Se um Leão incomoda muita gente, quatro milhões de Leões incomodam muito mais

Abro o e-mail do Cacifo. E sorrio. Alguém se deu ao trabalho de subscrever as newsletters de benfica e fcporto, reencaminhando-as para mim.
Sabe-me bem este sentimento de causar incómodo. Sabe-me bem este sentimento de que o Sporting voltou a incomodar. O contrário era, precisamente, o que me incomodava.

Cresci aprendendo a amar um Sporting que não ganhava. Mas que incomodava. Sempre. Fosse pelo futebol que praticava, fosse pela dedicação, devoção e militância dos seus adeptos, fosse pelos craques que forma ou que contratava. No fundo, e para lá de bocas da reacção, todos sabiam que o Leão Rampante o era e que os seus consecutivos inêxitos apenas disfarçavam uma grandiosidade ao alcance de poucos pelo mundo. Curiosamente, a conquista de dois campeonatos em três anos, no início do novo século, conduziu o Leão Rampante à cama do hospital. Fraco, cada vez mais fraco. Coma. E os milhares de Leões, que são milhões e que seguem este Leão para toda a parte, reuniram-se à sua volta afirmando não arredar pé e fazendo da fé verde e branca corrente de boas vibrações. Mal esperavam que, entre os escolhidos para reabilitar o Rampante, existissem hienas em pele de leão, desejosas de dar um tom azulado ao magnífico verde e de fazer da ímpar história do Sporting o motor de outros negócios.

Durou tanto, demasiado, esta letargia. Este cabrão deste coma que consumia todos os que «sem ti não sei viver». Dividiram-se Leões armados, de juba eriçada em trincheiras, numa guerra de rugidos alimentada por hienas e em que quem pia e quem fumaça se ria e esfregava as mãos de contente. Pior, em que quem pia e quem fumaça deixou de respeitar o Rampante, desejando-lhe irónicas melhoras e dando palmadinhas nas costas dos Leões sofredores que se recusavam a render-se. Outros, cansados de tanto mal ver fazer «ao nosso grande amor», abandonavam a luta, resguardando-se num luto que parecia inevitável.

As unhas cravam-se no chão. Os músculos retesam-se. A face retrai-se em raiva. «Levanta-te, Rampante!», rugem os que, após anos de luta, se recusaram a abandonar o líder. «Se é para cair, caímos todos de pé!». E o Rampante levanta-se, amparado por todos nós, caminhando sem receio para o recinto de batalha. Ao longe, orcs e trols, cada qual em sua elevação da planície, aguardam o início de mais uma guerra a dois. Olham para as suas tropas, com sorriso trocista, quando avistam a chegada do Leão.
Primeiro embate. Segundo. Terceiro. Quarto.
Semanas de batalha em que, a cada dia, novos infiltrados tentam minar a recuperação. Luta! Resiste!
Tentam diminuir-nos as vitórias com dois equívocos de apito, como se os restantes 89 minutos não fossem um desfilar de erros tendenciosos que se perdem no tempo e fazem campeões nas últimas décadas. Luta! Resiste!
São sindicatos que se só se preocupam connosco. São empresários a valer-se do desespero dos jornais. São jogadores que não respeitam a verde e branca com que cresceram. Luta! Resiste!
São hienas de cu apertado que gincham e até se mordem umas às outras. São famílias de jogadores ameaçadas e jogadores a “serem raptados” por soldados peidorrentos que se fazem passar pelas nossas cores. São casos resolvidos na secretaria. São fumaças desesperadas que, perdendo as hineas capachos, se contentam em roubar-nos dois dentes de leite que acabarão a apodrecer num qualquer confim da europa.
Luta e Resiste, meu Leão Rampante, que mesmo os que choravam o teu coma estão de volta para lutar a teu lado, num exército de quatro milhões onde até os judas serão envoltos nesta onda verde!

Abro o e-mail do Cacifo. E sorrio. Alguém se deu ao trabalho de subscrever as newsletters de benfica e fcporto, reencaminhando-as para mim.
Sabe-me bem este sentimento de causar incómodo. Sabe-me bem este sentimento de que o Sporting voltou a incomodar. O contrário era, precisamente, o que me incomodava.

leões

 

Gira-discos (porque o estado de alma leonino também se canta)

Grande banda e uma letra que encaixa que nem uma luva neste Sporting renascido! (é para ouvir alto)

One step closer I’m feeling fine, getting better one day at a time
Im moving forward with all of my might, Im heading toward a new state of mind
[…] Motivation a powerful strength, hesitation was my first instinct
I got the notion my weakness was total devotion its okay
Because I will hold back tears, so I can move in the right direction
I have faced my fears, now I can move in the right direction

Gira-discos (porque o estado de alma leonino também se canta)

Porque sempre que ouço esta música me recordo do passado recente do Sporting. Porque esta música encaixa, na perfeição, neste país que alguns teimam em estragar. Porque, à conta desses mesmos alguns, tive uma criança de quatro anos a chorar, primeiro agarrada a mim, depois à mãe, por lhe terem tirado a educadora. Porque isto é canção que nos sai das entranhas. Porque a Gisela canta que se farta. E porque sim.

Tinha tantas saudades de te sentir assim, Sporting!

Teve de tudo, a tarde de ontem. Famílias que chegaram a Alvalade ainda antes da hora de almoço, sol, calor, filas para entrar, a água a terminar e futebol, muito futebol, com todos os ingredientes que fazem deste um desporto único, capaz de arrastar milhões por todo o mundo. No centro de tudo isto, o Sporting. O meu Sporting, o nosso Sporting, qual doente saído do coma, a dar os primeiros passos numa recuperação a que muitos doutores torciam o nariz.

E, fruto desse passado recente, os primeiros minutos foram complicados. As pernas pesavam, muito, até porque isto de voltar a andar é mais simples numa sala de reabilitação do que frente a milhares de pessoas (foram 30 mil, mas podiam ter sido mais, assunto sobre o qual falaremos num post futuro) ansiosas por ver o que consegue o Leão que amam. O adversário procurou, também ele, surpreender, trocando a esperada defesa por uma equipa esticada em campo. Percebia-se que o jogo era para jovens Leões de barba rija (até pela actuação do senhor de azul), algo que se confirmou com o golo sofrido às três pancadas. Curiosamente, o jogo começou aí.

Ainda a bola não tinha regressado ao centro do terreno, já as bancadas entoavam o nome Sporting para não mais parar até final. E o Leão respondeu com convicção. Fincou as patas na relva e avançou. Sem medo. Apenas crença e convicção. O golo de Maurício (um dos destaques da tarde, ao contrário do seu parceiro Rojo, mas disso falaremos num futuro post) mandou uma cabeçada em qualquer fantasma que por ali andasse. Fredy Montero, ele que tem nome de artista e (tantos) pormenores de craque, usou a coxa para, em estilo, responder a cruzamento de Wilson Eduardo, numa jogada que começou com um fantástico passe de William Carvalho. Por esta altura só dava Sporting, embalado pelo novo Carrillo, pela fúria de Magrão e por uma dupla Adrien / William que promete muito e que viria a receber André Martins de braços abertos.

Intervalo. Gargantas secas que pedem água, corações que pedem mais emoções. Rui Patrício mostra que nem só os novos podem brilhar e puxa dos galões para uma grande defesa. Lá mais à frente, faria uma impossível, e entraria na galeria dos mais importantes da partida. William Carvalho parece querer o jogo só para si, Carrillo recupera uma bola, vai buscá-la mais à frente e toma lá Wilson este cruzamento perfeito. Golo, 3-1, jogo sentenciado, espaço para a sobremesa. Salta Capel, apostado em mostrar que o lugar dele não é no banco. Recupera uma bola para começar; faz uma piscina louca enfrentando todos os adversários e perdendo a bola já sem oxigénio para pensar; acaba fazendo aquilo que tão bem sabe: duas assistências para golo. Quem as recebe é um Leão colombiano, primeiro de cabeça, depois com um número de classe.

Sorrisos, tantos, no relvado e nas bancadas. Há muitos pormenores a corrigir, pois há, mas dificilmente se poderia pedir mais a este Leãozinho que deixou a cama do hospital para, como canta Caetano, poder caminhar sob o sol. E que saudades tinha eu de te sentir assim, Sporting! Tantas…

O Sporting, desunido, jamais será vencido!

Passaram quatro meses sobre as eleições e sobre a consequente escolha de Bruno de Carvalho para novo presidente do Sporting Clube de Portugal. E, neste curto espaço de tempo, tudo tem servido para tentar dificultar o processo que, já de si, se afigura como um dos mais complicados da nossa história. Da tentativa de assalto ao poder por parte dos Ricciardis da vida aos rumores de mercado que passam a ideia de estarmos sem capacidade negocial; do ódio que se criou em relação a Inácio às falácias blogosféricas que colocavam a mulher do presidente a “tachar” à conta do clube; do “é uma vergonha não termos Ghilas” ao “é uma vergonha não segurarem o Bruma”, passando pelo “é uma vergonha estar no Canadá quando há a Taça de Honra”; dos anunciados cortes monumentais nas modalidades ao facto do presidente se ter equipado a rigor para apresentar as novas camisolas…

A lista poderia continuar, numa estratégia onde não há lugar para a vontade de deixar trabalhar. Numa estratégia onde se olha para o Sporting como um alvo fácil. Pior, numa estratégia onde há sportinguistas capazes de ficarem incomodados com vitórias, com conquistas (esta Taça de Honra deve ter sido um aborrecimento para tanta gente…), com notícias que indiciam que se vão retirando obstáculos do caminho, porque isso significa estar mais longe de um passado recente.

Sim, é verdade, ainda há quem consiga afirmar, sem pestanejar (diz que a falta de vergonha na cara tem destas coisas), que o pior que nos aconteceu foi esta direcção ter sido eleita.
Porque devíamos ter apostado uma pistola à cabeça do Ghilas, para ele assinar contra a sua vontade.
Porque devíamos ter renovado com o Bruma quando já se percebeu que o jogador até faltou a reuniões porque quis (já agora, e porque passar entre as gotas da chuva é coisa de super-heróis, o que é que o manager aka treinador dos treinadores, andou a fazer enquanto esteve em Alvalade, que se esqueceu deste dossier?).
Porque está lá o Inácio e isso é sinónimo de amadorismo e incapacidade e o camandro e vitórias não rimam com Augusto (volta 99-2000, estás perdoado).
Porque não se admite conseguir manter os principais jogadores no andebol e no futsal.
Porque a mulher do Bruno estava no centro de atendimento, mas, afinal, não está.
Porque conseguimos avançar para a reestruturação deitando por terra o fantástico plano de resgate que estava preparado.
Porque pagámos os ordenados em atraso (e o dinheiro do Wolfswinkel, nem vê-lo).
Porque chegámos a um acordo para regularizar o que se deixou de pagar ao Baltazar.
Porque deixámos de ser caloteiros em relação à utilização do Pavilhão de Odivelas.
Porque já não apresentamos dez jogadores a ganharem acima de 1,2 milhões por época.
Porque, porque, porque… Só falta dizer, por exemplo, que foi esta direcção que revolucionou o departamento médico para poder contratar, sem opinião contrária, o Rodriguez e o Luís Aguiar, entre outros. Ou que esta direcção já sabia o que o PPC andava a fazer.

Sou sincero: estou cansado destes sportinguistas. Mesmo. E, desenganem-se, não é por criticarem este ou aquele nome. É por continuarem a alimentar uma forma de estar que coloca os nomes acima do Sporting. Que coloca os interesses pessoais, políticos e económicos acima de algo que, na sua génese, é irracional pela paixão que nos faz sentir. Sim, estou de lança chamas na mão e estou-me literalmente a borrifar para se me chamam separatistas, bombista ou terrorista (Bettencas, onde andas tu?), pelo simples facto de que, para lá do que queiram chamar-me, e que cairá que nem figo maduro depois de uma viagem pelo que tenho escrito ao longo destes anos, haver algo que se sobrepõe a tudo: o meu ser Sportinguista. E é por ter a certeza que, entre os quatro milhões de Leões, são esmagadores os que assim pensam, que tenho a certeza que, mesmo desunido (o contrário é utopia), o Sporting jamais será vencido!

 
p.s. – a todos os que se sintam incomodados com este post, deixo a minha garantia de que quando sentirem um desconhecido a abraçar-vos na bancada, depois de termos marcado um golo, esse desconhecido posso ser eu. Espero que, pelo menos nesse momento, percebam que apenas um nome importa: Sporting.

O futuro tem as nossas cores

Ganhar um derby, mesmo um que foi visto como menos interessante a partir do momento em que se soube que o interveniente vermelho deixava quase todos os ics de fora, é sempre saboroso. Fazê-lo com uma inequívoca supremacia, dois belos golos, jogadas de futebol corrido com elevada nota técnica e a garantida de que temos matéria humana para pintar o futuro com as nossas cores, tem um gosto ainda mais especial.

E foi isso que aconteceu, ontem, no António Coimbra da Mota. Os jovens Leões apanharam-se a perder com um golo de merda, aos seis minutos, mas foi quase como se esse golo não tivesse existido. Pegaram no jogo e manietaram um adversário onde o único argumento, durante os primeiros 45 minutos, foi um livre inventado pelo árbitro (a um metro da jogada) e as pauladas de um tipo cujo nome acaba em ic, mas cujo cartão de cidadão é português (é anedótico pensar que o rapaz é apontado como um exemplo da formação vizinha, tal como o outro, que Paulo Bento fez o favorzinho de levar ao mundial, e que vai voltar a ser emprestado). O golo de Nuno Reis, mais não fez do que trazer uma justiça mínima ao marcador.
O segundo tempo foi uma espécie de cópia do primeiro, com o adversário a ter uma única oportunidade de golo, e a refugiar-se na agressividade e nas constantes faltas para quebrar o ritmo imposto pelo Sporting. E nem faltou o penalti não assinalado, a derrube de João Mário. O golaço de Fokobo, foi uma condizente forma de mostrar a diferença visível durante os 90 minutos.

Quanto a destaque, é impossível não começar por João Mário. Claramente ainda sem o pulmão necessário para assumir as mudanças de velocidade (mas, segundo os vergonhosos comentadores da RTP, só o Almeida é que tinha começado tarde a preparação, por ter estado no mundial), foi o verdadeiro patrão da equipa e confirmou todas as esperanças que nele depositamos. À direita, um puto chamado Riquicho parecia ter o diabo no corpo e uma resistência inesgotável (apesar do estilo me ter feito lembrar o rufia Miguel), combinando bem com Esgaio (outra belíssima exibição, outro que, imagine-se, também esteve no mundial). Nuno Reis mostrou ser uma opção perfeitamente válida e Fokobo (que o parodiante contratado pelo serviço público televisivo, apelidou de bipolar) voltou a confirmar que é um monstro físico a quem só falta perceber que não pode, ao mesmo tempo, ser um Vieira e um Pirlo. Gostei de alguns pormenores de Iuri, mas ainda tem muita relva que percorrer. E seria injusto não falar na entrada de Viola, encontrado um único argumento para a sua saída: é complicado ter tanto miúdo bom, saído da formação, e justificar-lhe que este ganha 700 mil euros por ano. Ah, é verdade, Jeffren: consegui sentir pena da sua luta contra o fado que é a sua carreira, mas sinto mais pena de nós, que estamos há dois anos a pagar-lhe 1,5 milhões por época.

Uma palavra, final, para Abel. Há claramente trabalho seu na evolução desta equipa, mas destacaria, mais, as suas palavras, no final do jogo. A forma como se dirigiu aos jogadores e a Leonardo Jardim mostram que, face às dificuldades, há a clara noção de que o trabalho e a união de todos os que compõem a estrutura do futebol será uma arma inquestionável.
Eu acrescentaria que, face à falta de argumentos financeiros, foi-nos mostrado que o futuro não tem , forçosamente, que ser apenas preto. O verde e branco tem muita e boa gente preparada para vesti-lo com respeito e qualidade. Outros pudessem dizer o mesmo.