O fim da tranquilidade

Quando o Peseiro foi corrido, fui dos que apontou o nome do Paulo Bento como o sucessor ideal.
Apesar de várias vezes não concordar com as suas escolhas, a verdade é que durante meia época mais uma inteira, a passada, o Paulo Bento deu-me motivos para continuar a acreditar que ele era o homem certo para transformar o Sporting numa equipa constantemente ganhadora, com uma mentalidade forte o suficiente para deixarmos de fazer figuras de bombos da festa de cada vez que marcamos presença na Liga dos Campeões.

A verdade é que esta época tem sido uma autêntica miséria, tanto em termos de resultados como em termos exibicionais. Eu sei que há limitações. Eu sei que não existe banco. Eu sei que temos um presidente patético, para quem um penalti representa um copo de whisky. Eu sei montes de merdas, e outras acho que prefiro nem saber. Mas também sei que o Sporting não é isto! Ou melhor, é mas não pode continuar a sê-lo!

Eu gosto do Paulo Bento. Identifico-me com a sua forma de estar. Com a frontalidade com que diz e assume as coisas, mas a verdade é que essa forma de estar tantas vezes expressa na palavra “tranquilidade”, parece ter-me toldado o raciocínio. A mim e a milhares de sportinguistas. Mas o jogo da final da Taça da Liga foi a gota d’água.
 
Não posso admitir que nos apresentemos numa final mais preocupados em não deixar o Setúbal utilizar o contra-ataque, do que em meter aquela equipa mediana na área e bombardeá-los até a bola entrar.
Não posso admitir que não exista fio de jogo, nem uma real oportunidade de golo.
Não posso admitir que, sem justificação, o Pereirinha se sente no banco passado uma borracha sobre a evolução que vinha mostrando e, pior, para ter em campo um Abel para o qual não tenho paciência e um Izmailov doente e que não treina decentemente há mais de um mês.
Não posso admitir que se façam apenas duas substituições, nenhuma delas capaz de passar a mensagem de que se queria ganhar o jogo (será que não sabiam que não havia prolongamento?).
Não posso admitir que se insista em colocar o Polga a marcar penaltis, quando todos sabemos que o Polga é geneticamente averso a marcar golos e tem menos jeito para chutar à baliza que o Paulinho, e depois se venha dizer que os penaltis são uma questão de força psicológica. Porra, que força mental pode ter um gajo que sabe que o mais certo é falhar?!? (porque será que o Vukcevic nunca marca? será que o Liedson tem treinado penaltis?)
Não posso admitir que o nosso treinador perca uma Taça, sem jogar nada frente a uma equipa que nada joga, e dê uma conferência de imprensa cheia de tranquilidade tendo o desplante de, entre outras coisas, dizer que agoram iriam gozar os dias de folga agendados e depois começariam a preparar o jogo com a Naval (importante para atingir um objectivo que não era o principal, mas que mesmo sendo secundário é muito importante e faz parte de quatro objectivos pelos quais lutávamos, mas que agora já são três…)
Não posso admitir que ninguém da direcção tenha dado, ou tentado dar, uma explicação para o que se passou.

Nas próximas semanas, depois de irmos à Figueira da Foz e a Glasgow, temos quatro jogos em Alvalade: Braga, Rangers, Leixões e Benfica.
Por muito menos do que aquilo que actualmente se passa, corremos treinadores (Bobby Robson, por exemplo), e estou curioso para ver o que se irá passar.
Estranhei a resignação com que se aceitou o desfecho do jogo de sábado, mas temo o que se poderá passar nessa sequência de desafios caseiros que poderiam ser parte de um final de época vibrante.
Espero que o Paulo Bento e os jogadores tenham respeito por quem vai lá estar a apoiá-los, e lutem por conseguir o mínimo dos mínimos. Depois, é capaz de não ser má ideia deixarmos o Paulo Bento aprender a ser treinador noutro lado. Com tranquilidade.

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