Penso que, por esta altura, já podemos falar de um Sporting de Carvalhal. E´ certo que muitos dos processos não estarão, ainda, implementados, bem como as rotinas de jogo que, como se viu durante 20 minutos, em Braga, correm o risco de ser traídas pelo biqueiro para a frente implementado no reinado bentiano.
A diferença começa, precisamente, nesse ponto: o Sporting voltou a jogar a bola de pe´ para pe´. Um, dois, três toques no máximo, e a equipa vai subindo no terreno de forma objectiva, em direcção a área contrária. Os avançados funcionam, invariavelmente, como pivots, recuando para servir de tabela a esta progressão e, muitas das vezes, abrindo brechas nas defesas para quem surge embalado, vindo de trás.
A questão e´ que, neste modelo em que os médios voltaram a ter a bola nos pés, ao invés de andarem de cabeça no ar a vê-la passar como se um jogo de distrital se tratasse, torna-se imprescindível haver explosão e acelerações que provoquem os desequilíbrios e, quanto a mim, esse e´, actualmente, o grande dilema de Carvalhal: abdicar, ou não, da consistência táctica que Adrien, Veloso, Moutinho e Izmailov conferem ao centro do terreno. Mas, vamos por partes.
Na defesa, Patrício e´ titular indiscutível e tem revelado assinalável evolução, nomeadamente no que toca a concentração, pormenor essencial para o guarda-redes de um clube que, em vários jogos, apenas permite dois ou três remates a baliza. Numa equipa estabilizada, estou em crer que Patrício perdera´ os pequenos tremeliques que, por vezes, ainda revela e, espero, aprendera´ que, com mais de 1,90 de altura, qualquer cruzamento nas imediações da sua área, têm que ser seus, nem que isso implique acertar nas cabeças que se meterem pelo caminho.
`A sua frente, João Pereira, Tonel, Carriço e Grimi. A contratação de João Pereira foi, indiscutivelmente, uma tremenda mais valia. O seu estilo agressivo faz com que jogue um pouco na queima a defender, mas a profundidade que da´ `a equipa a atacar e´ o que precisa o Sporting, tantas e tantas vezes incapaz de furar defesas compostas por dez homens. Tonel veio dar jogo aéreo e agressividade, mas continuo a achar que Carriço precisava de um sr central a seu lado para poder evoluir ao ponto que penso que pode evoluir. Seja como for, os calafrios têm sido muito menos, nomeadamente nas bolas paradas. Na esquerda, Grimi continua a ser o patinho feio. Não sei se será falta de confiança, não sei se terá vindo um irmão gémeo jogar nos meses que antecederam a sua contratação definitiva, so´ sei que nunca sabemos o que esperar por aquele lado (o que não implica que eu, como muitos sportinguistas que conheço, considere que um qualquer Evaldo, que no Braga se limita a despejar bolas e a marcar lançamentos de linha lateral, fosse a solução).
O meio campo estabilizou com a entrada de Adrien, muito mais talhado para desempenhar o papel de trinco que vai a todas, do que Miguel Veloso. Mas, e em minha opinião, levantou-se outro problema: a qualidade de passe de Veloso, embora mais lenta, e´ infinitamente superior `a de Adrien. No fundo, ganhou-se em recuperação, perdeu-se em construção, o que poderia ate´ nem ser grave se os restantes três médios fossem constantes catalisadores do futebol ofensivo. E, quanto a mim, e´ aqui que reside o problema que, quando vejo o Sporting de Carvalhal, me faz pensar que a equipa tem dificuldade em jogar nos últimos 30 metros de terreno.
Porquê? Porque, desde logo, Veloso não tem características de médio-ala. Foge constantemente para o meio, raramente vai a linha, e´ lento. Porque, jogando nesta posição, Moutinho, uma espécie de oito e meio, deixa a equipa carente de um numero dez, de alguém capaz de desequilibrar atrás dos avançados. Porque Izmailov não pode ser pau para a toda a obra: apoia o lateral, fecha o meio, faz de pivot, acelera, trava, contemporiza, tenta ir a linha, tenta flectir para o meio para rematar cruzado, parecem-me demasiados pedidos para um homem so´, principalmente um homem a quem não foi dado tempo para, paulatinamente, ganhar o ritmo necessário depois de uma lesão e de uma paragem prolongada.
No ataque, Liedson e´ indiscutivel. Postiga uma esforçada nulidade. Saleiro cresce de jogo para jogo, mas parece-me estar a ficar um tanto ou quanto individualista. Yannick continua a falhar golos quando não deve falhar, como aconteceu em Braga, mas e´ dos poucos que, encostado a uma linha (esquerda, sff), consegue acelerar o jogo. Pongolle precisa de tempo. Vuk, continua a ser o nosso melhor rematador e um louco pela baliza, mas parece que, uma vez mais, será utilizado como médio ala.
Posto isto, e tendo em conta que Pereirinha tem medo de jogar `a bola, a minha pergunta e´ a seguinte: porque não joga Matias Fernandez?. Sim, para mim, Matias Fernandez tem lugar, a cagar, como titular desta equipa (da qual saiu, va´ la´ saber-se porquê, numa altura em que marcava golos e fazia assistências). A sua reaparição, em Braga, libertou a equipa (quando perceberam que havia quem fosse o elo entre o meio-campo e o ataque e pararam de bombear bolas para a frente) e libertou Moutinho (e que saudades tinha eu deste Moutinho). Aquele momento delicioso, em que sem linhas de passe, assume a finta pouco depois do meio campo, rasga a estrutura adversaria e oferece uma desmarcação perfeita a Yannick e, quanto a mim, o que falta a este Sporting para continuar a crescer: risco.
Somos um Sporting bem arrumadinho, bem comportadinho, que sabe o que fazer com a bola e mostra alguma segurança quando não a tem. Mas… e o resto? A mim, pelo menos a mim, faz-me falta o resto. Se Carvalhal for capaz de dar-me esse resto, terei todo o gosto em tê-lo como treinador na próxima época.
p.s. – faço esta analise sem saber o que representara a contratação de Pedro Mendes em termos tácticos. Tenho ideia que coloca-lo como trinco será desperdiçar um talento maior, mas… não me importava nada de ver um triângulo invertido, assente em Mendes, com Moutinho e Matias a esticarem até ao ataque.