala esquerdo.
Olho para a B. Há Esgaio, que já mostrou estar preparado para ser chamado. Há Salomão, a quem foi dada uma derradeira oportunidade. Há Iuri, a transpirar qualidade, mas ainda demasiado leve para lançar às feras. Há Mané, que me parece uma adaptação. Tal como Ponde ou Manafá também podem ser adaptados.

Tudo isto a propósito da lesão de Capel. Depois do que eu escrevi, qualquer um dirá que há opções suficientes. Os próximos tempos dirão se tão extensa lista será, ou não, uma ilusão.

A nova pele do Cobra

Sou defensor de André Carrillo desde os primeiros movimentos que o vi fazer com a camisola do Sporting. Vi nele pormenores que me faziam lembrar Quaresma, outros que me faziam lembrar Nani. Vi nele um potencial que me levou a defender que, bem trabalhado, o peruano podia ser para nós o que Hulk era para o fcPorto. E nunca cheguei a entender a forma como alguns Sportinguistas “babavam” por James ou por DiMaria (só para citar dois nomes e para não entrar nos Varelas e nos Licás desta vida), dando pouca ou nenhuma margem a Carrillo.

À entrada para a sua terceira época de Leão ao peito, Carrillo tem oportunidade de trabalhar com um treinador que, a julgar pelos indícios deixados durante a pré-época, tem capacidade para retirar do extremo tudo o que ele pode oferecer à equipa. E não é pouco (digo eu). À capacidade técnica que lhe permite ser dos melhores no 1×1, Carrilo adiciona velocidade, potência de remate (nomeadamente em diagonais, quando embalado a partir da esquerda), possibilidade de jogar em qualquer uma das alas e o facto de ser o extremo que melhor cabeceia e que me parece mais bem preparado para entrar nas costas do ponta de lança, quando os cruzamentos forem feitos da ala contrária.

Falta(va) aliar o espírito de sacrifício e compromisso táctico com a equipa, algo que parece ter chegado com o trabalho de Leonardo Jardim. Carrillo surge, hoje, como um jogador que percebe muito melhor o que fazer com a bola perante as mais variadas situações de jogo. Joga muito mais para a equipa do que para si e é impossível não reparar na forma como luta para, por exemplo, recuperar bolas. O grande desafio, agora, é ele conseguir conciliar esse compromisso táctico com o seu espírito de futebol de rua e, ainda mais importante, conseguir perceber que ser um jogador de sucesso implica várias cedências em termos de vida pessoal.

Cá para nós que ninguém nos ouve, André, isto de ser puto e ter uma conta bancária recheada tem que se lhe diga. Mas deve ser bem melhor, ouvirmos meio mundo a apontar-nos qualidades e a colocar-nos entre os melhores naquilo que fazemos.

Sim, estou entusiasmado! (agora mandem-me para a fogueira)

Haveria muito para dizer, mas correria o risco de entrar em exageros e deixar falar, apenas, o puto que vive dentro de mim. E que, neste exacto momento, recua 25 anos e tem vontade de ir para a rua jogar à bola, imitando os profissionais que vestem a verde e branca. Não ganhámos nada? Depende. Se metade dos Sportinguistas estiverem a sentir o mesmo, eu diria que estamos a recuperar algo que andava amordaçado e que isso, caros Leões, é de tal dimensão que nem cabe no museu.

Carrillo

Entre notícias que dão conta da infecção respiratória e as palavras de Jesualdo Ferreira, que deixam entender que o treinador deposita esperanças nas qualidades do peruano, eu queria deixar algo bem claro: quando penso nos jogadores que temos do nosso meio-campo para a frente, considero Carrillo o jogador com mais potencial do plantel. Tem velocidade, tem drible, tem uma estrutura física altamente equilibrada, tem jogo de cabeça, tem capacidade de remate (de longa e curta distância), tem a capacidade para jogar nas alas ou ao meio, atrás do avançado, tem a inteligência para, em resposta a cruzamentos, surgir na área em apoio ao ponta-de-lança.
Tem tudo isto. Aliás, não consigo deixar de pensar no nosso Carrillo quando ouço histerismos em redor de, por exemplo James Rodriguez. E continuo a insistir nesta tecla: Carrillo, bem trabalhado, tem características para tornar-se num jogador à imagem de Hulk. Resta saber se Jesualdo (ou outro treinador) serão capazes de lapidar o diamante, incluindo a vertente psicológica.

Uma pequena mudança

Na noite de sábado, houve um pormenor táctico que me pareceu bastante interessante. Em algumas situações, Capel e Carrillo fletiam para o meio, de forma a apoiar mais diretamente Matias. Nesses momentos, Elias procurava ocupar o lugar que permitisse compensar a extrema deixada em suspenso. Em três ou quatro ocasiões, Capel e Carrillo chegaram a tabelar junto à linha, dificultando bastante o trabalho defensivo do lateral e a própria organização do adversário.
Resta saber se este ensaio de qualquer coisa terá continuidade e se poderá ser uma das chaves para surpreender os adversários.

p.s. – a propósito de chave, de cada vez que vejo Carrillo a jogar tenho cada vez mais a certeza que, se fosse treinador, lhe dava liberdade nas costas do avançado. Ele que fosse à esquerda e à direita criar superioridade. Ele que rematasse à entrada da área. Ele que surgisse como segundo ponta, em vários dos cruzamentos.

Unhas encravadas

Elias e Matías são compatíveis?
Domingos tem gerido com mestria os vários estados de alma do balneário. Basta recuar ao último jogo e recordar a entrega da braçadeira a Daniel Carriço, numa forma de motivar ainda mais um jogador que vinha de marcar no regresso à titularidade. E, a bem dessa gestão, Matías, motivado pelo bom jogo na Liga Europa, manteve a titularidade nos jogos da Liga, ocupando o lado direito do meio-campo a meias com Elias e com João Pereira. Ganhámos, é verdade, mas parece-me que ficamos sempre a perder. Matías será compatível com Elias num meio-campo onde ambos joguem no centro, mas a equipa e o próprio jogador ficam a perder quando o chileno é encostado à linha direita. O que Capel faz à esquerda, alguém terá que fazer à direita. Carrillo ou Jeffrén, com Pereirinha à espreita, são donos do lugar e ponto final.

Jeffrén
O cabrão do 7 voltou a afzer das suas pelas bandas de Alvalade. Agora que parecíamos estar a renovar o brilho dessa camisola através da recuperação de Bojinov, somos surpreendidos pelo calvário do número 17. E surpreendidos será um tanto ou quanto subjectivo, pois ao que parece os problemas musculares não são de agora. Estou-me a cagar se o rapaz precisa de acompanhamento psicológico, se tem uma formação muscular de atleta de velocidade, se isto se aquilo. Sei que o departamento médico não ficou lá muito bem na fotografia e que a equipa está a ser prejudicada pela ausência de um talento inegável. Há que resolver esta questão o mais depressa possível e, tanto por nós como por um jogador muito acima da média com apenas 23 anos, quando Jeffren voltar a jogar é para fazê-lo várias semanas seguidas.

Rodriguez
Mais um jogador com um historial de lesões que explica o porquê de passar mais tempo de fora do que a jogar. Domingos confia nele, por isso o trouxe de Braga, e é um jogador que, para além da experiência e de ser dos quatro centrais o mais talhado para jogar à esquerda, nos torna mais fortes no jogo aéreo. A novela das idas à selecção, onde as lesões parecem desaparecer por obra e graça dos espíritos de Machu Picchu, só servem para que os adeptos o olhem de lado e, cada vez mais, se questione a necessidade de, em Janeiro, trazer outro central (para mim isto nem se questionava. Era trazer um que pegasse de estaca ao lado do Onyewu).

Rinaudo
É vergonhosa a perseguição de que está a ser alvo. Os dois últimos amarelos só são aceitáveis à luz de uma campanha que visa deixá-lo de fora do derby, e deixam Domingos com uma dúvida por resolver: colocá-lo, ou não , frente ao Leiria? Eu confesso que o deixava de fora e até era capaz de experimentar colocar Elias ou Schaars a trinco, recuperando Matías para o meio. É que a teoria de que, vendo um amarelo, pode forçar o segundo e ser expulso (cumprindo o castigo contra o Braga, para a Taça) é muito bonita se pensarmos que vamos ter um jogo que permita ficarmos com menos um de propósito. Para além de que, à partida, será mais complicado receber o Braga do que o Leiria.

Ponto de situação

Ainda não tinha tido oportunidade de despedir-me, condignamente, de Hélder Postiga e de Yannick Djaló. Nem de, fechado o mercado, comentar a forma como a dupla Freitas/Duque abordou o mesmo. Vamos por partes.

Não pude deixar de achar cómica, a reação de alguns Sportinguistas à saída de Postiga e de Djaló, lamentando a sua venda e considerando que perdemos dois bons jogadores.
De Postiga, só tenho a dizer o seguinte: marcou 12 golos em quatro épocas, uma média miserável. Aliás, contabilizando o número de minutos jogados, consegue ter uma média pior do que Purovic, do que Rodrigo Bonifácio Tiuí e do que… Koke. Estou-me completamente a cagar para o facto do gajo se julgar a “Paula Rego das quatro linhas”. Quero golos. Ele é avançado e não os marca (e ainda impede os colegas de fazê-lo). Põe-te nas putas que já vais tarde!
Quanto a Yannick, teve mais do que oportunidades para provar que era jogador para o Sporting. Como avançado, consegue disfarçar as suas deficiências técnicas com alguns golos, mas podemos ter num plantel um jogador que, em dez bolas, domina duas à primeira? Que como extremo não sabe ir à linha e cruzar? Ou partir para cima do adversário e fazer a diferença num 1×1? Não, não é jogador para o Sporting e não vamos tratá-lo como coitadinho só porque é oriundo da nossa formação. Nem vamos fazer dele um menino bem comportado, quando várias vezes o vimos não festejar golos porque estava amuado por terem gozado com o seu novo penteado. Ah, e muito menos vamos manter um jogador que nos dá motivos para aplaudir duas ou três vezes por época, só porque o gajo ainda vai parar ao Porto e ai ai ai (por favor, não me falem no Varela. Se os tripas não tivessem sido campeões o gajo já tinha sido apelidado de merdoso que, por época, passa dois ou três meses lesionado).

Quanto ao mercado, e depois de ter-se conseguido um treinador com competência, existiam várias lacunas no plantel a resolver:
– um concorrente para João Pereira
– defesas centrais que permitissem colocar um ponto final no calvário dos lances pelo ar
– um lateral esquerdo
– médios centro de qualidade
– extremos
– avançados que substituíssem Liedson (porra que ainda ontem vi o homem marcar dois ao Flamengo)

Para concorrer com João Pereira avançou-se para João Gonçalves, entretanto emprestado ao Olhanense. Ficou Pereirinha, que para mim apenas tem hipótese de jogar neste posição, e chegou Arias, que muito boas indicações deixou no mundial de sub-20. Creio que temos o problema resolvido.
No centro da defesa, um dos maiores problemas, optou-se por manter Anderson Polga e Carriço (que, por muito que me custe dizê-lo, já me pareceu bem melhor). Foi-se buscar Rodriguez, ao Braga, e chegou o gigante Onyewu, que de muito bom, contra a Juventus, passou a grande merda, contra o Valência. Bipolaridades à parte, para mim não tem muito que saber: é Rodriguez, à esquerda, e Onyewu, à direita. Não será uma dupla de sonho, pois não, mas ganhamos, força, ganhamos altura e, aposto, deixamos de sofrer golos patéticos. E, porra, duvido que não seja dupla para nos fazer lutar por títulos. Agora, é preciso é que consigam jogar juntos três ou quatro vezes para ganharem entrosamento.
Ainda na defesa, agora do lado esquerdo, penso que está mais do que visto que Evaldo é mediano. Pouco ataca e defende assim assim. Tem dias, no fundo. Mas como o Sporting precisa de alguém que tenha meses em vez de dias, foi-se buscar Insua. E era preciso o Grimi pegar-lhe a gripe para o homem não vir a transformar-se no nosso titular.

A meio-campo, onde sobravam André Santos, Matias e Izmailov da época passada, chegaram Rinaudo, Schaars, Luis Aguiar e Elias. Prefiro nem me alongar muito em comentários, deixando apenas a seguinte pergunta: olhando para estes sete gajos, e mesmo acreditando que possamos sentir a falta de um gajo que limpe tudo o que sejam bolas pelo ar, há quantos anos não tínhamos um meio-campo com esta qualidade e estas opções?  Inácio, por exemplo, foi campeão com uma rodela central onde cabiam Duscher, Vidigal, Bino, Toñito e Delfim. Temos piores opções? E o Sr. Boloni, pese o poder de fogo ao seu dispôr, tinha como médios centro Paulo Bento, Vidigal, Custódio, Bruno Caires, Diogo, Hugo Viana e o Afonso “nem pensem que me vou embora até terminar o meu contrato” Martins. Temos piores opções?

Já cheirava mal não termos extremos, não cheirava? O odor mudou radicalmente com a chegada de Capel, Jeffren e Carrillo. Há extremos, pois há, e de qualidade. Até o puto peruano, que parece ter vindo numa de estagiar durante a primeira época, mostra a cada pormenor ter imenso futebol naqueles pés.

Por último, havia que resolver um problema que se deixou arrastar: a dependência de Liedson. É inacreditável como se foi deixando passar os anos sem se antecipar a saída ou diminuição de rendimento do Levezinho. Pensar que Postiga podia ser o seu substituto não foi um acto de fé, antes de acefalia, que nos deixou entregues a um ataque sem golos. Chegaram, entretanto, Wolfswinkel, Rubio e Bojinov. Já nem discutindo qualidades e características, patético será algum deles fazer pior do que o dito artista. E dizer que qualquer um deles não presta, parece-me desonesto.

Posto isto, e muito resumidamente, há matéria prima para o Sporting estar, efectivamente, de volta. Que assim nos ajude a ausência de lesões e que, depois de ter andando a colocar jogadores a titulares para poder vendê-los, que seja capaz Domingos de se deixar de invenções parvas e de confirmar que o que de bom fez até hoje, enquanto treinador, não foi obra do acaso. A prova de fogo está marcada para amanhã, naquele que tem tudo para poder ser o primeiro jogo do resto da nossa época.

 

 

 

Jeffren

Tenho duas leituras para esta contratação.
Primeira: um bom jogador, tecnicamente acima da média, com pormenores daqueles que levam pessoas ao estádio, rápido como poucos no nosso plantel, com escola catalã (e com qualidade suficiente para frequentá-la na equipa principal). Quatro milhões, com a possibilidade do Barça o recuperar a troco de oito (o que indicia que os catalães acreditam tanto ou mais do que nós no seu potencial). Bom negócio, sem dúvida, dando-nos a possibilidade de actuar com dois alas que podem fazer toda a diferença (Capel + Jeffren).
Segunda: juntar esta contratação (apesar de Jeffren poder actuar na esquerda, pela capacidade de jogar com ambos os pés), à chegada de Carrillo e à manutenção de Pereirinha (e ainda falta Arias) leva-me a questionar o estado em que estará Izmailov, a primeira opção de Domingos para o nosso lado direito (com a renovação a comprová-lo).

Só faltou tirares a pulseirinha…

«Estou muito contente por estar aqui. Venho para ganhar um lugar. Todos me têm dito que o Sporting era um trampolim para ir para outra liga mais forte, mas eu não acredito nisso. Para mim, depois do que vi no museu do clube, este estádio tão bonito, e toda a grandeza do Sporting, isto nunca pode ser um trampolim. É o clube ideal para mim, e agora só penso em ganhar o meu lugar na equipa e fazer história no Sporting, para um dia figurar no museu do clube […] Tive três propostas e sem pensar escolhi o Sporting, porque já o conhecia. Gosto de jogar pelas alas ou como avançado. Tenho habilidade para jogar em profundidade. Ainda não conheci os meus companheiros, mas já conheci o estádio. Entre todos os que já conheci, é o melhor que já pisei», André Carrillo, in Record.

«Esta contratação insere-se numa politica que delineámos, na qual vamos contratar dois a três jogadores com o perfil de André Carrillo, englobado numa bolsa de valores, a quem não vamos pedir sucesso amanhã. São jogadores a quem é preciso dar espaço de manobra para se adptarem ao Sporting e à vida em Portugal», Carlos Freitas.