Schaars e o copo meio cheio

Há quem se tenha indignado bastante com as palavras de Schaars. Eu não comungo dessa indignação e passo a explicar porquê.
Primeiro, o holandês afirma que saiu de Alvalade com as contas todas em dia, o que sublinha a dignidade de quem gere o nosso clube.
Segundo, Schaars afirma «Tinha um bom contrato, mas estava relutante em ficar lá apenas pelo dinheiro. Este ano iríamos lutar pelo 5.º ou 6.º lugar e eu não era capaz de jogar por esse objectivo no Sporting. É um clube demasiado grande para ter um papel secundário».

Para mim, esta é uma excelente frase. Enfia um barrete no chulos, sublinha a grandeza do Sporting (Schaars teve a capacidade de percebê-la) e ainda serve de motivação aos que cá estão (5º ou 6º lugar?!? eu já te dou o cimento!).
Bora lá, caralho!

Coisas que me ultrapassam

Não consigo entender a suposta inclusão de Santiago Arias, na ida de Schaars para o PSV.
Também não consigo entender que os dois, não valham mais do que três milhões de euros (isso valeria Schaars. Será que ainda estamos a compensá-los por causa de Labyad?).
E, já agora, também não percebo como é que se deixa sair um puto cheio de potencial, que tinha oportunidade de lutar pela titularidade na equipa principal, para deixar Cédric como única opção para a direita da defesa.

Espírito e personalidade

«Ainda tenho 18 anos, preciso de tempo de adaptação, ganhar experiência, tranquilidade e trabalhar todos os dias. Estou muito feliz por ter vindo para Lisboa e estou cada vez mais adaptado». As palavras são de Diego Rubio, jogador que praticamente não tem tido oportunidade de jogar, e reforçam o espírito de equipa que, a cada semana, é transmitido aos adeptos. É inegável que as vitórias promovem o bom ambiente, mas não é menos verdade que mesmo no mau arranque de época as vozes que se ouviam iam no sentido de fortalecer o grupo.
Outro bom exemplo é Bojinov que, a cada intervenção, nunca deixa de colocar o grupo em primeiro lugar, pese a azia que lhe deve dar não ser titular. E, ainda no Domingo, vimos Wolfswinkel ser homenageado e não perder a oportunidade para reforçar a crença na conquista de títulos, a alegria por ter escolhido o Sporting e a vontade de continuar de Leão ao peito.

E a propósito de homenagens, não deixa de ser significativo a forma como Capel, Schaars e Wolfswinkel têm sido recordados nos seus anteriores clubes. Excelente profissionalismo, qualidade acima da média e personalidade são, quanto a mim, a justificação para essas homenagens e fazem-me acreditar que a política de contratações levou em linha de conta algo que ia fazendo falta pelas bandas de Alvalade.

Unhas encravadas

Elias e Matías são compatíveis?
Domingos tem gerido com mestria os vários estados de alma do balneário. Basta recuar ao último jogo e recordar a entrega da braçadeira a Daniel Carriço, numa forma de motivar ainda mais um jogador que vinha de marcar no regresso à titularidade. E, a bem dessa gestão, Matías, motivado pelo bom jogo na Liga Europa, manteve a titularidade nos jogos da Liga, ocupando o lado direito do meio-campo a meias com Elias e com João Pereira. Ganhámos, é verdade, mas parece-me que ficamos sempre a perder. Matías será compatível com Elias num meio-campo onde ambos joguem no centro, mas a equipa e o próprio jogador ficam a perder quando o chileno é encostado à linha direita. O que Capel faz à esquerda, alguém terá que fazer à direita. Carrillo ou Jeffrén, com Pereirinha à espreita, são donos do lugar e ponto final.

Jeffrén
O cabrão do 7 voltou a afzer das suas pelas bandas de Alvalade. Agora que parecíamos estar a renovar o brilho dessa camisola através da recuperação de Bojinov, somos surpreendidos pelo calvário do número 17. E surpreendidos será um tanto ou quanto subjectivo, pois ao que parece os problemas musculares não são de agora. Estou-me a cagar se o rapaz precisa de acompanhamento psicológico, se tem uma formação muscular de atleta de velocidade, se isto se aquilo. Sei que o departamento médico não ficou lá muito bem na fotografia e que a equipa está a ser prejudicada pela ausência de um talento inegável. Há que resolver esta questão o mais depressa possível e, tanto por nós como por um jogador muito acima da média com apenas 23 anos, quando Jeffren voltar a jogar é para fazê-lo várias semanas seguidas.

Rodriguez
Mais um jogador com um historial de lesões que explica o porquê de passar mais tempo de fora do que a jogar. Domingos confia nele, por isso o trouxe de Braga, e é um jogador que, para além da experiência e de ser dos quatro centrais o mais talhado para jogar à esquerda, nos torna mais fortes no jogo aéreo. A novela das idas à selecção, onde as lesões parecem desaparecer por obra e graça dos espíritos de Machu Picchu, só servem para que os adeptos o olhem de lado e, cada vez mais, se questione a necessidade de, em Janeiro, trazer outro central (para mim isto nem se questionava. Era trazer um que pegasse de estaca ao lado do Onyewu).

Rinaudo
É vergonhosa a perseguição de que está a ser alvo. Os dois últimos amarelos só são aceitáveis à luz de uma campanha que visa deixá-lo de fora do derby, e deixam Domingos com uma dúvida por resolver: colocá-lo, ou não , frente ao Leiria? Eu confesso que o deixava de fora e até era capaz de experimentar colocar Elias ou Schaars a trinco, recuperando Matías para o meio. É que a teoria de que, vendo um amarelo, pode forçar o segundo e ser expulso (cumprindo o castigo contra o Braga, para a Taça) é muito bonita se pensarmos que vamos ter um jogo que permita ficarmos com menos um de propósito. Para além de que, à partida, será mais complicado receber o Braga do que o Leiria.

Capitão sem braçadeira

Não serei o único a achar que Schaars tem todas as condições para, num futuro próximo, vir a tornar-se capitão de equipa do Sporting. No fundo, um pouco à imagem de Stan Valckx, um dos meus jogadores preferidos de sempre com a camisola verde e branca. Ora, depois de ler a entrevista que Schaars dá, hoje, ao Jogo, fico totalmente convencido de estarmos perante um capitão, sem medo de falar e fazendo-o com critério. Use ou não use braçadeira. Ficam as passagens que mais gostei.

«Sei as minhas funções e sei que a equipa me aprecia como jogador, é uma boa relação e ligação […] Há cinco ou seis posições consolidadas, a minha é uma delas. Pode ser que as coisas mudem no futuro, mas se acontecer, não vou dizer ao treinador que está errado; tenho é de provar que está errado. Temos de provar que merecemos ser titulares»

«Desde pequeno que sou sempre capitão, em todas as categorias, também quando fui campeão em Portugal pelos sub-21 da Holanda. Também no AZ Alkmaar era capitão. Não digo que seja um líder, mas sou aquele que orienta as coisas para os outros, faço que as coisas aconteçam e resolvo tudo. É natural, não forço nada ou tento mostrar o que não sou. Sou assim. Não me sinto líder. Agora, nem é tão fácil, porque ainda não domino bem a língua. Quando acontece alguma coisa, tens de reagir depressa e eu não sei dizer tudo; digo “hey”, mas “hey” é o quê? Vejo situações que vão acontecer, se vejo jogadores fora da posição, se vejo que algum tem de estar uns metros para o lado grito para corrigir. Se se movimentarem, já não acontece o que eu previa. É essa a minha maior virtude: vejo coisas antes de elas acontecerem. Se calhar, é por isso que falam da minha liderança.»

«Agora sim, estou adaptado. No início era difícil, às vezes aos 70′ de jogo já estava sem ar e tinha de ir com calma. Mas agora já vou com vinte e tal jogos, com os da pré-temporada, já estou completamente adaptado»

«Não estou sempre a dar nas vistas, a marcar golos, mas sou como aquilo que se põe entre os tijolos numa construção; sou uma espécie de cimento, é assim que vejo o meu papel numa equipa»

«Desde o primeiro dia que ele insiste no trabalho e acredita nele. E no final vê-se que tinha razão. Não se pode comprar tantos jogadores e ser logo uma grande equipa.»

(Capel é um fenómeno?) «Não. Acho que ele é um bom jogador, tal como outros o são, mas… ainda não é um Messi [risos]. Ainda agora, com o Gil Vicente marcou dois golos de cabeça, mas o segundo, por exemplo, até a minha avó marcava [risos]. Mas, por exemplo, o Carrillo entrou e em apenas 15 minutos esteve em três golos… Tudo depende da perspectiva. Ele é um dos jogadores do plantel que estão realmente confiantes, é um jogador que precisa disso, porque quando a equipa jogar mal, então é que quero ver se ele é capaz de passar por três adversários. Quando a equipa está confiante, toda a gente joga bem e ele aposta no um contra um e consegue levar a melhor. É um bom jogador, não há dúvida, nós precisamos dele, mas ele também precisa da equipa.»

«O Sporting não é clube de ser segundo ou terceiro; temos de ser campeões. Mas estamos ainda no início. Damos mais e mais para mostrar carácter a nós próprios e vamos continuar. Todos esperam os grandes jogos, mas se não ganharmos os jogos pequenos, nunca seremos campeões.»

«Não somos imbatíveis; ainda não. Ainda não somos suficientemente bons para isso […] Agora somos fortes e um adversário duro de defrontar. E ainda só jogamos juntos há dois meses. Não jogamos juntos há três anos, isto é só o princípio»

«Eu não vim para ficar em terceiro; vim para encurtar a diferença para Benfica e FC Porto e tentar ainda mais – ser campeão»

«Somos o Sporting e temos de mostrar aos adversários que somos um grande clube. Se formos fortes de início, todos os jogadores da equipa se sentem desde logo envolvidos. Temos de agir em vez de reagir, esse é o caminho»

Ponto de situação

Ainda não tinha tido oportunidade de despedir-me, condignamente, de Hélder Postiga e de Yannick Djaló. Nem de, fechado o mercado, comentar a forma como a dupla Freitas/Duque abordou o mesmo. Vamos por partes.

Não pude deixar de achar cómica, a reação de alguns Sportinguistas à saída de Postiga e de Djaló, lamentando a sua venda e considerando que perdemos dois bons jogadores.
De Postiga, só tenho a dizer o seguinte: marcou 12 golos em quatro épocas, uma média miserável. Aliás, contabilizando o número de minutos jogados, consegue ter uma média pior do que Purovic, do que Rodrigo Bonifácio Tiuí e do que… Koke. Estou-me completamente a cagar para o facto do gajo se julgar a “Paula Rego das quatro linhas”. Quero golos. Ele é avançado e não os marca (e ainda impede os colegas de fazê-lo). Põe-te nas putas que já vais tarde!
Quanto a Yannick, teve mais do que oportunidades para provar que era jogador para o Sporting. Como avançado, consegue disfarçar as suas deficiências técnicas com alguns golos, mas podemos ter num plantel um jogador que, em dez bolas, domina duas à primeira? Que como extremo não sabe ir à linha e cruzar? Ou partir para cima do adversário e fazer a diferença num 1×1? Não, não é jogador para o Sporting e não vamos tratá-lo como coitadinho só porque é oriundo da nossa formação. Nem vamos fazer dele um menino bem comportado, quando várias vezes o vimos não festejar golos porque estava amuado por terem gozado com o seu novo penteado. Ah, e muito menos vamos manter um jogador que nos dá motivos para aplaudir duas ou três vezes por época, só porque o gajo ainda vai parar ao Porto e ai ai ai (por favor, não me falem no Varela. Se os tripas não tivessem sido campeões o gajo já tinha sido apelidado de merdoso que, por época, passa dois ou três meses lesionado).

Quanto ao mercado, e depois de ter-se conseguido um treinador com competência, existiam várias lacunas no plantel a resolver:
– um concorrente para João Pereira
– defesas centrais que permitissem colocar um ponto final no calvário dos lances pelo ar
– um lateral esquerdo
– médios centro de qualidade
– extremos
– avançados que substituíssem Liedson (porra que ainda ontem vi o homem marcar dois ao Flamengo)

Para concorrer com João Pereira avançou-se para João Gonçalves, entretanto emprestado ao Olhanense. Ficou Pereirinha, que para mim apenas tem hipótese de jogar neste posição, e chegou Arias, que muito boas indicações deixou no mundial de sub-20. Creio que temos o problema resolvido.
No centro da defesa, um dos maiores problemas, optou-se por manter Anderson Polga e Carriço (que, por muito que me custe dizê-lo, já me pareceu bem melhor). Foi-se buscar Rodriguez, ao Braga, e chegou o gigante Onyewu, que de muito bom, contra a Juventus, passou a grande merda, contra o Valência. Bipolaridades à parte, para mim não tem muito que saber: é Rodriguez, à esquerda, e Onyewu, à direita. Não será uma dupla de sonho, pois não, mas ganhamos, força, ganhamos altura e, aposto, deixamos de sofrer golos patéticos. E, porra, duvido que não seja dupla para nos fazer lutar por títulos. Agora, é preciso é que consigam jogar juntos três ou quatro vezes para ganharem entrosamento.
Ainda na defesa, agora do lado esquerdo, penso que está mais do que visto que Evaldo é mediano. Pouco ataca e defende assim assim. Tem dias, no fundo. Mas como o Sporting precisa de alguém que tenha meses em vez de dias, foi-se buscar Insua. E era preciso o Grimi pegar-lhe a gripe para o homem não vir a transformar-se no nosso titular.

A meio-campo, onde sobravam André Santos, Matias e Izmailov da época passada, chegaram Rinaudo, Schaars, Luis Aguiar e Elias. Prefiro nem me alongar muito em comentários, deixando apenas a seguinte pergunta: olhando para estes sete gajos, e mesmo acreditando que possamos sentir a falta de um gajo que limpe tudo o que sejam bolas pelo ar, há quantos anos não tínhamos um meio-campo com esta qualidade e estas opções?  Inácio, por exemplo, foi campeão com uma rodela central onde cabiam Duscher, Vidigal, Bino, Toñito e Delfim. Temos piores opções? E o Sr. Boloni, pese o poder de fogo ao seu dispôr, tinha como médios centro Paulo Bento, Vidigal, Custódio, Bruno Caires, Diogo, Hugo Viana e o Afonso “nem pensem que me vou embora até terminar o meu contrato” Martins. Temos piores opções?

Já cheirava mal não termos extremos, não cheirava? O odor mudou radicalmente com a chegada de Capel, Jeffren e Carrillo. Há extremos, pois há, e de qualidade. Até o puto peruano, que parece ter vindo numa de estagiar durante a primeira época, mostra a cada pormenor ter imenso futebol naqueles pés.

Por último, havia que resolver um problema que se deixou arrastar: a dependência de Liedson. É inacreditável como se foi deixando passar os anos sem se antecipar a saída ou diminuição de rendimento do Levezinho. Pensar que Postiga podia ser o seu substituto não foi um acto de fé, antes de acefalia, que nos deixou entregues a um ataque sem golos. Chegaram, entretanto, Wolfswinkel, Rubio e Bojinov. Já nem discutindo qualidades e características, patético será algum deles fazer pior do que o dito artista. E dizer que qualquer um deles não presta, parece-me desonesto.

Posto isto, e muito resumidamente, há matéria prima para o Sporting estar, efectivamente, de volta. Que assim nos ajude a ausência de lesões e que, depois de ter andando a colocar jogadores a titulares para poder vendê-los, que seja capaz Domingos de se deixar de invenções parvas e de confirmar que o que de bom fez até hoje, enquanto treinador, não foi obra do acaso. A prova de fogo está marcada para amanhã, naquele que tem tudo para poder ser o primeiro jogo do resto da nossa época.

 

 

 

A la Domingos

Enquanto esperamos a apresentação de um grande nome, somos surpreendidos com a chegada de Stijn Schaars e com um negócio que aplaudo de pé por diversas razões:
– porque me transmite finalmente a ideia de que estamos a moldar uma equipa à imagem de Domingos. Creio que Schaars, mesmo não ocupando a mesma posição, poderá ser no Sporting o que Vandinho era no Braga, uma referência, a continuidade do treinador em campo, um pêndulo. E encaixa perfeitamente num 4-3-3 ou num 4-2-3-1;
– porque conseguimos um jogador que entra directamente para os melhores do nosso campeonato, por 850 mil euros. E que estava a caminho do PSV;
– porque, e a confirmar-se a vinda de Rinaudo, começamos a ter um meio-campo a sério, onde também entra André Santos e, se dependesse de mim, entraria Pedro Mendes. Ficariam a faltar dois jogadores (e aqui não estou a pensar em Matigol, que jogaria sempre solto);
– porque conseguimos, com um ano de atraso, suprir a saida de Moutinho (até porque nem experimentámos entregar a Adrien esse papel, preferindo ir buscar o grande sportinguista Maniche);
– porque, assim, fico quase com a certeza de que o grande sportinguista vai ser posto nas putas