Vitaminha B – o jogo

Vou ser o mais sincero possível: irrita-me, mesmo, aquele tipo de adepto que, após qualquer vitória, tem como primeiras palavras um aviso em tom quase paternal. «Cuidado com os deslumbramentos, pezinhos no chão que isto não significa nada». Ora, meu caro adepto a quem os constantes baldes de água fria vão congelando os sonhos, permita-me sentir-me feliz com o que vi ontem.

Vi erros, claro que vi, grande parte deles motivados por aquilo a que eu chamo «dores de crescimento». As mesmas que, durante dois anos (ou mais), valeram a Rui Patrício centenas de assobios e ainda mais olhares de desconfiança. É o peso da responsabilidade (e, atenção, não sei se não será maior a de salvar o clube de uma época histórica pela negativa do que a de o colocar na luta por títulos) sobre os ombros daqueles a quem deveria ser dado tempo e espaço para crescer. Mas não há – culpa de gestões vergonhosas, culpa de contratações manhosas, culpa de todos nós, adeptos pouco pacientes – e, a esse «é agora ou nunca», eles, os putos responderam de forma inequívoca. Há quanto tempo eu não via tal desinibição? Há quanto tempo não via uma equipa sem medo de ter a bola no pé? Há quanto tempo não via jogar ao primeiro toque? Há quanto tempo não via arriscar? Há quanto tempo não via simples «1-2-1» como o que esteve na origem no primeiro golo? Há quanto tempo não via um central a ir lá acima marcar um golo? Há quanto tempo, sim, há quanto tempo eu não via os jogadores do Sporting com fome de bola?

A recompensa foi uma vitória saborosa capaz, até, de recuperar aquela máxima de que a sorte se conquista. Imagino aqueles putos, no final do jogo, a sorrirem como loucos no balneário. Aquilo que se passou, ontem, é sonho que já foi meu (será que alguma vez deixará de sê-lo?). Que alivia o presente. E que faz acreditar no futuro.