Ela é linda

Foi amor à primeira vista.

Vínhamos de uma relação falhada, frustrada, traumática. Tínhamos sido mal tratados, estávamos doridos, feridos. Tínhamos problemas de autoconfiança, uma crise de amor próprio e vulneráveis emocionalmente. Ela apareceu do nada, naquele jeito despreocupado, ignorando o nosso passado. A mera visão da beleza prometida fez-nos apaixonados, irracionalmente.

As primeiras trocas de olhares, os encontros fortuitamente planeados, a pré-época da nossa relação, foi culminada com a primeira noite. Mágica, intensa, tão inesquecível quanto inesperada, apesar dos nervos. O fuso horário tornou tudo mais especial. E, entretanto, ela continuava a juntar argumentos, continuava a olhar de volta, sempre com novos brilhos, novas promessas.

Voltámos a casa e caímos no chão. Ela não estava a cumprir o que tinha prometido. Mostrava os mesmos defeitos da anterior paixão dolorosa. Parecia tudo igual, demorava a consumar o que prometia, tinha problemas de saúde, como a outra, tinha defeitos, os mesmos que a outra. Seria ela ou seríamos nós? Estaríamos a projectar os nossos traumas nela? O problema se calhar era nosso.

E de repente, numa noite avulsa, ela voltou. Contra todas as probabilidades, o encanto voltou. Do caos fez-se luz. As discussões, as gritarias, os choros, a raiva – naturais quando dois seres tentam compatibilizar-se à pressa, sob intensa pressão – ameaçavam tudo. Mas uma superior necessidade de sobreviver, de fazer bem, de escapar ao destino, transformou-a. Primeiro com sofrimento, com suor e lágrima, depois com confiança, com ego, agora com encanto, com magia.

Estamos apaixonados. Ela é linda.

Estamos empurrados por um “segundo vento”. O cabelo cheira bem, o torso é renascentista, as pernas fortes mas elegantes, tem uma personalidade especial, ri como nenhuma outra, das coisas certas, pensa, fala e escreve como os melhores poetas e filósofos. E é prática. Humanamente prática. Eficaz, tem noção das suas próprias limitações, mas contorna-as com sentido de humor e uma frieza nórdica. E a cara, deuses… baby face… killer.

Van Wolfswinkel. Explica o encanto. É a primeira coisa que se vê nela. A cabeça. Diego Capel. Vê-la mexer-se assim, aquele gingar, aquela pose, dá-mos um arrepio pela espinha. Elias. As pernas. Longas, lindas, vitais. Schaars. A personalidade, o carisma. Rinaudo. A paixão, o coração. Onyewu. A força, a imponência de um corpo olímpico. Matigol, a magia, a poesia. Carrillo. O ego. O id. O superego. Insúa, o pragmatismo, o realismo. Rodriguez, a maturidade. João Pereira, a inconsciência. Bojinov, a paixão. Jeffren, a  promessa de uma vida constante em comum.

Ela é linda e estamos loucamente apaixonados. Cada noite em casa é tão inesquecível quanto a ressaca do dia seguinte é desestabilizadora. Escrevemos o nome dela nos cadernos, cravamos as árvores com os nossos nomes, contamos os minutos até à próxima noite. Fora de casa, o sentido de aventura aumenta os níveis de adrenalina e destrói-nos o resto da vida pessoal.

O prazer de viver com ela é ininterrupto. Mas é finito. Em breve, acabar-se-á a paixão. Seremos confrontados com os seus defeitos. A vida em comum é isso mesmo. Teremos de aprender a viver com as curvas que a vida dá, que o futebol dá, aprender a não descarrilar, juntos. Temos de passar por cima das contrariedades, saltar ao mesmo tempo, aguentar as oscilações hormonais, os buracos negros da química que agora é tudo. A nossa paixão, hoje, é um treino. É um enraizamento para nos preparar, para nos segurar no meio das tempestades que se avizinham. Nestes momentos de encantamento, temos de estar conscientes que estamos a trabalhar-nos para o futuro, a esculpir a cumplicidade que nos fará sobreviver a todas as crises e a todos os nossos inimigos.

Antes de melhorar, vamos piorar. Vamos cair outra vez. E vamos levantar-nos, olhos nos olhos, à procura da velha paixão que nos consome agora e que nos salvará depois. Só então estaremos preparados para fazermos algo juntos, que ficará para sempre, para a história, a nossa e a dos outros. O filho da nossa paixão demorará o seu tempo, mas se nos lembrarmos de como ela era linda quando a conhecemos, como ela é linda agora, como ela pode ser linda sempre, mesmo quando não parece, esse filho chegará, custe o que custar, demore o que demorar. Se da paixão se fizer amor, seremos campeões!

 Sporting!

PS: Este é o meu último texto no Cacifo. Oficializo assim a saída que já era oficiosa. Faço-o por muitas razões que não interessa explicar. O Cacifo fica em boas mãos. Sem mais. “Douglas is dead, long live o Cacifo!”

Crítica da Razão Pura

Acabou o treino. Agora vai ser a sério. Chegados aqui, ficaram-me vislumbres de coisas. Serão reais? Para mim são. Porque para mim é clara a resposta à questão fundadora da obra de Kant: “quais são os mal-entendidos e as ilusões que podem insinuar-nos nos raciocínios cuja premissa maior é extraída da razão pura (premissa que talvez seja mais uma petição que um postulado) e que se elevam da experiência a essas condições?”

Peticionemos então:

Marcelo Boeck: Vi um guarda-redes bem parecido. Bonito até. De sorriso brasileiro, mas com aparência nórdica, capaz de nos convencer que pode ser má ideia organizar a próxima AG numa ilha norueguesa. Os reflexos estão lá e podem ser-nos úteis se tivermos de arrumar a loiça ainda quente, acabada de lavar na máquina. O potencial de marketing é ilimitado, tendo especialmente em conta o nosso patrocinador Super Boeck.

Atila Turan: A imaginação é pouca para a utilização de um jogador cujo primeiro nome é Atila. Gostei dos carrinhos a antecipar a recepção de bola do adversário. Chamam-se carrinhos orientados. O Barcelona já nos disse que Atila era bom. Mas quem viu aquele pontapé a 40 metros não precisava desse carimbo de validação. Participou na insolvência do seu anterior clube, o que só reforça o papel que pode ter na renegociação do passivo bancário do Sporting.

Oguchi Onyewu: Um homem entre meninos. Um estivador. Um primeiro nome japonês, um segundo nome nigeriano, força bruta, ombros largos, pés grandes, cabeça dura. Dá vontade de apertar os bíceps. É componente essencial do binómio Bud Spencer-Terrence Hill do novo Sporting, sendo o Terrence Hill qualquer jogador que agrida um adversário e o Bud Spencer o calmeirão que assegura que o Rinaudo não sofre represálias. Morato socorreu-se de uma expressão brasileira para falar do amaricano, segundo a qual “a bola é feita de pele de vaca, a vaca come erva e a bola é para jogar pelo chão”. Errou. Porque com Onyewu a vaca fica no chão, pouco importa a bola. E, na minha lógica, é a vaca que dá leite, não é a bola.

Alberto Rodriguez: O mudo. Com mais dez centímetros e estava no Porto. O que diz tudo. Em qualquer luta de gangs sul-americanos há sempre um elemento que se guarda para o fim da batalha, quando os músculos já doem e o fôlego escasseia, e aparece sem aviso para espetar a faca no baço do líder do outro gang, arrumando de vez com uma guerra fraticida. Esse elemento no Sporting é o Rodriguez.

Santiago Arias: A pré-época está a ser feita ao mais alto nível, num mundial. E, até agora, tudo o que fez, fez com grande classe. Marca golos, sofre penalties, tira fotografias com o James Rodriguez. E já se fala no interesse dos grandes italianos. Se não vestir a camisola verde-e-branca, representará a maior venda do clube desde o Veloso.

Fito Rinaudo: Rinaudo merece a Razão Pura. Emociona-me. Partilho uma confidência: vi o jogo contra a Udinese quase de madrugada, cansado, fisica e mentalmente. Em diferido. Distante do mundo real. Vi o jogo como se de uma fábula se tratasse. Cada carrinho em esforço, cada salto indignado com o árbitro, cada corrida de perna aberta em posse, cada imagem dos calções arregaçados, o look menino do coro, a agressividade terrorista, os passes teleguiados, o abraço de festejo… O Rinaudo entrou fundo no meu coração. Estou encantado, enfeitiçado. Quero-o no topo do mundo e que, para chegar lá, nos carregue às costas. Desgostoso, traído pelo resultado, “estava em campo” apenas pela minha fé. Já não me apetecia mais aquilo. E o Rinaudo deu-me uma lição: no minuto 89 a câmera mostra-o ofegante, exausto, com um olhar vítrio. Está rebentado, pensei; Minuto 90: Sprint em esforço para impedir em carrinho o remate frontal do quarto golo do adversário; minuto 92: sprint com a bola até um beco sem saída junto à linha final, onde conquista o penalty que atenuava a dor e devolvia algum orgulho. Eu já tinha desistido no meu sofá. Ele não, no relvado. Quero a camisola do Rinaudo como nunca quis a de um jogador tão cedo na época.

Stijn Schaars: É o Vermeer do meio campo leonino: a beleza está na simplicidade, a elegância está no traço. As párabolas dos seus cantos trazem à memória as trajectórias dos mísseis aéreos mais certeiros. A míriade de erros de pronunciação do seu nome é, ela própria, um sintoma do arsenal caleidoscópico das suas aptidões futebolísticas. Está para os centrocampistas como o Nivea Bálsamo está para os after-shaves… onde os outros picam, ele acalma, suaviza e hidrata. Não se pode pedir mais de um centrocampista carismático.

Luís Aguiar: zangado, quando vejo Aguiar penso em alguém que foi aos estúdios da RTP para se candidar a um emprego na informática e acabou na audiência da Praça da Alegria a ouvir receitas de Bacalhau à Brás. O homem está fodido. E está numa missão: arranjar no Sporting razões para sorrir. Não há melhor desígnio, na perspectiva de um adepto. Que sorria um dia, é tudo o que desejo a Luís Aguiar.

Diego Capel: Vai levantar o estádio. Isso é garantido. “Os mercados já descontaram” esse efeito de Capel nos sócios do Sporting. A perspectiva de ver um novo “mochilas”, a meter mudanças enquanto serpenteia pelos cones adversários, acalenta o adepto. O Futre original já apadrinhou o novo Futre. E quando sair, agarrado ao escudo, vai chorar mais, muito mais do que chorou em Sevilha. E vai agradecer a Alvalade. E Alvalade vai agradecer a magia. No mínimo, criará uma dúzia de lances que perdurarão no imaginário leonino. Tenho, aliás, um estranho feeling que Capel será dos últimos nomes a escaparem do meu envelhecido cérebro, já quando estiver a passar os últimos dias num lar.

Jeffren Suarez: Vai dar-nos o título. Disso tenho a certeza. Está fadado para o último danoninho. 4-0 do Barça ao Madrid não tem nada a ver com 5-0, numa perspectiva biblíca. O quinto foi obra de Jeffren e aqueles dois remates de pólvora seca contra o Málaga mostram o que aí vem. As diagonais ensaiadas também. Estamos na presença de um crack, de raízes venezuelanas, que dão sempre jeito. É culto no futebol e domina todos os fundamentos. E ganhou por osmose aquele verniz dos campeões. E vai passá-lo no balneário do Sporting como uma epidemia de vitória. Infelizmente vai regressar ao Barcelona mais cedo do que devia, o que é pena para nós, mas justo para ele.

Andre Carrillo: No outro dia perguntaram-me porque é que eu gosto de futebol. Tive de pensar um pouco. Serão os urros de alegria, com o coração a 1000, o pescoço rebentado, os joelhos sem força, como naquele golo do Djaló contra os lampiões em Alvalade? Serão os jogos mentais da pré-época? Ou as possibilidades? O incerto? Será a beleza do bailado colectivo, o poder do físico masculino, a inteligência artificial da máquina humana? Será a cultura enciclopédica da táctica ou a liderança de homens? A balística da bola ou partilha de emoções que nos ajudam a sentir-nos integrados socialmente? Será a cumplicidade de um abraço ou o agonismo de uma discussão? Tinha de dar só uma explicação: Podiam ser todas as anteriores, mas há uma acima de todas: a magia, o “regate”, o drible, a finta, o desequilíbrio físico proporcionado pela destreza humana de um pé com uma bola. O André Carrillo é isso. E se for mesmo isso, não precisa de ser mais.

Ricky van Wolfswinkel: Nesta pré-época o jogador com nome de personagem do Alô, Alô mostrou tudo aquilo que dará ao Sporting nos jogos a doer: não mostrou nada. E é precisamente por isso que será tão valioso: não se mostrará nos jogos, ninguém lhe ligará nenhuma, ninguém dará nada por ele… e quando menos se esperar, a bola vai aparecer dentro da baliza. Puro génio, este rapaz.

Diego Rubio: O balão encheu, encheu, meteu 50 mil em Alvalade, rebentou, esvaziou, ficou ali, morto no chão, com aquele aspecto velho e molhado de tanto cuspo. E veio o Diego, o Dieguito, pegou nele e soprou com a força da inconsciência lá para dentro, tentando meter ar onde já só há buracos. Soprou com tamanha força que olhar para o seu ar traquinas devolve-nos imediatamente a alegria de ser do Sporting. Este miúdo é do Sporting, no sentido em que poucos jogadores apareceram logo com o leão tatuado naquela testa franzida com que disputa todos os lances, naqueles remates do meio da rua, sem preparação. Para quê preparar o que é genuinamente bom. Já devemos alguma coisa a este miúdo. E temos a certeza que o que fez até agora vai voltar a fazê-lo quando for a doer. Por isso, e porque já me fez gritar “golo” três vezes em jogos da pré-época, eu tenciono saber se é possível registar um bébé com o nome Rubio em Portugal.

Valeri Bojinov: O Bojinov. Sou suspeito. Sinto-me ligeiramente parcial e talvez um pouco iludido em relação ao Bojinov. Gosto do Bojinov há muito tempo. Lembra-me aqueles momentos na preparatória em que andávamos semanas a cortejar a miúda dos ténis Vision, aproximando-nos das amigas, tornando-as nossas aliadas em troca de posters da Bravo, trocando bilhetinhos com piadas saloias, combinando lanches antes do regresso a casa, oferecendo cassetes com clássicos do metal dos anos 70, marcando encontros nas traseiras da escola… e quando finalmente ela chega às escadas do prédio atrás da escola, vem com herpes na boca. Eu quero curtir com o Bojinov. Quero ter a minha primeira vez com o Bojinov, agora que ele está no meu quarto, todo nu. Mas o Bojinov está com o período. Vamos esperar uns dias, então, para consumar esta paixão.

Voltando a Kant, “Nem o entendimento, nem os sentidos podem, apenas por si mesmos, errar”. Pois bem,

Vivó Sporting!

Excelente treino…

… para, espero, arrumar de vez com o Postiga e o Djaló no banco.
… para jogar em 4-3-3, com o meio-campo recheado por Rinaudo, André Santos ou Schaars, Matigol ou Luís Aguiar ou mesmo Izmailov.
… para meter Rubio a titular no ataque.
… para meter Carrillo a titular.
… para dar a braçadeira ao Rinaudo. Ou a outro qualquer, todos menos o Pereira.
… para perceber que continua a ser preciso um central de categoria. Só o Rodriguez é titular de caras.
… para rezar que o Arias e o Atila sejam mesmo bons…
… para perceber que os laterais são os pés-de-barro desta equipa…
… e que se este problema não for resolvido, não há marquês para ninguém.
… para dar mais tempo aos espanhóis.
… e para usar o 4-4-2 apenas em Alvalade e contra o autocarro.

De resto…

…. Vivó Sporting!

Bem vindos a Alvalade

Muita gente nova, um leão e 50 mil histéricos.

Bem vindos.

O objectivo é simples mas difícil: convencer toda a gente que hoje encheu Alvalade a voltar… nem que seja em Maio…

… e evitar sair ao intervalo debaixo de um coro de assobios. Porque Alvalade não é um estádio como os outros. É um estádio capaz das duas coisas: de encher o balão irracional e de o rebentar com a mesma força demencial.

E para a próxima, talvez fosse melhor convidar um Toulouse e não um Valência para fazer a festa.

O novo ídolo de Alvalade!

Em Toronto ainda estão a perguntar se havia mais alguém a jogar naqueles 40 metros entre as áreas! Que grande jogador!

A partir de agora vou passar a usar as calças pelo umbigo, porque é assim que o Rinaudo joga à bola (como observou e bem o Jordão).

PS: ganhámos em equipa e sem os quatro melhores jogadores de ataque… e ganhámos aos corruptos. Só bons sinais…

SPORTING!

Tina Turner

Se me apontassem uma pistola à cabeça e me dessem 60 segundos para falar do jogo, o que me vinha depressa à cabeça era:

oRinaudojáéinsubstituívelnesteSporting
oSchaarséopatrão
oIzmailovéosegredodacirculaçãodebola
oPostigatemdemasiadojogoparaaqualidadequetem
o442nãoacomodaoMatigol
aequipapressionaaltocomjogadorespróximosunsdosoutros
eoataqueéapoiadosemgrandesesticões
aequipaérija

se me dessem mais tempo, diria que:

a defesa continua sem velocidade na recuperação das bolas para as costas e coordena mal o fora-de-jogo. O Rodriguez resolve este segundo problema, mas o primeiro vai ser bicudo se os médios não pressionarem os passes longos.

e acrescentaria que só deu para perceber que o Wolfswinkel é fino, que o Rubio é grosso, que os cortes de cabeça do Onyewu mandam a bola para o meio-campo e que o Luís Aguiar está sempre de trombas.

E que o Polga, o Djaló e o Pereirinha  não fazem parte deste filme.

Já agora, onde está o Bojinov?

BANG!

PS: Se me dissessem, há dois anos, que o Diego Capel estaria no Sporting em 2011\2012, eu concluiria que ir ao Júlio de Matos falar de futebol era uma perda de tempo… e isso é que importa! O resto logo se vê…

Liga de Verão

Vivem-se tempos ímpares no Sporting Clube de Portugal. Tempos estranhos, mas bons. Ainda não vimos nada e ainda bem. Porque enquanto não vemos nada, vamos vendo o que quisermos ver. E, nestas alturas, até vejo a Liga de Verão, um inenarrável magazine diário sobre os treinos do Sporting (e dos outros). Os meus preferidos são aqueles que são narrados por alguém dentro do habitáculo individual de uma casa de banho de estação de serviço. Um serviço público, lá está, porque convém que esse alguém meta água nesta fervura, não vá qualquer excitação na voz narrativa provocar uma invasão dos telespectadores verde-e-brancos ao Marquês.

Hoje vi dois adeptos do Sporting a conquistarem um autógrafo. Nos quase 60 segundos deste momento “apanhado” pela fortíssima equipa de investigação jornalística da Liga de Verão, nesse minuto oscilei emocionalmente. Sorri à frase “um treino aberto aos jornalistas e a três adeptos leoninos”. Somos enormes, pensei. Continuei a sorrir, perante a justificação de cada um deles: “vim de Amesterdão para ver o meu Grande Sporting”. Assim, com maiúsculas e tudo. Os outros dois tinham feito “400 km”. Espantei-me, eu próprio, com este sportinguismo. Respect!, nas sábias palavras do nosso central calmeirão.

E quiseram um autógrafo “especial”, narrou o rapaz sentado na sanita. Nos poucos “frames” que demorou a revelar o desejado pelos adeptos, pensei em tantos: Paulinho, claro!, não, Domingos, para desfocar o azul e branco, ah claro, o Rinaudo, conhecedores que são da sua mordidela. Ou então, espera… Bojinov, como é óbvio*. O meu sentimento de respeito pelos dois adeptos rapidamente evoluiu para incredulidade. Eles queriam um autógrafo de Luís Duque! A sério? Vivem-se tempos extraordinários…

A fabulosa edição do Liga de Verão permitiu-nos ver uma sequência sem cortes que acelerou a minha montanha-russa de emoções: Duque oferece uma camisola do Sporting aos rapazes (é bonito), é confrontado com o pedido de autógrafo (ri-me, mas com alguma vergonha alheia), recusa e “empurra” os adeptos para os jogadores (sim, senhor), eles insistem e justificam (não percebo porquê), Duque não tem caneta (como é possível?), eles têm (naturalmente, somos os melhores adeptos do mundo!), ele dá mesmo o autógrafo, quase embaraçado (vergonha alheia outra vez)…

Ponho-me no lugar destes adeptos e imagino, em menos de um segundo, chegar à minha gente leonina a dizer “malta, tenho uma camisola das novas assinada pelo Duque”… seria espectacular, uma bomboca de puro humor nestes tempos felizes. Enquanto penso nisto, reparo que um dos adeptos vira-se e a fabulosa sensibilidade das câmaras da Liga de Verão apanha-o a limpar o olho, claramente emocionado…

Maricas!

Vivó Sporting!

*Hoje ensinei um bébé a dizer Bojinov. Agora, é esperar. Daqui a uns meses, quando começar a falar, terei a minha recompensa….

O Douglas está de volta

O luto acabou. O Sporting está de volta, e eu volto com ele. Com uma condição auto-imposta. Volto, mas volto sem cérebro. Desliguei-o. Deitei-o para o lixo. Acabou-se a análise crítica à gestão do Sporting. Não estou interessado em discutir aquilo que está viciado à partida pela minha consciência. As feridas do processo eleitoral sararam e eu não quero reabri-las. Não preciso delas, não preciso de dores de cabeça leoninas. Do Sporting, não quero consciência, quero inconsciência. Preciso é de estupefacientes verde-e-brancos.

Falemos então do novo armário de comprimidos:

Hoje foi um dia importante. Renovei a gamebox. E chegou o Bojinov. Comprei a insanidade e já tenho motivos para a pôr em prática.

Tenho uma relação antiga com o adolescente búlgaro. Gosto do gajo há muito tempo, acompanhei a carreira desde o início, em Lecce. Ao ponto de vibrar com os golos que marcava com o boneco Bojinov no PES, ou de comprá-lo logo no CM. Não sei porquê, mas é assim. É o meu fetiche, como descreveu certeiramente um amigo, hoje.

E o adolescente búlgaro é nosso! Com o Matigol, está feita a dupla de jogadores internacionais que já eram os meus fetiches antes de chegarem a Alvalade. Isto tem de ser mais que uma coincidência. Com o Izmailov, podia pedir pouco mais para reiniciar o meu ciclo de demência leonina. E depois há o gigante amaricano, que já tinha sido identificado há muito pelos olheiros do Cacifo, há o trinco argentino que tem tudo para dar finalmente dimensão mundial ao clube , temos putos para explorar, temos homens para jogar. Temos defesa, temos meio-campo, temos ataque… temos tudo para ser campeões!

Insanidade.

Lesões, falta de golo em todos os atacantes, quase total ausência da Academia, falta de experiência em Portugal?

Insanidade.

Vamos ser campeões, vamos encher o estádio outra vez, vamos meter medo aos adversários, vamos fazer-nos respeitar, na Luz, no Dragão, na Bola, no Record, vamos conquistar o adepto neutro, vamos voltar a trazer o sportinguista indiferente a Alvalade, vamos pôr o Rui Santos a gritar Sporting em directo, vamos abrir telejornais, vamos pintar a Moody’s de verde-e-branco e vamos salvar a Grécia!

Insanidade por escolha. Insanidade por critério.

Ao Sporting só peço endorfinas. Não quero mais nada. Não quero saber do Godinho, do PPC, do Nobre Guedes, do Carlos Barbosa, do passivo, do milhões por explicar, dos parceiros secretos, do profissionalismo mafioso, das percentagens dos passes, do passado do Domingos, do Polga, do Postiga, da vassourada, dos atropelos legais, da TMN a azul. Quero que façam o que têm de fazer para libertarem endorfinas na minha tola. Quero esquecer tudo o que se passou nos últimos anos. Quero o moral em vez da moral. O meu novo sportinguismo é amoral. Um junkie não faz juízos de valor. Apenas consome. Eu quero apenas consumir o Sporting, sem pensar na ressaca.

O Sporting está de volta e traz o Bojinov! Já posso ir dormir a imaginar as triangulações Matigol-Bojinov-Izma, os lances pelo ar do amaricano, os carrinhos do argentino, o pulmão do holandês, a insolência do outro holandês ou do peruano, os cabritos do outro chileno, a entrega do uruguaio, a classe do extremo que falta, que está guardado (era bom). A viagem começou e só pára no Marquês.

Sporting!

E a camisola é linda!