Há duas formas de olhar para o jogo de ontem: olhar, apenas, para o resultado, dizendo que isto é mais do mesmo e que o melhor é nem renovar a gamebox; olhar para o jogo e perceber que este Sporting, continuando a ter um longo caminho à sua frente, é um Sporting que apresenta excelentes indicadores.
A primeira parte é perfeito exemplo disso mesmo. Só quem pretender ser tendencioso, ou mesmo parvo, pode afirmar que ao longo dos primeiros 45 minutos houve outra equipa em campo que não o Sporting. O Braga, salvo aquele remate à entrada da área que passou perto do poste de Patrício, foi completamente estrangulado no seu meio-campo não conseguindo, sequer, sair em lances rápidos de contra golpe. Os onze leões foram uma equipa, tanto a defender como a atacar, apostando na pressão constante, na procura da bola e inventando formas suficientes para chegar ao golo. Faltou isso mesmo, o golo, algo que o adversário conseguiu no segundo dos dois únicos remates que fez durante o jogo. Claro que a eficácia também conta, e muito, e que as vitórias morais valem o que valem, mas, neste caso, nem é apelar a este tipo de sentimento; é olhar para uma equipa à procura de sê-lo, com jogadores que treinam juntos há duas semanas (ou menos) e que procuram assimilar as ideias de um técnico em quem devemos confiar plenamente (a primeira parte de ontem é mais um ponto a favor de Leonardo). É olhar para um trabalho que, ao fim de um mês, nos permite ver coisas que andaram tão distantes no último ano e meio (pelo menos). É olhar para um trabalho que se quer de fundo, criando bases que vão muito além desta época. E, não me lixem, só um cogumelo pitosga não consegue ver que essas bases começam a ganhar alguma consistência.
Acontece que, a partir de agora, esse solidificar terá que ser promovido em competição e com muito menos margem de erro (e quase todos os golos sofridos resultam de erros um bocado primários). E com muito menos margem para experiências, algo em que o nosso treinador apostou ao longo destes amigáveis (e bem, digo eu, pois servem exactamente para isso). No domingo, frente à Fiorentina, a equipa que entrar de início deverá ser a equipa que Leonardo Jardim já tem na sua cabeça como titular, mesmo que, uma semana depois, frente ao Arouca, um ou dois dos protagonistas ceda lugar a outro.
Pensando no que foi este mês de preparação, diria que há jogadores que são titulares de caras. Patrício, Cédric (cada vez mais consistente), Dier, Maurício, William, Adrien, Carrillo e Montero. Faltam três.
Posso dizer-vos que, pese os elogios recebidos ao longo de toda a época anterior, nunca fui muito fã de Jefferson. E continuo a não ser. Parece-me um jogador preso, talvez pelo peso da camisola, e a jogar constantemente em esforço. Deverá ser titular, até porque, espero, Evaldo não passa de uma brincadeira de mau gosto. Seja como for, e esta parece-me ser uma discussão eterna, continuo a defender que Rojo é defesa esquerdo. Ah e tal, é muito rápido e agressivo para central e coloca bem a bola à distância. O problema é que o argentino continua a mostrar graves lacunas posicionais, o que me lava a perguntar: porque raio é que todos os treinadores apostam no gajo a central, quando até podíamos ter ali um defesa esquerdo completo?
Faltam dois.
Acredito que André Martins completará o meio-campo, ao lado de Adrien e de William (está em melhor forma do que Rinaudo, claramente, embora Fito tenha entrado muito bem, ontem). Seja como for, a primeira aparição de Magrão deixou excelentes apontamentos, tanto técnicos como físicos (bolas disputadas) e deverá ser a próxima boa dor de cabeça de Leonardo Jardim. (e ainda há João Mário, que gostava de ter visto, pelo menos durante 45 minutos, a fazer de André Martins).
Falta um, para a ala.
Capel ou Wilson Eduardo? Eu acho que Capel dá uma alma à equipa que, muito provavelmente, nenhum outro jogador consegue dar. Dá experiência e, já o mostrou, resolve jogos. Wilson fez bons jogos de preparação e, ontem, foi um dos agitadores de serviço, permitindo, ainda, transformar o 4-3-3 em 4-4-2 quando se chegava a Montero e oferecia a ala a Magrão. Resultado? Que bom é poder ter opções.
Depois, depois olhamos para os que sobram, entre plantel principal e equipa B, e somos levados a sorrir. E, permitam-me o desabafo, não acreditar nesta matéria humana e no que ela poderá dar-nos a médio/longo prazo é um exercício de profunda má vontade.