O cão e o Leão

Há quem diga que o futebol vive de emoções. Há quem defenda que vive de números. Há quem considere que o importante é o momento. Há quem se socorra da história. No fundo, o futebol é a soma de cada um de nós e temos que aprender a conviver com a opinião e estado de espírito alheios. Mas nesta convivência, há algo que nos une para lá do gostar de futebol: o gosto, a paixão, o amor por um mesmo clube. Por um mesmo ideal. Por um mesmo símbolo.

Ora o que que aconteceu ao Sporting, num passado recente, foi, precisamente, o colocar em causa deste clube, deste símbolo, desta paixão, deste amor. Não sei se o caminho seria mesmo o recomeçar. Mas sei que tudo foi posto em causa: a história, o ideal, o símbolo, a grandeza, a personalidade. O ser Sporting foi colocado em cheque. Aquele era, cada vez menos, o clube que há mais de um século tem vindo a juntar gerações. Aquele tinha passado a ser o clube onde tudo podia ser justificado com o facto da bola bater na barra e sair ou bater na barra e entrar. Estávamos na mão dos gestores, fãs do www.casinoonline.pt/slots, onde se empenhava todo e qualquer bem para poder apostar sem rumo (mas com muito norte).

Perante uma situação limite, valeu-nos o amor pelo Sporting. Foi esse amor que conduziu a um «basta», rugido de forma clara. Passaram seis meses sobre essa «revoleão» e, hoje, o nome Sporting voltou a ser respeitado. Claro que as vitórias ajudam, claro que os golos fazem sorrir, mas o que se destaca neste regresso é a mensagem clara de que existe um rumo. De que existem pessoas a trabalhar todas num mesmo sentido. De que os adeptos percebem esse trabalho e se juntam à enorme tarefa de recuperar a identidade perdida. É por isso que se fala em onda verde. É por isso que se fala em alma leonina. É por isso que adversários flatulentos se mostram incomodados e adeptos do maior rival até já falam numa aproximação (onde é que eu já ouvi isto?). É por isso que, na ausência de motivos de facto, alguns jornais seleccionados promovem a guerrilha na tentativa de minar o trabalho visível a todos.

Mas esse mesmo trabalho está longe de estar feito. A nossa identidade foi tão espezinhada que há quem continue a duvidar. Afinal, e agora que a questão deixou de resumir-se ao bater na barra (o Sporting tem, à quinta jornada, mais de um terço dos golos da época passada, tem o melhor ataque da prova, o melhor marcador e a melhor defesa), há adeptos que resolveram passar a questionar toda e qualquer acção da direcção. Sentam-se algures num camarote leonino e numa bancada nascente e já não querem saber se a bola entra ou se a bola sai. Aliás, a bola passou a ser secundária. E, quase aposto, devem ter sido esses adeptos que, há menos de uma semana, me incomodaram, profundamente, com os assobios à equipa. Abomino hipocrisias, e que outro termo posso usar para apelidar em diz que devemos apostar na nossa formação e que, ao primeiro jogo menos conseguido, parte para o assobio, mostrando que, afinal, até deseja que a bola entre menos vezes para poder continuar a sua luta (inglória, diria) no sentido de recuperar os tempos de escuridão em que estávamos mergulhados?

Para essa pessoas, de assobio fácil, as mesmas que durante os anos mais recentes o faziam para o lado, gostava de deixar uma nota. Quando pensarem em assobiar, olhem para o símbolo do Sporting. Sim, eu sei que, há poucos meses, esse símbolo podia confundir-se com um cão grande, obediente, ou com um qualquer Leão de circo que se confinava a uma existência de entretenimento num circo de pouca categoria. Olhem bem. Não é um cão; é um Leão! Rampante. E não vão ser umas centenas de assobios que vão voltar a fazê-lo esquecer-se que nasceu para ser rei desta selva.

Isto não é forma de iniciar uma parceria

Diz que a CMtv vai poder transmitir os aquecimentos do benfica, a escolha de campo e os primeiro cinco minutos de cada jogo, na luz. Muito bem, isso explica o nojo de capa que foi publicada ontem, na versão papel do CM. Mas cheira-me que a parceria vai dar merda se começam a lixar o orelhas de forma tão descarada, obrigando-o ao ridículo de afirmar «não…não… não… não são estas imagens [nota: não era isto que tínhamos combinado]… se quiserem passar isto assim, se quiserem passar desta natureza, encantado da vida, eu não vou comentá-las [nota: se isto continua assim, vais filmar mas é o caray!]».

 

Era obrigar toda a gente a ver isto antes de ir dormir

Fico com um nó na garganta ao ver a forma como um italiano, que por cá passou um ano, soube entender o Sporting, encarnar o Sporting, viver o Sporting, amar o Sporting! Mais do que palavras, o momento em que ele veste a verde e branca ao filho é um arrepio no coração.
SPOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTING!

 

 

 

Verdes Anos: A primeira de ouro veio ao pescoço de um Leão

Tinha sete anos e jamais me esqueci. Enquanto tentava perceber o porquê de estar a decorrer uma corrida num horário completamente diferente do nosso, tentava, também, perceber o estado de espírito dos adultos. Uma televisão ligada, uma mesa com comida e bebidas, duas mãos cheias de adultos impacientes, vendo outros adultos a correr. Carlos Lopes, Carlos Lopes, Carlos Lopes. O nome ia-se repetindo e os meus olhos decoravam aquela figura magra que não parava de correr. Disseram-me que era Portugal que ali corria. «O teu país, o nosso país». «E o Sporting?», perguntei eu. Alguém me disse, meio de raspão, que aquilo não era futebol, mas que o Carlos Lopes era do Sporting.
Depois vieram brindes e sorrisos. Adultos felizes, partilhando comigo uma alegria que eu sorvia ao ritmo de um Capri-Sonne. Portugal. Sporting. Sporting. Portugal. Carlos Lopes. O hino! O hino! Adultos ainda mais felizes, alguns de lágrimas no olhos. Adormeci tarde, mas acordei cedo. E numa manhã daqueles agostos que eram parte de férias de três meses, corri para a rua sem a bola debaixo do braço.