VOTO DE LOUVOR

Enquanto uns dão um voto de louvor que nem escandaloso é, por ser dado por atrasados mentais, eu louvo a rapaziada que jogou hoje à bola. Porque jogaram na táctica mais adequada aos jogadores do Sporting, porque jogaram, a partir de determinada altura, com gosto e libertos das amarras mentais, porque jogaram com um Vuk em forma, porque jogaram com o Matias a pegar na bola detrás, porque jogaram com a frescura de um puto, porque jogaram com o único jogador que morde no meio campo, a recuperar bolas. Porque jogaram à bola. E porque não jogaram com o Liedson e o Djaló. E porque jogaram com um rapaz novo lá na frente, um rapazote que entrou ao intervalo para o lugar do perdulário Postiga. Um rapaz que fez dez minutos espectaculares. E que desapareceu logo. Esperemos que não volte o Postiga, porque este rapaz dá muito jeito.

Foda-se…

“No dia 29 de Julho, no jogo com o Nordsjaelland, realizado na Dinamarca, o jogador Pedro Mendes sofreu uma lesão tendinosa incomum e extensa, localizada na coxa direita, sem indicação cirúrgica. Regressou aos treinos no prazo previsto, mas com a intensificação do processo de treino apresenta limitações em alguns exercícios específicos. Estas limitações resultam do processo cicatricial, devendo ser resolvidas cirurgicamente. Este procedimento terapêutico estará a cargo do Dr. A. Pereira de Castro e realizar-se-á hoje, ao fim do dia, no Hospital CUF-Infante Santo”.

Mas isto não era uma lesão que iria demorar duas a três semanas a curar?

FARTO!

Entro em casa e perguntam-me: “então, como é que ficou?”. “Empatámos”. “Como é que estás? Zangado, desiludido?” “FARTO!”.

Estou “farto”. O Sporting deixou de ganhar este jogo porque não continuou a carregar depois do primeiro golo. Um erro crasso, habitual em Alvalade, e simbolizado por duas jogadas de centro para a área do Nacional que acabaram no Rui Patrício, depois de sucessivos atrasos. Uma demonstração de falta de personalidade, qualidade, ambição, coragem e futebol, no sentido mais puro. O Sporting perdeu dois pontos contra um adversário muito fraco, macio, desperdiçou o melhor Vuk da época e um momento biblíco do Saleiro. Mas…

… já chega. Estou “farto”, já perdi demasiado tempo da minha noite com o Sporting, com este Sporting de incompetentes e inimputáveis.

Boa noite, vou fazer a minha vidinha.

O Bloco de Notas do Gabriel Alves – jornada 6

Sporting – Naconal
20h15, Estádio de Alvalade

“Mais do que jogar bem, é importante somar três pontos para estar na luta”, Paulo Sérgio.

Caro Paulo, espero que esta frase não seja o regresso da teoria de que quem quiser ver um espectáculo, o melhor que tem a fazer é ir ao cinema. Sim, temos que ganhar mas, parece-me, faz parte da história do Sporting empolgar quem está nas bancadas.
Vá, deixa-te de merdas, coloca de uma vez o puto Salomão a jogar (haja pelo menos um que joga bonito) e mete na cabeça desses meninos que, à sexta jornada, não há volta a dar: é ganhar ou ganhar!

O vácuo, os adeptos, as insónias e a cultura de vitória

O nosso capitão deu um entrevista ao jornal dos outros. Aparentemente, também já é o nosso, algo que já se tinha percebido durante a pré-época. Mas isso são contas de outro rosário.

A entrevista é, na sua essência, de um vazio assustador. Não diz muito mais do que diria num flash interview qualquer. As generalidades abundam, assente num discurso padronizado, aprendido nos cursos de comunicação futebolística das SAD. Por outro lado, a alienação da realidade é confirmada, sobretudo na ideia de que contra os lampiões “dominámos o jogo, tivemos mais posse de bola. No entanto, cometemos dois erros que foram fatais”.

Preocupa-me um capitão do Sporting a falar assim. Porque é um sinal de que os problemas não serão resolvidos. Serão “mascarados”. O benefício da dúvida – de que se trata de uma conversa para fora – não me sossega, pela infantilização dos adeptos que pressupõe. Mas enfim, o rapaz é novo e não se pode pedir um Oceano, quando ainda só se tem um riacho, fresquinho dos ares da montanha.

Mas há pedaços importantes que salvam a banalidade geral.

“O adepto sportinguista é um pouco instável emocionalmente, passamos de melhores para piores do mundo num ápice e isso tem de deixar de acontecer”. Ora, um capitão do Sporting assumir isto é de uma coragem evidente. E de uma utilidade fundamental. Ele depois mete água nesta ferida, mas é isto que a malta precisa de ouvir. Cada vez mais. Para perceber que somos parte do problema e recusamos, por vezes, ser parte da solução.

“Quando perco, não durmo”. Isto é um sopro de ar fresco na mercantilização do nosso clube.

“Vinha da formação, habituadíssimo a ganhar. No futebol profissional é mais difícil, mas queremos implementar aqui uma cultura de vitória”. Esta é a frase mais importante e paradoxal de toda a entrevista e, só por ela, já valeu a pena. Ora, o Sporting tem cultura de vitória na formação, que se perde no futebol profissional, curiosamente marcado, nos últimos anos, pelos jogadores da formação. Há, portanto, um fosso entre o que se faz na Academia e o que se passa em Alvalade. Porquê? Há muitas hipóteses, mas nenhumas certezas. A única, para já, é que são jogadores como o Carriço que poderão ajudar a resolver um dos dois principais problemas do clube: a identificada falta de cultura de vitória. Já quanto ao segundo – a competência -, esperemos que a “cultura” do Carriço não seja traído pela sua “competência”. Porque seria um dramático desperdício.