Para onde caminhas tu, meu Sporting?

“Vocês nem chegam ao Natal”.
Tal como tantos outros Sportinguistas, cresci a ouvir esta frase. Acabei por habituar-me, murmurando para mim mesmo que tal estado de coisas haveria de terminar. E terminou mesmo. Mal sabia eu que, uma década volvida, estaria novamente a embrulhar presentes e a pensar que a época futebolística está terminada.

Acontece que, ao contrário do que sucedia nas décadas de 80 e 90, olho para o futuro do meu Sporting e não vejo nada. Nada, mesmo. Ou melhor, vejo uma total ausência de respeito pela grandeza do clube que jurei defender diariamente. Nessas décadas de travessia do deserto, qualquer treinador que viesse para o Sporting sabia qual era o seu objectivo: ganhar, ganhar e ser campeão. E, caso não o conseguissem, eram os primeiros a ter a hombridade de colocar o lugar à disposição. Se, por alguma razão, não o fizessem, eram os presidentes a colocá-los nos seus devidos lugares.

“E o que é que ganhámos com essas mudanças e com a falta de estabilidade?”, poderão perguntar. Pouco, é verdade, mas foi uma dessas mudanças que nos levou a pintar o país de verde e branco. Quatro ou cinco anos passaram, e abraçámos essa dita estabilidade, apostando em treinadores que, numa espécie de tiro no escuro, pudessem revelar-se um novo Mourinho. Acontece que Mourinho há apenas um e, hoje, não chegar ao Natal é motivo para o treinador afirma que se sente perfeitamente seguro no lugar e para o presidente afirmar que confia plenamente na estrutura que escolheu para o nosso futebol.

Depois fala-se de orçamentos e da falta de capacidade financeira para comprar jogadores que façam a diferença. Deve ser por isso que praticamente só ganhámos aos dois últimos da tabela.
Depois lamenta-se a sorte madrasta que leva as bolas a embater nos postes e na trave. Mas não se lamenta a ausência de capacidade futebolística para criar situações de golo que entusiasmem a plateia e permitam ganhar os jogos.
Depois dá-se a entender que o plantel tem poucas soluções, como se não desse que pensar o facto de termos contratado dois defesas centrais para colocar um ponto final nos problemas defensivos e, hoje, termos a titular um homem a quem tinha sido aberta a porta de saída.
Depois pede-se tempo e paciência, como se não nos tivesse sido pedida a mesmíssima coisa nos últimos cinco anos.
Depois empolam-se pequenas conquistas, como se ganhar uma Taça e ficar em segundo fosse tão bom como ficar em primeiro.

Cinco anos em que, dolorosamente, nos fomos afastando de algo que faz parte da nossa forma de estar. De pensar. De ser. Tendo, ainda, que ouvir o primeiro presidente da história a viver à conta do nosso clube afirmar que somos uns maus Sportinguistas por não aceitar este estado de coisas.

Lenha para a fogueira

No excelente post que escreveu abaixo, Douglas diz “De tão pequeno que aparenta ser, Costinha foi outro dos cobardes desta história […]  alguém vai atirar várias pedras e fugir…”.
Ora, se este artigo for verdade, parece que o rei dos fatos está farto de atirar pedras e tem enorme peso em muita da merda que vai fazendo com o que nosso clube nos cheire mal. Muito mal.

Paulo Bento triple play

Paulo,

já tinha saudades destas nossas conversas aconchegadas. Lembras-te? Lembras-te do meu desespero? Da insanidade a que me levaste? Mas sempre com um carinho pessoal… uma estima, um respeito. Já não te deves lembrar, porque agora és um novo Paulo Bento. Eu bem te dizia que ias sair do Sporting melhor do que entraste. E que todos os erros que cometeste, mas nos quais teimosamente teimaste, deixarias de cometer assim que os teus moinhos de vento fossem outros. Ficámos nós, em ruínas, agarrados ao nosso televisor analógico e antena coaxial, a preto e branco, de risca ao meio.  E tu já estás na era da fibra, 100 megas, net+tv+telefone, cabelo puxado para a frente.

Paulo, percebes bem a ironia? Percebes bem o que se está a passar, aos olhos de quem sofreu por ti, contigo, por tua causa, por causa da tua teimosia, da tua cegueira? O teu cabelo é só um sinal exterior da tua modernização. Ou, na minha perspectiva, da tua sistema(tização). Ver-te ao lado das trombas deste sistema, depois de tanto te teres rebelado contra ele, dá uma certa vontade de sorrir. Mas não acho muita piada. Enfim, “eles” agora são os  “teus”, portanto, toma lá o primeiro sapo. Engole e não cuspas.

Mas há outros sapos, uns para nós, outros para ti.
Carlos Martins. Sim, contigo ele nunca mais jogava no Sporting. Uma atitude irresponsável para responder às atitudes imaturas dele, que foi à sua vida e aparece agora no teu primeiro onze, regenerado mentalmente, com as mesmas limitações no seu futebol. Sapo para ti. Um gigantesco sapo para ti. É bem feito, ele ganhou, nós perdemos.
Varela. Aqui, também o trabalho dos outros fez-te ver onde estava o segredo deste jogador, a quem tu lhe pediste para fazer uma coisa que ele não sabe fazer. Sapo para nós, atestado de incompetência para ti.
Moutinho. Vês como o Moutinho, estabilizado na posição em que se formou (contigo), rende? Rende o que rendia antes de tu quase lhe destruíres a carreira, com as constantes mudanças para tapar buracos. E que plantaram a semente para a desgraça que se abateu sobre nós. Sapo para nós.
Nani. Este Nani nós não o vimos nem de perto. Vimos lampejos, exactamente quando tu começaste a implicar e a disciplinar o puto ao ponto de ele querer sair e… acabar por sair. Sim, ele reconheceu que tu tinhas razão, quando já estava a lidar com gente que o fez evoluir sem revolta. Grande consolo… Sapo para nós.
4-3-3. Estás a ver como até funciona? E reparaste que funciona quase só com jogadores formados pelo Sporting. Três dos quais tu “forçaste” a jogar no maldito losango, por causa de um jogador que teria jogado agora sozinho na frente se não estivesse lesionado (porque fê-lo com os seleccionadores anteriores). Enfim, sapo para mim, sapo para ti. Maior para mim, mas também grandote para ti.

E chegámos à cerejinha no topo deste belo bolo de sapos. Dizes que “temos de o fazer [ganhar na Islândia] para trazer mais gente no próximo jogo em Portugal. Temos de dar ainda um bocadinho mais ao público. Quero que os jogadores conquistem o público”. Ó Paulo, porra, pá. Então já não mandas ninguém para o cinema? Agora queres dar tu show? Achas que o futebol é para ser visto pelas pessoas? Incrível!

Sabes, Paulo, eu gosto muito da Selecção. É daquelas merdas geracionais, estive na Luz contra o Brasil, nos sub-20. Tenho mais ou menos a mesma idade da geração de ouro. Não se explica, mas gosto muito da Selecção. Tu conseguiste algo que ninguém tinha conseguido desde os meus tenros anos… nem o palhaço do Oliveira, nem o bimbo do Scolari, nem o chato do Queiroz. Tu afastaste-me da Selecção, Paulo. Por tudo o que já te disse. Sinto-me o cornudo no casamento da ex-mulher que o traiu. Olho para a Selecção e custa-me imaginar que grande parte dela podia ter sido o teu Sporting, o nosso Sporting. E não foi… por tua causa. Posso ser injusto, mas é o que sinto. Desejo-te o melhor, acho que vamos ao Euro, na boa. Mas isso, até o Carvalhal conseguia. No Euro, vais voltar a ranger por todos os lados, porque ali já se joga com 1000 megas, videoconferências e cirurgias na net. É outro nível. Mas o teu novo pacote triple play vai servir-te durante muitos anos, não te preocupes. Já nós… continuamos aqui, agarradinhos à caixa que nos deixaste, a mexer na antena para ver se vemos menos chuva e sombras na emissão. Ah, e podes estar orgulhoso de mim, desde que disseste aquilo, devo ter visto mais de 200 filmes…

Casamento à Vista?

Adeus, Capitãzinho! Parece que sim.

É um clássico dos divórcios. A história começa assim. Primeiro vem o desamor. Depois surgem os pequenos problemas. A seguir, passa-se a embirrar por tudo e por nada. Acordar todos os dias de manhã e olhar para o lado torna-se um problema. Nesta fase, há quem assuma que a vida não pode continuar assim e se faça à estrada. Noutras situações, fecha-se os olhos e aproveita-se para fugir em frente. Mas a vontade e a alegria não são mais as mesmas. O barco começa a meter água por todos os lados. É a altura propícia para aparecerem os primeiros amantes. E quem não se conforma com o que tem mas demonstra falta de coragem agarra-se ao que lhe aparece de novo. É só coisas bonitas, projectos de futuro a dois e promessas de uma vida feita de felicidade.

Agora só falta Moutinho e Sporting dizerem o não. Assumirem isso e assinarem os papéis. Para que os dois fiquem livres de compromissos e possam dizer o sim a quem queiram. Segundo consta, até parece que o namoro vem de trás e vai acabar em casamento. Parabéns aos noivos. Na fotografia do enlace falta mesmo o Padre que tudo fez para abençoar esta santa união. Mas pode ser que o Paulo Bento se junte à festa e consiga reproduzir este modelo onde capitães imberbes promovidos a Senhores de Balneário mas sem liderança real, sejam capazes de passar à história pelo pior: Liderança auto-destrutiva, incapacidade evolutiva atroz, personalidade bipolar e infidelidade compulsiva.

É o fim anunciado para uma triste história. Um exemplo de má gestão desportiva. O Sporting enganou-se. Confiou cedo demais num homem sem princípios. E fez dele um exemplo. Insistiu no erro e enganou-se outra vez ao não o despachar quando a relação começou a azedar. O capitão também errou. Porque aproveitou mal as condições que um clube único dá aos jovens e nunca soube valorizar-se . Cresceu fora do campo, comprou casas, fez academias, casou-se, foi roubado pelo pai. A cabeça inchou. O corpo mirrou. Não se fixou em nenhuma posição, não fortaleceu os bracinhos para aguentar a braçadeira, não treinou remates, não aprendeu a marcar golos. Sonhou alto e ficou cada vez mais pequeno.

Por isso, ficou fora do Mundial. Com toda a justiça. E vai embora. Mais cedo ou mais tarde. Para o Porto ou não. Mas vai.