Eu quero que o Bruno Carvalho ganhe

Eu quero a ruptura. Eu não quero o Domingos, é a personagem do futebol português que mais mal fez ao Sporting. Odeio-o, futebolisticamente. Eu não quero o Baltazar, o novo carro descontrolado, com uma bandeira na mão e um penhor na outra. Eu não quero o Futre, não quero que o Futre venha desenrascar-se para Alvalade. Não quero o Zeferino Boal, nem o Abrantes Mendes, que prolongarão a piada nacional em que se transformou o Sporting. Não quero consensos, generalidades, nacional-porreirismo. Não quero mais Carlos Freitas, mais Evaldos, Postigas, Alans ou Hugos Almeidas.

Gosto da cara de zangado do Carvalho. Estava zangado no debate, enquanto os outros lançavam sorrisinhos uns aos outros, a começar pelo maior erro de casting da história da democracia sportinguista, como o é o Godinho. Carvalho está zangado, quando apresenta os russos, o Van Basten. Está fodido. E eu sei porquê. Todos sabemos porquê. Mas eu não vejo isso nos outros, todos sorrisinhos. Para eles, o Sporting é um negócio, um degrau na carreira, uma necessidade de protagonismo. O Bruno Carvalho? Zangado.

Entendo o medo do desconhecido. Mas não compreendo. Não compreendi como é que o Bettencourt ganhou com 90%, por exemplo. Por medo do desconhecido. É precisamente o desconhecido que me atrai no Bruno Carvalho. O Sporting está a viver um processo de valeazevidização, foram todos os outros candidatos que o criaram, alimentaram, acompanharam, aproveitaram, lucraram, saíram, entraram, criticaram, elogiaram. Eu quero o que não conheço, porque o que conheço foi e vai continuar a ser muito mau.

Eu quero que o Bruno Carvalho ganhe. Porque, racionalmente, cumpre os meus requisitos: ruptura com o Porto (não o disse, mas não vai apresentar como treinador um símbolo, um adepto, do Porto… mas será que ainda ninguém se fartou disto?), auditoria (basta-me a promessa), outros parceiros financeiros (são russos, óptimo, têm dinheiro; mafiosos por mafiosos antes ricos que pelintras como os que temos agora), treinador estrangeiro, com carisma e currículo (faltam os títulos, mas também aos outros), um director para o futebol com passado leonino (é revelador a conversa do Duque sobre a importância do Inácio no título… revelador e triste), projecto para as modalidades (o mais fácil, dado o passado na Fundação). É amador, na comunicação, na apresentação, no discurso? Excelente, não usa as armas dos outros, que tanta areia atiraram para os olhos dos sportinguistas. O Van Basten? Alguém noticiou, viu-o, soube dele, desconfiou? Os russos, alguém antecipou? Pois…

Eu quero que ele ganhe. E vou votar no Bruno Carvalho. Porque, emocionalmente, não me passa, sequer, pela cabeça que haja outro vencedor. Seria um contributo dos sportinguistas, o mais importante de todos, para o prolongamento da situação de impunidade em que viveram, durante anos, os dirigentes do Sporting. Aquela azia, repetida, de perder jogos, ser gozado, sem que ninguém se demita, ninguém se responsabilize, todos a assobiar para o lado, todos a comer salgadinhos nos halls VIP de Alvalade, à nossa custa. No próximo sábado, se não ganhar o Carvalho, os sócios vão estar a alimentar essa filosofia de impunidade. Terão o clube que merecem, então. E eu terei que desligar o cérebro, quando voltar a entrar em Alvalade. Para aplaudir a equipa do Domingos, do Futre ou do Baltasar.

PS: perdoem-me a insistência, mas como é que alguém acha que o Domingos é um trunfo eleitoral? A sério!?!? O Domingos? De todos os lacaios do Porto, o Domingos vai trazer votos? A sério? Nem vontade de rir, dá… E não é pelos seus méritos profissionais, é pelo facto de continuarmos a ser um clube B do Porto. Um clube domesticado. Alguém vota nisto?