Há, precisamente, quatro meses, escrevi um post intitulado «Porque é sempre importante haver um patinho feio».
Nesse post, entre outras ideias, podia ler-se «Carriço é outro (talvez o maior) dos alvos. Promovido à equipa principal com a legenda de “este é o futuro capitão de equipa e futuro patrão da defesa do Sporting”, dando continuidade ao que vinha acontecendo nas camadas jovens, foi dando mostras de não ser assim um central tão bom como se esperava. Pouco rápido para a sua altura, com dificuldade em ler e lidar com bolas colocadas nas suas costas, teve ainda contra si o pesadelos das bolas paradas que atirou alguns Sportinguistas para a cama de um hospital. Entretanto, na época anterior, a lesão de Rinaudo fez com que acabasse por ser testado na posição 6, onde veio dar solidez e estabilidade a um meio-campo que sentia falta de um pilar entre as duas primeiras linhas (partindo do princípio de que uma equipa de forma de trás para a frente). Ficou claramente demonstrado que Carriço é melhor trinco do que defesa central, tanto que sempre pensei que, nesta nova época, fosse ele o reserva natural de Rinaudo. A chegada de Gelson veio baralhar as contas e deixar o pobre Daniel mais fragilizado aos olhos dos adeptos. O futuro patrão da defesa é, agora, o elo mais fraco, tanto da dita defesa como do meio-campo. E, pasme-se, o futuro capitão do Sporting, símbolo da formação e do espírito leonino, passou a “era o que faltava estares no plantel só por seres Sportinguista” (eu gostava de saber quantos destes artistas aplaudiram a continuidade do mediano Tiago que, durante anos, mais não fez do que ser o redes que lá estava para passar a mística).»
Ora, numa altura em que Daniel Carriço ruma a Inglaterra, despedindo-se com elevação («Encerro um ciclo que é quase uma vida. Estou satisfeito pelo percurso que fiz no Sporting, mas parto com alguma mágoa por deixar o clube numa altura complicada. Devo tudo ao Sporting, nada tenho a apontar») e merecendo, pela voz de Capel, o reconhecimento dos colegas («Daniel Carriço é um exemplo para qualquer futebolista pelo seu profissionalismo, trabalho e entrega pelo clube da sua alma! Desejo sorte ao grande capitão!»), parece-me que o texto continua perfeitamente actual. Será uma imbecilidade, enveredar pelo argumento de que o Sporting precisa de jogadores melhores do que Carriço. Porquê? Porque não estou a defender que Carriço seja um enorme jogador (e nem vou arriscar perguntar o que já se teria dito e escrito se fosse ele a enterrar como o Bolo de Arroz, o lateral esquerdo adaptado ou o gigantone de torres).
Disse-o, e repito, que mostrou ser uma opção perfeitamente válida a Rinaudo (ah, foda-se, espera aí que o Rinaudo já está rotulado de walker da táctica e apontado como fonte de muitos dos problemas da equipa) e, volto também a dizer, é patético que se tenha contratado Gelson. Quanto ganhou Gelson, como prémio de assinatura? Quanto ganhou Gelson, nos meses em que nos presenteou com o seu confrangedor futebol? Quanto ganhava ele a mais do que Carriço? Quem é que se responsabiliza pela vinda dessa valente merda para Alvalade e pelo consequente colocar à margem de um activo perfeitamente válido?
E agora? É Zezinho? Adapta-se João Mário? Voltamos a recuar Adrien para seis? Esperamos para adaptar Schaars sempre que Rinaudo não possa? Epá, espera lá. Então, mas que sentido faz despachar um dos poucos exemplos de formação e dedicação ao clube, numa altura em que é anunciado um inverter de rumo, no sentido de apostar na prata da casa?
Neste momento, o Sporting é isto. Um emaranhado de decisões patéticas e questionáveis. Carriço é, apenas, mais um exemplo.