«Não tive tempo nem união, enquanto estive no Sporting. Talvez um dia fale melhor sobre o que se passou… Sinto que tinha competência para ser treinador do Sporting e que podia ter vencido o desafio. […] Até à minha saída sinto-me responsável pela situação do clube. A partir daí não me podem responsabilizar pelo que não me deixaram fazer. A equipa era nova, saíram jogadores que não deviam ter saído e era preciso tempo. A qualidade estava lá, mas com tanta descrença… […] Leonardo Jardim já mostrou ser competente, conseguindo sempre bons resultados, mas precisa de tempo para trabalhar, tal como Inácio e o presidente. Os sportinguistas devem unir-se em torno desta jovem direcção. Só assim teremos um Sporting forte e ganhador», Sá Pinto, in Record.
Sá Pinto
Mas alguém estava à espera do contrário?
Aos 30 minutos de jogo
Podem deixar o Sá na Hungria. Amanhã eu dou o treino (sim, porque se o gajo regressa ainda temos dia de folga).
Estranhos actos de gestão
Algo não bate certo quando um gajo passa de não convocado a titular (Xandão), e outro passa de titular indiscutível a não convocado (Elias).
Esforço, Dedicação, Devoção e Lágrimas: o lado racional
Terá valido a pena festejar com lágrimas, uma vitória sobre o Gil Vicente? Terá valido a pena gritar golo a plenos pulmões? Terá a revolução táctica sido pensada, ou fruto da vertigem causada pelo abismo? Terá Sá Pinto percebido que tem mesmo que mexer na rigidez em que amarrou o nosso futebol?
Estas são algumas das perguntas que se colocam, e que são completamente válidas. Afinal, depois de uma pré-época as soluços e de um arranque de época completamente engasgado, uma vitória arrancada a ferros não dá garantias algumas de que entremos no rumo certo. Nem de que Sá Pinto venha a revelar-se o homem certo no lugar certo. Mas dois pormenores ficaram, inegavelmente, demonstrados: primeiro, que a revolução táctica não foi feita assim tão à toa; segundo, que os jogadores acreditam que este treinador pode conduzi-los às desejadas conquistas (basta ver o que Ínsua acabou de escrever no twitter).
Ao entrar em campo numa fusão de 4-4-2 com 4-3-3 (Viola, várias vezes, era mais extremos do que segundo avançado, Pranjic deixava várias vezes a linha para se juntar a Rinaudo e Izmailov no meio), Sá Pinto cortou radicalmente com o Sporting mecânico, em que cada movimento da equipa parecia obedecer a regras de xadrez e onde o espaço para a criatividade ficava, unicamente, entre à inspiração de Carrillo. A entrada em jogo da equipa provou isso mesmo e, confesso, espanta-me ler que vários leões considerem que pouco fizemos para resolver o jogo na primeira parte. Para mim, fizemos a melhor primeira parte da época e, em condições normais, as três ou quatro oportunidades de golo claras (sim, claras) de que dispusemos, praticamente deixariam sentenciada a partida antes do intervalo e obrigariam o adversário a trocar a Marranita por uma Vanette, aumentando as possibilidades de mais golos surgirem.
Pelo meio, como aquele fio de água gelada que entra pelo isotérmico quando se decide ir às ondas no inverno, sofre-se um golo às três pancadas, golpe doloroso numa alma já tão amassada.
Depois, a meia hora do final, o murro completo na mesa. Sá tira um central e coloca Carrillo em campo. Se me disserem que isto não foi ensaiado, acredito. Se me disserem que não foi pensado, duvido. A falta de ensaio notou-se no tempo que os jogadores demoraram a assimilar o novo desenho, na forma muitas vezes atabalhoada como ocuparam os espaços, até no bloqueio cerebral, que podia ter custado um segundo golo e que Rui Patrício resolveu com silenciosa classe. O não ser pensado… não me parece que a entrada de Carrillo seja à toa, tal como a colocação de Izmailov e a forma como ele e Rinaudo se articularam para compensar a dificuldade do russo chegar-se à frente.
Se Sá Pinto teria feito algo do género num outro cenário. Provavelmente, não. Mas fez quando tinha que fazer. Arriscou em demasia?!? Foda-se, mas, afinal, em que ficamos? Se mantém o médio defensivo em campo é um maricas, se assume que temos capacidade para ganhar a adversários destes com as preocupações defensivas quase abaixo de zero é louco? Se querem que vos diga a verdade, Sá Pinto terá feito algo muito aproximado do que qualquer um de nós faria. Mais, Sá Pinto acabou por reforçar a minha tese de que, a jogar em casa contra 90 por cento das equipas do nosso campeonato, é encostá-los lá atrás de tal forma quem nem têm tempo para pensar em contra-ataque. Sim, porque, e custa-me que alguns de nós vão nas cantigas da imprensa desportiva, se o Gil jogou assim tão pouco não é apenas por ser uma equipa limitada; antes porque os nossos jogadores souberam fazer sobressair essa limitação com as diversas recuperações de bola feitas (mas isto não vejo ninguém, com responsabilidades editoriais, escrever).
Terá valido a pena festejar com lágrimas, uma vitória sobre o Gil Vicente? Terá valido a pena gritar golo a plenos pulmões? Terá a revolução táctica sido pensada, ou fruto da vertigem causada pelo abismo? Terá Sá Pinto percebido que tem mesmo que mexer na rigidez em que amarrou o nosso futebol?
Sim. Sim (sempre). Não sei bem. Não sei.
Mas sei que, e já o disse, vi algo sem o qual qualquer genialidade táctica vale tanto como engatar a Monica Bellucci e sofrer de ejaculação precoce: vi todos a remar para o mesmo lado, acreditando no seu líder. E isto é coisa para permitir que o meu lado racional abra espaço à emoção, à fé de puto Sportinguista que, por mais anos que passem, não quero deixar de ser e que só pede que o deixem manifestar-se mais vezes.
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Alguém sabe do paradeiro deste gajo?
Carta a Sá Pinto
Agora que já consegui colocar a maioria das ideias no lugar, creio estar em condições de poder dizer-te o que penso sem ter que armar-me em Luís Duque (a propósito, de o vires, junto à caixa da gomas, diz-lhe que faz mais sentido ouvi-lo mais vezes a ele do que ao Eduardo Barroso). Não é fácil encarar uma situação que, se a memória não me falha, é inédita: estar, ainda em Agosto, a questionar o que resta da época, com a amarga sensação de que, em vez de evoluirmos, estamos a retroceder. Mas, vamos por partes.
Ponto prévio. Não ponho minimamente em causa que cada mau resultado seja uma enorme facada em ti mesmo. No fundo, é como se eu estivesse a treinar o Sporting: juntaria à paixão clubística a minha profissão, o que ampliaria o sofrimento. Mas se o facto de ter um treinador Sportinguista pode servir para tornar as conquistas ainda mais saborosas, não posso aceitar que se faça disso critério para escolher um treinador. Nesse caso, eu junto o curso aos anos que passei jogar futebol e candidato-me, até porque sou Sportinguista há mais tempo do que tu (ontem descobri uma foto de grupo, quando entrei para a preparatória, onde, na minha pessoa, para além de um casaco inacreditável, se destaca o facto de estar a utilizar o cachecol do Sporting e um corte de cabelo à Douglas).
E, não querendo colocar em causa as tuas qualidades, continuo com uma certeza: foste escolhido para calar os adeptos e dar margem de manobra a uma direção meio à deriva. Talvez não tenhas percebido isso ou, se percebeste, decidiste seguir em frente acreditando seres capaz de ultrapassar tão arriscado desafio. Sabes que a direção tudo fará para não te deixar cair, pois ficaria sem escudo para negociar com as claques (triste, tão triste esta promiscuidade com gajos que agridem e roubam bilhetes a adeptos do mesmo clube e que, cheios de estilo, assobiam os jogadores enquanto entoam cânticos de apoio ao treinador), mas também correr o risco de, queimando etapas, acabares por deixar fugir por entre os dedos o lugar que tanto desejarias e que, com alguns anos de maturação pelo meio, poderia vir a ser teu sem estas frustrantes e traumatizantes dores de crescimento.
E, a propósito de momentos traumatizantes, parece-me, Ricardo, que não terás dado a devida importância ao que se passou na final da Taça de Portugal. A derrota com a Académica, fruto de um jogo patético taticamente e vergonhoso em termos de respeito pela camisola verde e branca, deixou-te com muito, mas mesmo muito menos créditos para utilizar junto dos adeptos. Esperava-se que esse jogo servisse de lição, mas… nada. Pelo menos a julgar por aquilo que vamos podendo ver.
Temos uma equipa que padece dos mesmos problemas apontados num passado recente: muita posse de bola, poucas ideias sobre o que fazer com ela. Pior, este jogo contra o Rio Ave fez-me recuar ao tempo do maldito losango que qualquer treinador parecia capaz de emperrar. Agora, é o teu 4-2-3-1. Sem capacidade para, sequer, transformar-se num 4-1-4-1 de tão boa memória para nós, quando Duscher deixava Vidigal para trás e se juntava a Barbosa no apoio a Acosta, com as alas entregues a Di Francheschi e Mbo. Os médios parecem peças de xadrez, pesadas, sempre à espera de um empurrão para mudar posições. Os adversários sabem que pouco os incomodamos por ali, dão-nos as alas e convidam-nos a centrar para um gajo perdido entre a defesa contrária. Zero ideias igual a zero golos. Elementar, ainda para mais quando nos mostramos incapazes de aproveitar as bolas paradas.
Mais, dizias, na conferência que antecedeu essa maldita noite de segunda-feira, que existia um plano de jogo e uma tática alternativa. O 4-1-5 em que terminámos, com uma mão cheia de miúdos entregues a si mesmos, sem uma voz de liderança, esperando que um rasgo individual resolvesse qualquer coisa? Com um Carrillo a ter que assumir o jogo, primeiro nas alas, depois a médio, pondo-se a jeito para, depois, ser criticado e assobiado? Valerá a pena perguntar-te qual a lógica de teres mantido o Gelson em campo? Não entregares ao Elias a responsabilidade de agarrar a equipa? Tu acreditas mesmo que os jogos se resolvem substituindo… os três médios a quem concedeste a titularidade (assumes o erro da escolha ou é mesmo falta de génio)? O que é que te passou pela cabeça para, frente à merda do Rio Ave, estares todo preocupado em parar contra-ataques (falhou, tal como havia falhado na Dinamarca, com a triste figura de quatro ou cinco gajos serem “comidos” por dois), repetindo um figurino que, viu-se em Guimarães, não nos leva a lado nenhum?!? Tu achas mesmo que aquela tripla de meio-campo nos dá dinâmica?!? Achas mesmo que o Gelson tem outra utilidade que não a de varrer o meio-campo em jogos taco a taco ou em situações em que tenhamos que preservar a vantagem?
Por fim, e não menos preocupante, o discurso. Para dentro e para fora.
Confesso que, quando te escolheram, acreditei que a tua maior arma seria a capacidade de motivar os jogadores. Aquela final da Taça mostrou, precisamente, o contrário. E estes três primeiros jogos oficiais continuam a passar-me a sensação de que a mensagem não está a passar (com a agravante de estarem a ser criados casos no balneário, com a vontade de despachar jogadores), até porque, depois, chegas a uma conferência de imprensa como a desta tarde e afirmas que a equipa está alegre com o tipo de futebol que pratica. Peço-te desculpa, mas de alegre este futebol tem pouco.
E, depois, o discurso para fora. É muito bonito dizer que somos o Sporting, que não temos medo, que jogamos para ganhar, etc etc, mas penso que devias ter mais ponderação nas palavras que escolhes para aproximar os adeptos. Agradecer-lhes o apoio e fazer-lhes promessas, de nada vale quando entras no ridículo de afirmar que estamos a praticar um futebol de qualidade, que estamos muito fortes ou que a sorte tem sido injusta connosco.
No fundo, Sá, e com muita pena minha, olho para ti e já te vejo como parte do problema. É verdade que não tens culpa que Paulo Bento, Carvalhal, Paulo Sérgio e Domingos me tenham torrado a paciência, com futebol de merda e discursos repetitivos. É verdade que não tens culpa que as nossas direções acreditem que faz todo o sentido continuar a não apostar num treinador de créditos firmados, transformando o Sporting numa espécie de centro de formação profissional para treinadores (e, agora, de adjuntos. É olhar para aquele banco e perguntar quem é que percebe, realmente, do assunto). Mas tens culpa de, por exemplo, me fazeres lembrar a teimosia de Paulo Bento em colocar Custódio a titular, recusando-se a aceitar que Miguel Veloso não era defesa central, perdendo vários pontos à custa disso. E tens culpa de estar a utilizar um discurso que me deixa tão ou mais irritado do que o paupérrimo futebol apresentado.
Ganhar amanhã é uma obrigação, e deverá ser encarado com a maior naturalidade possível. Inaceitável, é que uma obrigação possa servir para camuflar tudo o que não tem estado bem. É por isso que, muito sinceramente, não sei o que esperar dos próximos tempos. Se gostaria que tudo se invertesse? Claro. Já te disse que isto não é pessoal. Se continuo a acreditar que podemos conquistar títulos? Claro, mas, por hora, é mais emocional do que racional. Tal como o que sinto em relação a ti enquanto treinador. Mas algo me diz que ficarás gravado na nossa história. Seja pelas conquistas, seja por não conseguires inverter a situação e provocares um rombo tão grande no nosso barco que, dificilmente, o estado das coisas voltará a ser o mesmo.
O solista…
Coincidindo com a anunciado episódio do meio desta trilogia sobre o balanço da época, foi noticiado prolongamento do contrato com Sá Pinto por mais um ano. Vale o que vale, até porque já vimos o actual presidente a fazer juras de amor na véspera de uma chicotada, mas obriga-me a ir direito quase ao fim do post: independentemente de ser por mais um ano ou por mais dois, concordo com a continuidade de Sá Pinto. Ou, se preferirem, considero que seria um erro estarmos a começar novamente do zero e que ele justifica a oportunidade de começar uma época e tentar levar a nau verde e branca às conquistas.
Voltemos, então, ao início. Afirmei, e continuo a ser dessa opinião, que Sá Pinto serviu, inicialmente, como um escudo para o fracasso da escolha Domingos e para os maus resultados que começavam a incomodar em demasia. Nome querido à maioria dos Sportinguistas, Leão de corpo e alma, figura próxima das claques, Ricardo Sá Pinto acalmou as hostes que pediam sangue e agarrou numa equipa completamente escaqueirada física e animicamente.
Ora essa terá sido, precisamente, a primeira grande vitória de Sá Pinto: conseguir motivar as tropas e tirá-las do espartilho que esmagava a motivação e a crença. Numa entrevista recente ao jornal Sporting, o velho Manel Fernandes afirmava que o seu treinador preferido havia sido Malcom Allison, pela capacidade que tinha de fazer com que os 30 jogadores que compunham o plantel gostassem todos dele. Não sei se todos gostarão de Sá Pinto, mas a verdade é que deixou uma marca nos juniores que acabaram por sagrar-se campeões e tem merecido os mais rasgados elogios e juras de solidariedade por parte dos jogadores.
E foi essa solidariedade a imagem de marca da equipa, principalmente no trajecto feito na Liga Europa. Foi essa mesma solidariedade que faltou na final da Taça e que motivou a que o treinador, pela primeira vez, se tenha mostrado desgostoso e desiludido com os homens que comanda, contrariando um discurso positivo em que, mesmo nos jogos sem brilho, elogiava os que tinham estado em campo. Aliás, esse será o grande mistério destes primeiros meses de Sá Pinto como treinador do Sporting: a imagem de pouca motivação e pouca vontade no jogo mais importante do ano. Só ele e os jogadores poderão explicá-las.
Do maior mistério para os maiores desafios: contrariar o futebol autocarro que muitas equipas apresentam e conseguir ganhar fora cerca de 90% das vezes que se ganha em casa.
Se Alvalade se tornou, como é obrigatório para alguém que quer ser campeão, a casa onde finalmente mandamos, as deslocações foram praticamente todas ausentes de vitórias. Existirá, provavelmente, mais do que uma única justificação, mas um dos factores é, sem margem para dúvidas, a ausência de um futebol que consiga provocar desequilíbrios. É inegável que o Sporting pratica um futebol previsível, onde os extremos e as subidas dos laterais têm papel preponderante. Mas falta dinamismo no meio. Falta, por exemplo, ver os médios surgirem junto à área adversária a criarem superioridade, a rematarem, a marcarem. No fundo, falta a Sá Pinto conseguir aliar a boa organização atingida, capaz de bloquear adversários como City, Benfica ou Porto, à envolvência atacante que os adeptos do Sporting exigem. A envolvência que surgiu em alguns momentos, como a primeira parte em Manchester, o jogo contra o Guimarães, o jogo contra o Benfica, o jogo contra o Braga. Tudo jogos em que o adversário também procurou atacar. A excepção terá sido a segunda parte frente ao Bilbao, em Alvalade, onde a fúria leonina quase partiu os alicerces da estrutura defensiva adversária.
Assim, e como a vantagem de uma aprendizagem à força que lhe dá um conhecimento sobre as capacidades (ou falta delas) dos jogadores, Ricardo Sá Pinto partirá para 2012-13 com o desafio de mostrar que percebeu que, para atingir o sucesso, é preciso algo mais do que apertar com eles. E que, para jogar à Sporting, é preciso mais do que manifestar essa vontade em apelativas conferências de imprensa.
Já cá faltava
«Este Sá Pinto treinador do Sporting! Tirou Xandão da equipa porquê? Gostaria de saber».
De acordo com o Record, as palavras pertencem a Márcio Rivellino, empresário de Xandão, e terão sido escritas no Twitter.
Eu confesso que também acho estranho o súbito afastamento de Xandão. Poderá querer dizer que o Sporting não vai avançar para a compra, cifrada em 3 milhões, o que, quanto a mim, seria um erro (por aquilo que o central já mostrou e pela margem de progressão que tem). Ou poderá, simplesmente, querer dizer que Sá Pinto prefere Oniewu e Polga.
Mas o que me irrita, mesmo, é esta tendência dos empresários abrirem a boca apenas para dizer merda.