Um dos mais antigos seguidores do Cacifo, o homem que promoveu uma inesquecível «caça ao Polga», passa para o papel virtual aquilo que é o nosso estado de alma.
O Paradoxo, by Placebo
Eis-nos nesta altura do campeonato, ainda a dar os passos logo a seguir aos primeiros, a deparar-nos com o seguinte facto: arriscamo-nos a tornar-nos, contra todas as expectativas, candidatos ao título!
E são várias as almas confusas, no nosso próprio Clube, perante isto, porque ninguém ou muito poucos o esperavam. E era em boa verdade muito improvável, mas escusamos de nos continuar a enganar: se ganharmos no Porto no Domingo, somos mesmo candidatos ao título, pelo menos até uma dada altura em que os resultados possam vir a contradizê-lo (como sucede com todos neste desporto, e desde sempre). Mas no imediato, e feitos os jogos com galinhas e braguilhas, seremos mesmo o melhor colocado candidato ao título.
O curioso é que perante tão inusitada surpresa nesta fase, muitos de nós parecemos esquizofrenicamente empenhados em negá-lo. “Somos mesmo candidatos ao título”? “Chiuuuuu”! Como se a mera invocação blasfema afastasse de nós as boas graças de uma qualquer entidade divina, que só nos protegerá se for na qualidade de coitadinhos bem convencidinhos dessa triste condição. Como se elevar a fasquia a esse nível aumentasse a exigência a esta Direcção, pondo em risco o cumprimento dos objectivos, e expondo-a à crítica pelo eventual insucesso (posta a fasquia, entenda-se, no nível mais alto).
Não concordo, mas compreendo. E compreendo porque isso a que estamos a assistir é um autêntico milagre!
Estamos perante uma conjunção de competência e de sorte que raras vezes se tem o privilégio de viver. Mas é bem contemporâneo, e bem real, caros leões, está a acontecer enquanto falamos aqui, aconteceu contra o Alba perante 20.000, aconteceu em Braga, enfim, tem vindo a acontecer de há uns meses para cá. E não é estúpido desejar que continue a acontecer, não sendo preciso confundir ambição pelo que parecia (era?) impossível, com delírio e precipitação perante alguns resultados esporádicos (e exibições condizentes). Não é preciso confundir felicidade pelo momento actual com arrogância e irracionalidade com um futuro necessariamente incerto. Porque não é igual, e se há coisa que qualquer bom sportinguista tem obrigação de diferenciar bem, são essas distintas situações.
Por isso assuma-se de uma vez por toda, pelo menos a nível do “microcosmos” Cacifeiro, que sim, seremos candidatos se vencermos no Porto! Seremos os maiores sempre, mas seremos mesmo candidatos ao título e a uma festa no Marquês se vencermos. Orgulhosamente e esperançosamente. Com alegria pelo momento, já sabendo que sem desnecessárias ilusões que só levam a escusadas desilusões, até porque a bola é redonda, e há várias coisas que ainda por cima neste país a tornam particularmente escorregadia. Mas admitamos a felicidade, porque ESTE momento que vivemos é nosso, e estamos a fazer por merecê-lo, com estes atletas, estes treinadores e estes dirigentes.
E para os que justificadamente receiam que este elevar de fasquia (ou assumir de fasquia) pode prejudicar esta inacreditável Direcção, apenas posso dizer para não se preocuparem. O milagre já aconteceu, e continua a acontecer. E sem intervenção divina, mas sim de gestores (finalmente!) dignos do nome deste Clube, e maior elogio não lhes saberei fazer. A partir daqui, só temos que aproveitar este momento histórico. Mas para isso há que, em primeiro lugar, reconhecê-lo, e deixarmos de estar tão preocupados em negá-lo pelos mais variados motivos, a começar pelo medo de sermos afinal tão grandes como sempre soubemos que éramos.
Obrigado Sporting!
Saudações Leoninas